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6.15.2011

Mulher de Fibra: Cissa Guimarães

Cissa Guimarães não pretende ser exemplo de nada. O que deseja é depurar a mais terrível das agonias que viveu, com a morte do filho. E quer alimentar o gosto pela vida, a esperança de encontrar o amor de um homem, o direito à leveza, ao trabalho e às tardes lindas numa praia vazia

Dalila Magarian
Não existe desespero maior do que perder um filho para a morte. A atriz Beatriz Gentil Pinheiro Guimarães, 54 anos, como o país inteiro sabe, ficou sem seu caçula, Rafael, em 20 de julho do ano passado, covardemente atropelado num túnel em que andava de skate. Quase ao mesmo tempo, surgia no final daquele túnel um tipo de clarão, talvez o único capaz de livrar um ser humano da destruição: o imensurável amor pela vida. Foi isso que, duas semanas depois, levou Cissa, surpreendentemente de pé, de volta ao palco, com o espetáculo Doidas e Santas, sua primeira produção teatral. Hoje, ela se define como “uma mãe mutilada” que não desistiu da própria essência. “Tenho uma sede enorme de vida e a bebo em grandes goles. Arrancaram um dos meus sustentáculos e vou sangrar sempre, mas me agarro àquela luz clara. Meu compromisso não é com a tristeza”, diz. Ela tem a alegria impregnada no DNA. Houve um tempo em que se incomodava com o rótulo de contente. Na época em que apresentava o programa VideoShow, da Rede Globo (de 1986 a 2001), sua empolgação chegou a suscitar críticas de quem a considerava, assim, alto-astral além da conta. Agora não se importa mais com sussurros de disse-me-disse. Também não quer ser um exemplo de superação para mães que passaram por tragédia igual à sua. “Nas sessões de terapia do luto, vi que não existe um jeito certo ou errado de lidar com a dor; cada um vive a perda como bem entende.” A atriz crê que Rafael virou um anjo de luz ao fazer o que chama de “passagem”. Na sala do seu apartamento, no bairro da Gávea, no Rio de Janeiro, montou um pequeno altar com imagens sagradas, flores e uma foto do filho querido. Diante do santuário, faz a Oração ao Anjo da Guarda sempre que sente saudade. “Acredito em outras dimensões da nossa existência. Meu filho continua comigo, me ajudando em tudo que eu faço. Foi ele quem me empurrou para o palco.”
Cissa Guimarães não pretende ser exemplo de nada. O que deseja é depurar a mais terrível das agonias que viveu, com a morte do filho. E quer alimentar o gosto pela vida, a esperança de encontrar o amor de um homem, o direito à leveza, ao trabalho e às tardes lindas numa praia vazia
Dalila Magarian

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