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7.24.2011

Ataque aos fios

Escova de aminoácido é ineficaz e sua fórmula esconde substâncias perigosas que podem até causar canceres
Como fazer um alisamento seguro, sem usar formol e outras substâncias nocivas à saúde/ Foto: Camilla Maia - Agência O Globo
RIO - Uma nova moda de alisar os cabelos, a escova de carbocisteína lembra à de formol, inclusive nos efeitos e perigos. Com a falsa promessa de alisar os fios, reduzir sensivelmente o volume, hidratar e dar brilho, ela pode causar sérios danos à saúde, alertam dermatologistas e a Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa). Primeiro é impossível alisar com cisteína; um aminoácido. E o mais grave; em vez desta substância, esteticistas aplicam um primo menos conhecido do formol: o glutaraldeído, vulgo glutaral, que também causa ardência nos olhos, queimação e danifica os cabelos, e aumenta o risco de câncer.
O formol e o glutaral (da família aldeídos) alteram o DNA, elevando o risco de leucemia, tumores de sistemas respiratório e nervoso central, falhas de memória, dificuldade de movimentos e infertilidade, alerta Maria Fernanda Gavazzoni, professora da pós-graduação em dermatologia do Instituto Professor Azulay na Santa Casa de Misericórdia do Rio e da diretoria da Sociedade Brasileira de Dermatologia. Ela afirma que a escova de carbocisteína é um engodo.
Isso porque os cabelos são constituídos de proteína: a queratina, que contém a cisteína; que deixa os fios enrolados. Portanto, escova de carbocisteína é só uma isca, diz. Esta substância pode servir, por exemplo, para farmacêuticos fazerem droga expectorante; nunca para alisar.
- A carbocisteína está em xarope de criança. Cabeleireiros pegaram este nome emprestado e inventaram uma escova que não existe - avisa Fernanda. - O que se vê é o glutaral, usado em hospitais como microbicida e até em baias de cavalos.
Ou seja, o glutaral age igual ao formol; não atua na queratina e, portanto, não é um alisante. Apenas impermeabiliza o cabelo alisado através do secador, impedindo que ele volte a absorver a umidade.
- Só que o cabelo fica danificado, quebradiço - diz.
Tratamento requer cuidado semanal
É difícil saber o que o cabeleireiro está aplicando; nem todos os produtos ardem nos olhos ou têm mau cheiro. Uma dica é olhar o frasco. Em vez de dose única, como a maioria das substâncias aprovadas, o glutaral vem em recipientes grandes. Com um frasco, que custa cerca de R$ 700, é possível fazer 20 escovas, a R$ 300.
Como fazer um alisamento seguro, sem usar formol e outras substâncias nocivas à saúde/ Foto: Camilla Maia - Agência O Globo
Outros ditos "alisantes" que não existem é hidróxido de amônio e queratina líquida, alerta Fernanda. Os aprovados pela Anvisa são ácido tioglicólico, hidróxidos de sódio; de lítio, guanidina e cálcio. Ela chama a atenção para um detalhe: clientes com cabelo clareado artificialmente devem evitar alisar, mesmo com os produtos aprovados, porque fios descoloridos se quebram ainda mais:
- Tentar ficar loura e de cabelo liso só estraga os fios.
Dudu Meckelburg, do HBD SPA, também alerta para o risco de alisar cabelo com produtos de procedência duvidosa.
- Evite fórmulas receita de bolo, usadas na mesma dose para todos. A dosagem deve ser individual - afirma Dudu, que sugere tioglicolato de amônia, que permite dosagem precisa, efeito natural; porém é necessária manutenção semanal, que inclui hidratação.
Uma dica depois de alisar, para quem não pode ir ao salão com frequência, é aplicar o vinagre de maçã, ensina.
- Use duas colheres de sopa num copo com água e aplique a mistura, deixando por cinco a dez minutos. Isto ajuda a neutralizar a química do alisamento. Não fique penteando os fios em vários sentidos e faça a reposição de proteína semanalmente. Há várias máscaras.

Anvisa alerta para riscos de produtos para alisar cabelo

Apesar de o glutaral não ter sua comercialização proibida como o formol (resolução 36, de 17 de junho de 2009) em farmácias, supermercados e empórios, por se tratar de um artigo de uso mais industrial, a Anvisa informa que a substância tem riscos e também não pode ser usada como alisante, diz a farmacêutica Érica França, da área de cosméticos do órgão.

Ardência, lacrimejamento, falta de ar, tosse, dor de cabeça, coceira no nariz, devido ao contato direto com a pele ou com vapor; irritação, coceira, queimadura, inchaço, descamação e vermelhidão do couro cabeludo; queda de fios são alguns dos efeitos de alisamentos com produtos não registrados na Anvisa.
Se a pessoa insiste em alisantes proibidos, pode ainda sentir a boca amarga, dores de barriga, enjoos, vômitos; ter desmaios, feridas na boca, na narina e nos olhos. E corre o risco de câncer de nariz, faringe, laringe, traqueia e brônquios, diz o órgão.
Segundo a Anvisa, a legislação sanitária só permite o uso de formol e glutaral em cosméticos capilares apenas como conservantes (com limite máximo de 0,2% e 0,1%, respectivamente), e exclusivamente na fabricação do produto. Portanto, a adição de um alisante pronto para uso é uma infração e o autor está sujeito às sanções cíveis e penais. E a adulteração configura um crime hediondo.
- Com relação à carbocisteína, é uma proteína e tem o mesmo apelo da queratina. No máximo vai fortalecer e dar brilho aos fios. Já o glutaral aplicado como alisante capilar é perigoso, e pode estar ocorrendo desvio de seu uso - afirma Érica. - O consumido deve estar atento, observar se o alisante é registrado como tal. Se desconfiar, não deve fazer o alisamento.
É bom prestar atenção. O registro da Anvisa para alisantes começa com o algarismo 2 e sempre tem de 9 a 13 dígitos, como, por exemplo: 2.3456.9409 ou 2.3456.9409-0001. Ele geralmente é precedido pelas siglas Reg. MS ou Reg. Anvisa. E os artigos com a inscrição 343/05 não são indicados para alisamento capilar. Outras dúvidas sobre cosméticos podem ser esclarecidas em www.anvisa.gov.br ou por email: cosméticos@anvisa.gov.br.
 O Globo

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