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5.15.2011

Cães mimados pelo dono

A dura vida dos cães ricos e indisciplinados, fonte de um mercado também rico e inquieto

Mimados por donos poderosos e inseguros, eles podem tudo - inclusive render processos judiciais e atrapalhar carreiras

New York Times
Cães ricos se esbaldam no luxo, mas sofrem por não serem tratados como cachorros - NYT (620) Cães ricos se esbaldam no luxo, mas sofrem por não serem tratados como cachorros (NYT)
Desde que o seu buldogue mordeu um fox terrier no elevador, há alguns meses, Liz Weston foi forçada pelo conselho do condomínio a usar o elevador de serviço do prédio onde mora, em Manhattan. Liz pediu desculpas, pagou a conta de 600 dólares do veterinário e enviou um bilhete ao vizinho, perguntando como estava a recuperação da cauda do pequeno terrier. Como resposta, recebeu uma carta do advogado do conselho, exigindo a sua mudança. Liz se sentiu injustiçada e processou o condomínio. “Todos nós vivemos no mesmo prédio em apartamentos fechados”, diz ela, cujo cão, Theo, tem registro de permissão para visitar hospitais como animal de terapia. “E cães são cães.” Pode até ser, mas isso não significa que eles podem mostrar o que são, principalmente nos altos escalões da sociedade americana, controlados e monitorados com zelo e terror.

A briga dos cães não é um incidente isolado. Cães de caça e caninos mimados têm todo tipo de habitat nos dias de hoje: os edifícios com portaria, as casas fechadas de Los Angeles ou os gramados estilizados de Hamptons. E, assim como seus donos “engomados”, eles podem ser alvo de processos judiciais e de má publicidade. Cães maus são peças de contra-propaganda, diz Carl Paladino, cujo pitbull atacou outro cão no passeio em campanha para o governador de Nova York, no ano passado. Eles também podem arruinar negociações para a compra de imóveis, latindo e atacando os potenciais compradores, e inclusive carreiras.

Samantha Ronson, a famosa DJ e ex-namorada de Lindsay Lohan, ficou aterrorizada no ano passado quando a imprensa soube que seu buldogue, Cadillac, havia atacado e matado um pequeno maltês no prédio em que mora, em West Hollywood. Durante o New York Fashion Week em fevereiro, Thakoon Panichgul teve de recorrer ao Twitter para negar que seu pequeno yorkshire, chamado Stevie Nicks, atacou os estagiários do evento. E quando Elizabeth Taylor faleceu em abril, os obituários fizeram uma alegre menção de seus companheiros caninos, especialmente aquele que tratava o chão dos amigos dela como hidrantes de rua.

Fora de casa, os cães também se espalham. Você pode encontrá-los em bancos, aulas de ioga e festas de casamento. Eles invadiram até mesmo as butiques de luxo. Nos escritórios de Manhattan da Marchesa, a delicada linha de vestidos de gala de Georgina Chapman e Keren Craig, há cães famosos por suas lutas selvagens. “Às vezes, é engraçado, mas algumas brigas são muito violentas”, diz Edward Chapman, presidente da empresa, cujo yorkshire terrier, Lottie, é geralmente o investigador.

A dura vida dos cães ricos – Os cães estão adquirindo um senso deliberado de direito de seus donos? Sim, diz David Reinecker, adestrador de Beverly Hills, cujos clientes incluem Maria Shriver, agora ex de Arnold Schwarzenegger, Kirk Douglas e Teri Garr. “Os membros da elite são personalidades extremas”, diz ele. “Alguns chegam a suas casas depois de um dia no escritório controlando um exército de pessoas amedrontadas e depois deixam seus cães controlar suas vidas. Os ricos e poderosos podem ser muito inseguros.”

Essa pode ser a explicação para Trouble, o maltês que pertenceu à bilionária Leona Helmsley. Ele era conhecido por atacar os empregados irritados. “Leona queria que todos gostassem dela, mas sabia que ninguém gostava”, disse uma empregada para o jornal The Daily News em 2007, quando se soube que o cão havia herdado 12 milhões de dólares. “O cão substituiu o amor que não veio.” O que pode explicar por que ambos eram tão neuróticos.

No entanto, a vida de caninos mimados pode ser mais difícil do que parece. Os condomínios esnobes têm regras de etiqueta sobre latidos e interações entre cães em lobbies e elevadores. Alguns prédios exigem até mesmo que os cães sejam carregados em elevadores e lobbies. Além disso, um segundo ou terceiro lar em Hamptons ou Sun Valley, Idaho, pode ser confuso para cães mais velhos que não gostam de aprender novos truques, como encontrar o local para urinar em uma nova mansão ou não atacar os estranhos que arrumam os seus lares.

Uma casa com muitos empregados também pode tornar a obediência confusa. Os eventos e badulaques gerados pela mesma fonte de dinheiro são outro problema, capaz de endoidar os cachorros. Em coquetéis, canapés são uma tentação, assim como casacos de pele drapeados sobre sofás e sapatos caros que parecem brinquedos. Há mulheres que usam cães como cobertores e os levam para eventos de luxo a tiracolo. Tinkerbell, de Paris Hilton, era conhecido por seus latidos e mordidas. “Cães pequenos sentem o medo de seus donos em relação a estranhos e paparazzi, então, latem e atacam essas pessoas”, diz Reinecker, adestrador que descobriu que há um mercado em alta para cães malvados atualmente.

Neurose, uma oportunidade de negócio – Segundo Reinecker, os donos não educam seus cães. Em vez disso, gastam dinheiro com eles esperando que um especialista resolva o problema. “Os ricos são menos práticos”, diz Pat McGregor, fundadora do Vancouver Dog Training em Nova York, que afirma ter trabalhado com cães de temperamento difícil de Bette Midler, Robert De Niro e Blaine Trump. “Você não pode culpar um animal por não se comportar como uma pessoa. Mas, assim como nós, os cães têm seus problemas porque não são perfeitos”.

Nenhum lar, por mais imponente que seja, está imune. Isso inclui a Casa Branca. O pitbull de Theodore Roosevelt era conhecido por rasgar as calças de um embaixador francês. E, embora Bo, o cão d’água português da família Obama, não tenha registro de incidentes até o momento, o canil de cães presidenciais recentes tinha Buddy, o labrador de Clinton que atacava gatos, e Barney, o Scottish Terrier de George e Laura Bush, que mordeu um jornalista.

Tamanho também não conta. Cães pequenos, os preferidos dos ricos, são os que mais causam problemas. Uma pesquisa realizada em 2010 pela Secretaria de Saúde de Nova York revela que houve no ano 3.609 casos relatados de incidentes com mordidas de cachorro, a maioria envolvendo shih-tzus, chihuahuas e poodles miniatura.
A raça, especialmente no caso de alguns cães puros de comportamento explosivo, parece fazer diferença, como o escritor Martin Kihn aprendeu a duras penas. Ele adotou uma cadela gigante da raça Bernese, que por vezes é chamada de “o pequeno urso da Suíça”. A cadela “era símbolo de status e mais difícil de obter de criadores do que entrar para a Universidade de Yale”, diz Kihn. Mas ela, cujo nome era Hola, parecia uma infernal causadora de problemas. “Certa vez, enquanto estávamos no Lincoln Center, Hola abordou uma executiva em traje impecável e deixou a marca de duas das suas grandes patas em seu belo vestido branco. Foi a última vez que a levei à ópera”, diz Kihn, cuja nova biografia, Bad Dog: a Love Story (Cão Malvado: uma História de Amor, em tradução livre), oferece um conto irônico sobre reabilitação canina – outra forma de tirar dinheiro da tragédia dos cães raivosos. “Eu só a levei comigo porque queria ser visto com ela”
Veja.

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