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5.17.2011

A importância de aprender a ouvir.

  
A gente não agüenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor...
Sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer.
Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração...
E precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor.
Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil de nossa arrogância e vaidade.
No fundo, somos os mais bonitos...

Em uma reunião ou em qualquer grupo de pessoas, é comum cometermos o erro de ficarmos pensando tão fixamente no que iremos falar que nos esquecemos de ouvir atentamente o que o outro está dizendo. Essa atitude demonstra que estamos colocando o nosso ego em evidência. Se nos colocarmos a favor do foco ou do tema da reunião, primeiramente deveremos ouvir atentamente o que o outro tem a dizer, procurando refletir sobre a contribuição dele com o assunto-foco e, no momento oportuno, de forma sensata, contribuir com nossa opinião.
(...)
Para bem ouvir, temos também que saber bem perguntar. Podemos perguntar de duas formas - "Posso fumar quando estou rezando?" ou "Posso rezar quando estou fumando?" - a um líder religioso se é permitido fumar e rezar ao mesmo tempo.
A probabilidade de a resposta ser positiva está muito mais evidente na segunda pergunta. Não basta perguntar, é preciso saber "como" perguntar.
As perguntas que geram mais reflexão e iniciativa são "O quê?" e "Como?". Outras perguntas também são importantes são: "Quem?"; "Onde?"; "Quando?"; "O que mais?"; "O que você quer?"; "O que isso vai te trazer?"; "Como você poderia fazer isso?". Acrescente também a colocação: "Me diga mais...".
Para não parecer um interrogatório, as perguntas precisam ser entremeadas com simpática e produtiva conversa.

“Um dia Chuang-tzu e um amigo estavam caminhando pela beira de um rio.
— Como deliciosamente vivem os peixes na água, exclamou Chuang-tzu.
— Você não é peixe, disse o amigo. Como pode saber se os peixes vivem deliciosamente na água ou não?
— Você não é eu! Como pode saber que não sei, se os peixes vivem deliciosamente na água ou não?, respondeu Chuang-tzu.

Certa vez meu amigo Manolo me ensinou: “As pessoas precisam aprender a ouvir mais e a falar menos! Por isso nascem com uma única boca e dois ouvidos.”

Impressiono-me com o nível a que as pessoas descem simplesmente para progredir. Algumas não dão a menor importância para o que representam para as pessoas, os seus próprios insucessos. Não se importam, tampouco, com o que as pessoas possam perder numa negociação. Agem sem escrúpulos até em relação a amigos e conhecidos. Muitas vezes, “amigos” desse tipo farão qualquer coisa para obterem vantagens. Isso pode trazer até algum benefício aparente, mas não será duradouro. Essa vantagem ilusória não compensa, pois somente um mundo de pessoas felizes fará mais pessoas felizes. Agindo dessa forma muitas pessoas cometem o erro de pensar que a falta de ética é uma habilidade comercial. Discordo totalmente dessa afirmação. O mundo está pronto para viver a inteligência espiritual, o respeito pela ética, a alegria pela alegria de todos.

Você deve estar pensando onde quero chegar falando sobre ética em um capítulo que fala sobre comunicação. Acontece que o egoísmo e o “se achar” melhor que os outros, tão presentes nas relações de desrespeito, fazem com que as pessoas desconsiderem inclusive o que os outros têm a dizer, como se o mundo se resumisse às suas vontades realizadas. Quem não escuta os outros, restringe seu mundo, torna-se inseguro, diminui suas possibilidades e não sabe o que é comunicação. Veja que este tipo de pessoa não procura estar atenta ao que o outro tem a dizer porque não acredita existir qualquer coisa de útil na fala alheia. Mas como saber se aquilo que pensamos sem importância nos dispensa de ouvir os outros? Agindo dessa forma, a pessoa não prestigia seu interlocutor.

Saber ouvir é a garantia de abordagens mais profundas, pois não ficamos apenas no isolamento de nosso ser “se achante”. Pessoa do tipo “eu sou a boa”, mesmo que não fale que é, mesmo que nem traga para o consciente que “se acha”, se sente assim. Se não quer ouvir é porque não sente que possa aprender com o outro, nem que possa colaborar com o outro.

Penso que aprender a se comunicar se trate de um dos dons mais importantes que as pessoas podem desenvolver para terem sucesso pessoal e profissional nos novos tempos. E é claro que a comunicação é um caminho de duas vias: você tem que se fazer entendido, mas também tem que entender. Caso possa encontrar o caminho mais fácil para você através do seu autocontentar, acabará perdendo os conhecimentos e as experiências que a sua falta de humildade lhe impede receber.

Nesse contexto, o grande problema é que, de tanto não ouvir, o não ouvir se torna um hábito e a pessoa acaba se tornando dispersiva e, às vezes, até incapaz de aprender ouvindo. Não podemos esquecer algo que é de extrema importância: quanto melhores os meios de comunicação à distância, piores se tornam as comunicações entre as pessoas. Elas já não precisam se encontrar em um mesmo ambiente para interagirem, porque a maioria das comunicações é feita por telefone, e-mails, etc. Como conseqüência natural as pessoas passam a estabelecer uma forma de comunicação fria e impessoal. Elas perdem a prática e acabam perdendo a sensibilidade de perceberem como o outro funciona, como se farão melhor entendidas, como passarão a sua mensagem e até como conseguirão o que querem.

Podemos, como em tudo na vida, melhorar nossa capacidade de comunicação, mas é preciso aplicar estratégias para organizar a caminhada, permitindo aprimorar nossa capacidade de ouvir. Vejamos, então, algumas delas:
1. Reconheça e considere os pensamentos e sentimentos dos outros.
2. Habitue-se a perceber o que os outros querem realmente dizer. Saber escutar nos ajuda a desenvolver a capacidade de perceber as intenções e as necessidades das outras pessoas. Considere também que nem sempre as palavras ditas representam a verdadeira intenção das pessoas.
3. Repita, em pensamento, o que ouviu. Com isso você se recoloca no agora e deixa claro para si mesmo o que foi dito pela outra pessoa.
4. Para manter-se atento à conversa é útil pensar no que vai responder.
5. Habitue-se a perguntar. Isso mostra interesse. Quem quer saber, escuta! Isso torna você parte ativa na conversa, levando a um diálogo saudável, permitindo que você tenha uma participação positiva na conversação. Esse comportamento de interesse no diálogo pode ser demonstrado através da linguagem corporal com um aceno de cabeça, por exemplo. Você demonstra que está participando do diálogo. Com esse posicionamento você também encoraja a outra pessoa a prosseguir no assunto. As interações positivas de quem ouve ajudam a formar um quadro completo sobre a lógica e os sentimentos em jogo na conversação. Naturalmente melhora nosso relacionamento quando as pessoas percebem que nos tornamos melhores ouvintes, pois depositam mais confiança em nós.
6. Seja humilde quando perguntar e haverá maior troca de informações.
7. Habitue-se a sorrir e a desenvolver o bom-humor, melhorando sua auto-estima e deixando mais à vontade quem conversa com você.
8. Não formule implicações e não tire conclusões precipitadas a respeito do que está ouvindo.

Como forma de preparação procure se visualizar em uma conversa. Você consegue prestar atenção na conversa de pessoas com as quais não tem nada em comum? Consegue ser bom ouvinte para diferentes assuntos? Se você conhece aquilo que o distrai pode atingir uma elevação na arte de saber ouvir. Portanto, procure se convencer de que estar no agora é uma das habilidades mais poderosas que você pode desenvolver. Uma mente dispersiva é inimiga do ouvinte.

Tenho encontrado, em algumas pessoas, uma tendência à chatice. Penso que um tipo de chato é aquele que sempre tem uma opinião sobre tudo e acha que deve expressá-la. Ele acredita que o outro não é capaz de dizer tudo o que é necessário e que a sua contribuição para o assunto ou para resolver o problema é fundamental e indispensável. Ele não quer ouvir; só quer falar. Justamente por isso o chato acaba desenvolvendo certamente algum “grau de surdez” ou déficit de atenção. É preciso exercitar a arte de ouvir. Quem não ouve não cresce, não recebe mais conhecimentos, fica apenas com a bagagem que já possui.

Os colegas de trabalho, os familiares e os amigos não querem super-homens ou semideuses que saibam tudo o tempo todo. Todos admiram aquele que tem a habilidade para facilitar a conversação e buscar soluções continuamente, com o objetivo de realmente colaborar com o conjunto e não de ser a “estrela do espetáculo”. Por tudo isso, em qualquer relação de envolvimento e diálogo, saber ouvir é fundamental. E, concluindo com as palavras de meu amigo Manolo: “Quem fala e não ouve é egoísta. E só sabe falar quem sabe ouvir".
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