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9.07.2011

Drogas usadas contra obesidade oferecem riscos, mas médicos admitem usá-las


RIO - Como combater a epidemia de obesidade que se alastra pelo Brasil? Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 49,6% da população estão acima do peso e 13,9% obesos. E a situação tende a piorar, em todas as faixas. Entre os cinco pratos preferidos dos brasileiros, estão lasanha, pizza e macarrão, em vez da nutritiva dupla arroz e feijão, como mostrou pesquisa do Comitê de Oxford de Combate à Fome. Ainda segundo o IBGE, 82% dos brasileiros abusam de gordura saturada e 61% de açúcar. E 90% não comem a quantia diária (400g) de frutas, legumes e verduras. Qual a solução? Apelar para medicamentos? Os médicos estão longe do consenso.
Mesmo depois que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) adiou seu veredicto sobre os inibidores de apetite , os médicos discutem se vale a pena receitá-los.
Como a sibutramina age no organismo
ENTREVISTA:Pesquisador diz que médicos receitam sibutramina porque temem perder clientes
Educação nutricional e prática de exercícios são os pilares para emagrecer sem perigo, segundo Rosana Radominski, presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica. Mas o problema é que só 40% dos obesos têm bons resultados com essa proposta. A maioria precisa de remédios.
- Elas desistem de emagrecer porque não conseguem mudar hábitos por longo tempo. Ou porque sentem muita fome, ou as expectativas de resultados são maiores do que os tratamentos oferecem - diz. - Drogas para emagrecer ajudam, mas nenhuma é segura. Há riscos e benefícios. Mas qualquer medicamento que melhore os resultados do placebo chegando a 5% do peso pode ser considerado eficaz. A sibutramina faz mais do que isto. Só que os médicos que são favoráveis à retirada da sibutramina não interpretaram corretamente os estudos. A droga, quando necessária, melhora a adesão ao tratamento.
O endocrinologista Amelio Godoy-Matos lembra que todos os medicamentos têm efeitos adversos e que a associar fármacos é melhor do que indicar apenas dieta e exercícios:
- As drogas de obesidade para controle da obesidade não são as piores. Por exemplo, anticoncepcional oral aumenta em 250 vezes o risco de derrame. Anti-inflamatórios elevam em até três vezes o risco de infarto e a aspirina aumenta a chance de sangramento digestivo e no cérebro, diz o médico.
Por enquanto, os médicos contam com um arsenal de drogas para emagrecer, mas a Anvisa debate a proibição de "derivados anfetamínicos" (anfepramona, femproporex e mazindol) - ou seja, inibidores de apetite que afetam o sistema nervoso e coração, e causam dependência. A agência também avalia restringir receitas com sibutramina, o único inibidor que ainda encontra defensores entre os especialistas. Se todos os inibidores de apetite forem proibidos, sobram só as drogas à base de orlistat (como o Xenical), que impedem a absorção no organismo de até 30% de toda gordura ingerida.
- É difícil emagrecer, com ou sem remédio. Para se proteger, o organismo diminui a liberação de leptina, hormônio que inibe a fome e aumenta o gasto de energia. Por isto, para perder 5% do peso é preciso reduzir em 10% o consumo metabólico. Há mais de 250 genes associados à obesidade e a maioria atua na dinâmica que regula a saciedade e a fome - diz Amelio - O ideal é perder de 4kg a 5kg no primeiro mês e, depois, algo em torno de 2kg a 3kg. Emagrecimento rápido causa perda de massa magra, sobretudo músculos, e isso faz mal.
Sem sibutramina, os médicos dizem que crescerá o mercado clandestino de substâncias ditas "milagrosas" para emagrecer, incluindo suplementos dietéticos e drogas sem indicação para tratar obesidade, como topiramato (anticonvulsivante, também receitado para distúrbios do comportamento e enxaqueca, e que reduz a fome) e bupropiona (antidepressivo). E há quem recorra a suplementos dietéticos, muitos com substâncias nocivas, como efedrina, que afeta coração e pulmão. Há relatos de consumidores com doenças nos rins e no fígado. Amelio Godoy cita estudo no "British Journal of Clinical Pharmacology", com 66 casos de intoxicação por suplementos e registros de morte.
- Sem drogas legais, a Anvisa não terá como deter esse comércio - afirma o médico.
Rosana diz que a dietilpropiona e o femproporex são derivados distantes da anfetamina; e o mazindol
não chega nem a ser primo distante da anfetamina.
- Se receitados corretamente, esses medicamentos são eficazes e seguros - afirma Rosana, mencionando que já ocorre uso indevido com o Liraglutide, droga injetável lançada exclusivamente para tratar diabetes tipo 2, mas que estimula a saciedade. Da mesma classe tem o exenatide.
Enquanto a Anvisa não decide, o melhor é investir em exercício e dieta com orientação de especialistas. Até porque a maioria dos emagrecedores tem sido rejeitada pela Food and Drugs Administration (a FDA, agência de controle de drogas e medicamentos nos EUA). Uma promessa é a combinação de topiramato (um medicamento anticonvulsivante, também utilizado para tratar distúrbios do comportamento, compulsões e enxaqueca) com fentermina (que parece reduzir os efeitos colaterais do topiramao). Outra droga associa naltrexona (controla alcoolismo) e bupropiona (antidepressivo e também com efeito na saciedade).
- A obesidade pode matar. É preciso fazer campanhas contra a obesidade e discutir com a indústria a redução dos teores de açúcar, sal e gordura nos alimentos. A luta é de toda a sociedade - diz Rosana.
O Globo
Nota "boaspraticasfarmaceuticas"
A Dra. Rosana esquece que o desvio de uso "off label" destes medicamentos é muito grande . A única forma de evitar MORTES é a proibição destas drogas.
A saúde pública vai agradecer.

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