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8.19.2011

Células-tronco podem consertar um coração partido?

Não se trata de um bálsamo para “remendar” seu coração se você rompeu um namoro ou terminou um casamento, apesar de algumas pessoas acreditarem que  as células-tronco(CT) vão curar todos os males que nos afligem. Infelizmente, elas são bem mais limitadas. Uma das grandes apostas das CT é o seu papel na medicina regenerativa, isto é, a substituição de tecidos danificados por novas células capazes de se diferenciar no tecido a ser reparado. No caso de doenças genéticas não é possível usar as CT da própria pessoa, ou células autólogas, porque todas elas possuem o mesmo defeito. As pesquisas do nosso e de outros centros de estudo no mundo estão se dedicando a identificar quais são as melhores fontes de CT – tais como tecido adiposo, cordão umbilical, polpa dentária (entre outros) – de pessoas saudáveis, a serem injetadas de acordo com o tecido a ser regenerado. Mas no caso de lesões por acidentes ou doenças degenerativas complexas – como problemas cardíacos ou derrame – os pesquisadores tentam usar as próprias CT do indivíduo para regenerar o tecido do órgão danificado. Esse processo – denominado transplante autólogo ou auto-transplante tem a vantagem de não causar rejeição. Agora, uma nova pesquisa  em camundongos acaba de demonstrar que é possível ativar as próprias células-tronco cardíacas e recuperar as funções de um coração “partido”.
Células cardíacas são destruídas durante um infarto
Há muito se sabe que as células-cardíacas ou cardiomiócitos, destruídas durante um infarto do miocárdio não conseguem regenerar-se. Se quisermos restaurar o tecido de um coração enfartado temos que substituir esses cardiomiócitos por novos. Entretanto uma nova pesquisa realizada por cientistas britânicos, publicada na revista Nature desse mês, mostrou que uma proteína natural – denominada timosina b4 (Tb4)  pode ativar as próprias  células-tronco cardíacas do camundongo de modo que elas formem novos cardiomiócitos. O líder da pesquisa, Dr. Riley já havia demonstrado que essa proteína – encontrada em vários tecidos – pode induzir células já diferenciadas a se tornarem pluripotentes estimulando a formação de novos vasos sanguíneos e assim promover uma melhor irrigação da área afetada após lesão cardíaca.
Mas seria possível formar novas células cardíacas?
É o que mostra essa nova pesquisa. Esse mesmo grupo de pesquisadores haviam reportado anteriormente que as células-tronco embrionárias que expressam o gene Wt1 diferenciam-se em células cardíacas. Entretanto esse gene é “silenciado” em adultos. A questão é se seria possível “acordar” esse gene “adormecido”.  Para testar isso, os cientistas injetaram Tb4 diariamente nos camundongos, durante uma semana. Em seguida anestesiaram os animais e mimetizaram um ataque cardíaco. Verificaram então que  dois dias depois, as células estavam expressando Wt1 – o gene que controla a formação de cardiomiócitos. Essas células  no início estavam na parte externa do coração, mas após duas semanas  elas tinham se dirigido ao sítio da injúria. Tinham também alterado sua morfologia e adquirido o aspecto de cardiomiócitos.
Como isso ocorre?
Os pesquisadores ainda não sabem exatamente como a proteína Tb4  consegue ativar os genes das células-tronco cardíacas de modo que elas se diferenciem em  novos cardiomiócitos. Provavelmente trata-se de um efeito epigenético – alteração na expressão de um gene sem modificar a sequência de DNA. Também não sabemos ainda se o mesmo efeito ocorre em corações humanos. Novas pesquisas e ensaios clínicos serão necessárias para tirar isso a limpo. Outra dúvida é se o Tb4 é mais efetivo antes ou depois de uma injúria cardíaca.  De qualquer modo, graças a pesquisas com células-tronco embrionárias e adultas podemos estar próximos de uma droga muito importante  para regenerar o tecido cardíaco. E o que é mais irônico: sem transplante de células-tronco.
Por Mayana Zatz

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