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9.20.2011

Brasileiros não recebem tratamento cardíaco adequado

Coração

Conclusão é do primeiro mapeamento nacional sobre o tratamento cardiovascular, realizado pela Sociedade Brasileira de Cardiologia

Aretha Yarak, de Porto Alegre
Homem coração Atendimento a pacientes com problemas cardíacos ainda apresenta diversos problemas no Brasil (Foto: Adam Gault)
A pesquisa aponta discrepância entre as regiões do país. Norte, Nordeste e Centro-Oeste registraram 7,8% de mortes no total de atendimento a pacientes com problemas no coração, enquanto Sul e Sudeste, 3,2%
Menos da metade dos pacientes que dão entrada em centros médicos devido a problemas cardiovasculares recebe prescrição para todos os medicamentos recomendados – o que poderia evitar um novo infarto. O dado alarmante foi revelado pelo primeiro registro cardiovascular já feito no Brasil. De autoria da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), o levantamento mapeou tratamentos, atendimentos e o cumprimento de diretrizes em centros médicos no Brasil.
Divulgada no 66º Congresso Brasileiro de Cardiologia, em Porto Alegre, que termina nesta segunda-feira, a pesquisa aponta ainda uma discrepância significativa entre as regiões do país. Norte, Nordeste e Centro-Oeste registraram 7,8% de mortes no total de atendimento a pacientes com problemas no coração, enquanto Sul e Sudeste, 3,2%. De acordo com Jorge Ilha Guimarães, presidente da SBC, o levantamento mostra que as diretrizes estabelecidas pela sociedade não são seguidas. "Em alguns casos, isso acontece porque a estrutura não permite que o médico cumpra as diretrizes; em outros, porque ele não as conhece ou não foi treinado para segui-las", diz.
As diretrizes – procedimentos que servem de modelo para o atendimento – são o norte da prática de um cardiologista. Desvios no cumprimento das normas podem significar mau atendimento ou mesmo a morte de pacientes. Segundo o levantamento, isso acontece pela falta de investimento financeiro e humano em saúde. Enquanto algumas regiões detêm não só os maiores investimentos, mas também os profissionais mais qualificados, outras precisam lidar com a precariedade da saúde pública local.
"Há uma elite na cardiologia, que é reconhecida internacionalmente. Mas, infelizmente, há também a base da pirâmide, e esse levantamento mostra isso", diz Guimarães. Com os dados, a SBC pretende agora dar início a cursos de capacitação profissional, em parceria com 65 centros espalhados pelo Brasil. “Há um projeto para o treinamento de 70.000 funcionários do governo envolvidos no atendimento cardiovascular”, diz.
Infartos – Entre os procedimentos analisados no levantamento, está a reperfusão coronária, feita para desobstruir as artérias após um infarto. Na região Sul, os índices de realização do método chegam a 85,3%, enquanto no Nordeste, que detém a menor taxa, é de 61,2%. "Os procedimentos após um infarto são essenciais para que não aconteça uma segunda ou terceira vez", diz Guimarães.
A prescrição de betabloqueadores e inibidores da IECA (um medicamento para o controle da hipertensão) também se mostrou inferior ao recomendado. Como esses remédios podem ser usados para o tratamento e para evitar a recorrência de novos infartos, a baixa indicação é motivo de preocupação. Mas há ainda pontos positivos, como a prescrição elevada de estatinas na admissão, uma droga de referência no controle dos níveis de colesterol – um fator de risco ao infarto.
Dados – O levantamento da SBC analisou dados de 2.498 pacientes, divididos em 45 centros espalhados em todas as regiões do país – a prevalência, no entanto, foi no Sudeste, com 59,3% das amostras. O estudo foi feito em centros que atendiam apenas pacientes do Sistema Único de Saúde (28%), saúde suplementar (40,8%) ou a ambos (31,2%). Dos hospitais analisados, 59% atendiam o SUS.
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