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5.26.2011

MULHER

A mulher precisou. Sair para trabalhar, criar, pintar e bordar, além de cozinhar. Ter o filho que queria, sem vir junto o penduricalho que o inocula. A mulher quis ser ouvida com sua linguagem e visão particular, mostrar sua cara ao mundo. Cara que fica na cabeça, que pensa, antes de ser bonita ou feia. Sem essa de Marte e Vênus. Somos todos terráqueos. Apenas alguns bem mais atrasados que outros, que ainda jogam pedra, mutilam clitóris, e impõem véus e suplícios. Como os muitos brasileiros que ainda subjugam meninas-crianças, que matam e envenenam, que roubam a estima e a confiança das que encontram pelo caminho, e agora na internet.
Somos diferentes, sim. Não há dúvida. Nem melhores ou piores. Diferentes, de uma diferença que deve ser aproveitada, expandida, comemorada. Vemos as cores e a vida de forma diversa e mais rica. A força que não temos pode aparecer do nada quando precisamos, mais ainda se for para defender o que e quem for nosso. Ainda não tomamos Viagra ou similares. Uma música, um toque, uma poesia, nos eleva, de graça. Sofremos, choramos, batemos os pés, mexemos as mãos e jogamos os cabelos como só nós sabemos. Que nos desculpem os travestis e etc, mas igual, igual que nem, não dá para ser. Nem com a operação de corte e “embutimento”.
Nosso andar é rebolado, nosso pescoço mais fino, nosso cheiro é atraente, nossas roupas, sapatos e bolsas mais legais. Uma calcinha, por mais barata que seja, é mais legal do que uma cueca. Nossa voz pode ser fina. Mas sabe engrossar. Nossas mãos podem ter calos, mas as unhas estarão pintadas. E, mesmo que curtas, podem fazer um estrago. Do nosso peito sai leite. Vertemos sangue. Somos a vida. Mas a violência ainda nos oprime.
* Marli Gonçalves, São Paulo-SP, é jornalista.

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