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5.05.2011

"Medicina do desejo"

Pílula agora vai enfrentar concorrência de chicletes e pastilhas. Foto: Arquivo  O chiclete está se tornando a guloseima preferida dos homens mexicanos e em breve dos de outros países. O motivo é a chegada ao México da goma de mascar que melhora a ereção, o Viagra Jet, do mesmo laboratório da pílula azul original. E não é a única novidade. Uma pastilha que se dissolve na língua é o novo lançamento da indústria contra impotência sexual, mercado que só cresce com a chegada dos genéricos e ganha clientes nas classes C e D. É a chamada "medicina do desejo", que atrai os homens que não querem pensar que estão sendo medicados. Mas especialistas afirmam que esse tipo de atitude está levando à banalização do tratamento.
Os sabores do Viagra mastigável (da Pfizer) e da pastilha que se dissolve em segundos na boca (da Bayer, e já vendida em nove países europeus como Levitra ODT, e Staxyn, nos EUA) podem não ser dos mais agradáveis. Porém é mais uma tentativa dos grandes laboratórios de se manterem no mercado depois das quebras de patentes, medida que barateou as pílulas. No ano passado a Eli Lilly, líder desse comércio com o Cialis, - o comprimido que promete boa performance sexual por 36 horas, ou um fim de semana - lançou a fórmula de uso diário. A ideia é que o homem não precise mais se programar para ter uma boa ereção.
Quando a pílula azul foi lançada há 13 anos, havia poucas opções para melhorar a ereção: ou se aplicavam injeções no pênis de substâncias vasodilatadoras ou se fazia o implante de próteses. As expectativas dos homens eram, então, menores. Hoje o mercado de drogas contra impotência ultrapassa os US$ 5 bilhões ao ano, como mostra reportagem do "The New York Times".
No Brasil, de acordo com a IMS Health, o número de comprimidos de Viagra vendidos em 2010 foi de 7,4 milhões de pílulas. Mesmo com o vencimento da patente, o número representa um crescimento de 6,7% em vendas, quando comparado a 2009. Por enquanto, a Pfizer não decidiu quando os brasileiros terão o chiclete de Viagra.
- A ideia da indústria não é buscar fórmulas mais eficazes, mas sim encontrar alternativas que ajudem a contornar constrangimentos, mitos, tabus e preconceitos quando se pensa em usar as drogas orais para manter a ereção - diz a psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex) da USP.
Numa pesquisa com 612 homens de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte sobre o tema, ela observou que os usuários de drogas para disfunção erétil são geralmente homens com idade entre 40 e 45 anos, a maioria casados ou vivendo acompanhados; quase sempre com parceiras de idade inferior a 40 anos. E 12% entre 60 e 70 anos tomam esse tipo de remédio:
- Quase 13 anos depois do lançamento do Viagra os homens ainda têm dificuldade em assumir e admitir dificuldades sexuais. Porém, mais do que se preocuparem em ter novas opções de pílulas, como a goma de mascar, para disfarçar o uso de uma droga que melhora a performance sexual, eles precisam entender o que indica a falha ou dificuldade de ereção - diz.
Riscos com a automedicaçãoA dificuldade de ereção está associada à depressão, ansiedade, ou a doenças cardiovasculares, da próstata, diabetes, entre outras.
- Agora precisamos saber o que acontecerá depois do barateamento das drogas contra disfunção erétil. O que vai mudar no comportamento masculino. É importante que saibam que pílulas não curam a impotência; apenas aliviam o sintoma - reforça Carmita.
A psicóloga e sexóloga Carla Cecarello, coordenadora do Projeto Ambsex, alerta que os consumidores das pílulas contra disfunção erétil que insistem na automedicação ignoram os efeitos adversos:
- Os laboratórios não querem perder mercado. E os homens, inseguros diante de mulheres que cobram e esperam performance sexual de qualidade do parceiro, recorrem às fórmulas por conta própria. E isto é um risco à saúde.
De olho nesse mercado, a indústria investe em pílulas que mais parecem guloseimas do que medicamentos. É uma forma de fazer tudo parecer trivial. E nada melhor do que testá-las no México, o primeiro lugar em consumo de Viagra no mundo: US$ 55 milhões ao ano.
- Um novo produto, mais barato e com nova opção de uso é tudo para convencer mais pessoas a experimentá-lo - diz Joseph Alukal, diretor de saúde reprodutiva na Universidade Nova York.

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