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9.08.2011

Os conflitos fazem parte do aprendizado e crescimento dos humanos

A dor emocional é um alerta ou um sintoma de que algo não anda bem com seus sentimentos e emoções. Quando suas emoções não estão bem é importante procurar um profissional habilitado para que você possa resgatar o seu auto conhecimento e identificar onde estão suas dificuldades e limitações, podendo assim viver com mais saúde e qualidade de vida.





  • Síndrome do Pânico
Percebo que é cada vez mais comum surgir em meu consultório homens e mulheres queixando-se de algum tipo de temor. O sintoma pode se manifestar tanto sob forma da síndrome do pânico quanto de algum tipo específico de fobia. Em geral são pessoas com pouco contato com o seu mundo interno, vejo isso como uma característica da pós-modernidade. Esse contexto gera pessoas que não tem contato com suas emoções e querem alívio imediato para suas tensões. Indivíduos que se sentem acuados pelo medo, também costumam ter dificuldades para lidar com a ansiedade, e por isso buscam atendimentos imediatos em suas aflições e procuram, equivocadamente, ser preenchidas por algo fora delas mesmas. A inabilidade em assumir responsabilidade pela própria vida também pode estar presente. É cada vez mais comum os atendimentos em meu consultório de pessoas com medo de dirigir ou aparecer em público. Coincidentemente essas são ações fundamentais em nossa cultura, ou seja, talvez em outra época fosse tranqüilo ter uma postura mais reservada, com um comportamento mais recatado. Hoje em dia, quando sucesso é sinônimo de notoriedade e a cultura do Big Brother se instala confortavelmente em todas as instâncias da vida, qualquer rastro de timidez ou de introversão é mal visto, é quase como se não gostar de aparecer fosse uma arbitrariedade. Vivemos um momento de mudanças na cultura e nos laços sociais que desfavorecem as diferenças, por isso, os ideais são cada vez mais os mesmos. E quem não se integra torna-se mais visível e é apontado como diferente ou estranho. Quando o sentimento de inadequação deriva para sintomas do pânico ou fobias, a psicologia surge como um recurso usado para ajudar o sujeito a entrar em contato com suas genuínas emoções. O caminho que leva a estes sintomas é longo e pode ser identificado em meio ao processo de desenvolvimento. E este processo envolve a família como um todo, pais e filhos. E se os pais por algum motivo desenvolvem algum tipo de medo, angústia, ou mesmo dificuldade de assumir sua função paternal ou maternal, o processo de desenvolvimento pode ser prejudicado nos pais, e também ficará prejudicado nos filhos. E muitos deles, por não saber lidar com esse sentimento, tratam de negar a ansiedade. Impedem os filhos de aprender a conquistar, ao fazer tudo por eles, atendendo a todos os seus pedidos, não os deixando passar nenhum tipo de vontade, nem os deixando esperar pela satisfação de seus desejos. Como a criança não aprendeu a lidar com contrariedades, só consegue reagir com desamparo diante de qualquer conflito. Na vida adulta continuará achando que alguém vai sempre aparecer para solucionar os seus problemas. São essas pessoas que querem que o outro faça tudo do jeito dela, é claro que uma certa ansiedade emocional faz parte da vida, e o medo é importante para nos proteger. Por isso, todos nós temos que aprender a lidar com os sentimentos. Só o uso de medicamentos não resolve o problema, os remédios ajudam a amenizar o sintoma e a psicoterapia ajuda na causa do problema, por isso há uma necessidade de que médicos e psicólogos caminhem juntos no processo do seu paciente, e desenvolvam um trabalho multidisciplinar. Medos não são só sintomas ou uma patologia. Eles revelam dinâmicas muito profundas do ser humano. Alguns temores são bastante comuns, como o de barata. É como se, coletivamente, projetássemos em animais como a barata e o rato um lado negativo e sombrio do ser humano. É como se um medo coletivo fosse aceito pela sociedade. Tanto homens quanto mulheres são vítimas da síndrome do pânico. É comum encontrarmos homens que trabalham na mesma empresa que o pai e têm dificuldade em se afirmar. Para eles sofrer uma crise de pânico no congestionamento é bastante significativo. Afinal se o trânsito da vida encontra-se parado para aquele sujeito, deparar-se com um engarrafamento é um equivalente que torna concreta a sua dificuldade. Para as mulheres normalmente o pânico cumpre um papel de revelar o seu lado frágil. Na vida moderna, a fragilidade e a carência de proteção estão sufocadas, sem espaço para aparecer, a crise é uma forma ainda que patológica de fazê-las aflorar. Talvez a forma mais produtiva de abordar a questão seja pensar para que serve o medo e quais ganhos tenho sentindo este medo. Pensar na sua própria dificuldade e fazer alguns questionamentos pode ajudar o indivíduo a encontrar algumas respostas para a sua vida.

Só o Amor Basta?
Vamos pensar em um casal à procura de si mesmo, que está tentando, por um processo de ensaio e erro, formar-se, descobrir-se, para depois tornar ele mesmo. No mundo moderno, cada casal tem que criar seu jeito de amar, seu estilo de vida, seu “modelo”. Isso significa estabelecer uma relação de troca, dar e receber.
Em nosso país, vivemos cercados de tantas incertezas, de instabilidade econômica, de violência, que cada vez mais precisamos de um relacionamento primordial, que funcione como uma espécie de refúgio. Todos nós precisamos na vida de um porto seguro. Necessitamos de vínculos. Mas como se formam os vínculos?
As pessoas são únicas, não existe ninguém no mundo que tenha o mesmo visual, as mesmas características de personalidade, as mesmas experiências. Isso significa que o ser humano conta com uma infinidade de facetas. Cada uma delas funciona como elo, que torna possível uma conexão com o outro.
Até os anos 90, acreditava-se que esta conexão era indispensável para um relacionamento e que o amor e o sexo, essas duas formas de energia diferentes, eram extremamente poderosas, mas que nem sempre aparecem juntas. Então se imaginou que, juntando as duas forças, estaria construída a base das relações amorosas.
Mas a história do “eu te amo” então vamos nos casar acabou se transformando numa ameaça para os relacionamentos, para os casamentos. Isso acontece porque, depois que termina a fase do encantamento, um parceiro pode virar para o outro e dizer: “eu não te amo mais, então tchau”.
Ainda que a maioria se case por amor, num mundo tão conturbado como o nosso só o amor não basta. Como disse o escritor Albert Camus “Se o amor fosse o bastante, as coisas seriam simples demais”.
O “eu te amo” é um mantra antes do casamento. Mas, com o decorrer do tempo, descobrimos que só o amor não basta. No início, imagina-se o casamento como um lugar de trocas, de partilha, de intimidade e de crescimento. Um lugar de segurança e satisfação mútua.
O modelo de casamento tradicional era idealizado, simplista e isento de conflitos. No cinema, o amor nunca acabava; as revistas ofereciam muitas dicas para a satisfação total. Mas isso gerou desilusão. Aí as pessoas começaram a dizer: “desencantou”, as desilusões e as mágoas iam se acumulando.
Porque tantas expectativas não realizadas, tantas esperanças decepcionadas, tantos sofrimentos, tantas ingratidões? Em busca de respostas, as pessoas agem, mudam o comportamento e costumam se defender com a distância, o esquecimento, a distração, a traição.
Seja como for, em nossos dias, as expectativas depositadas no casamento ficaram maiores do que nunca, enquanto as esperanças de satisfação diminuíram. Por exemplo: é difícil aceitar que coisas ruins podem acontecer, e de fato acontecem, na vida em que duas pessoas, mesmo quando se amam, se machucam
A frustração dos relacionamentos não se deve necessariamente à escolha de parceiros errados, mas a expectativas e crenças erradas.
O amor é força poderosa, mas cada um precisa ter qualidades pessoais para sustentá-lo e fazê-lo crescer. Por isso descobrimos que quanto mais pontos da nossa personalidade se identificarem com o do outro, melhor, porque maior será a possibilidade de troca. Quanto maior for o reservatório de experiências partilhadas, maior também será nossa capacidade de amar e sermos amados.
Num mundo tão violento, tão tumultuado como o nosso, a amizade e o compromisso tornaram-se uma necessidade. E esses valores não depende de um documento passado em cartório. O verdadeiro compromisso vem de dentro. Um companheiro diz para o outro: “Eu prometo”, e a promessa é cumprida. Esse é o sentido básico do compromisso. Ele é portanto, a cola que une dois seres humanos. Sem isso, os vínculos não existiriam. Todos sabemos que o romance fala sobre amor, mas o compromisso que o leva à prova definitiva.

E por falar em AMOR...
Como uma pessoa que amava tanto pode odiar tanto em tempo tão curto?
Como um amigo de anos pode de repente querer o mal sem uma justificativa racionalmente compreensível? Casais vistos como “perfeitos” que viveram anos de amor, podem protagonizar separações selvagens como no filme a Guerra dos Roses? A separação verdadeira nunca ocorre com o ódio.
Para permitir que o outro crie asas e saia voando à procura da felicidade é preciso amar, e Rubem Alves fala muito bem sobre isso na sua Crônica “Até que a morte...”.
Do contrário, a separação dos corpos, física e espacial ou jurídica, é falsa ou parcial.
Só se libera o outro ou se é liberado com amor, perdão e compreensão.
Existem casais que alimentam seus casamentos com o ódio, e o dilema mais indigesto para mim não é compreender o amor, mas sim o ódio que é a pior das suas conseqüências.
Nossa caminhada é marcada por luz e sombra, perdas e ganhos, alegrias e frustrações, esperanças e depressões. Os conflitos fazem parte do aprendizado e crescimento dos humanos, pois ninguém pensa igual a ninguém o tempo todo, respeita-se os pensamentos do outro.
Tanto isso é verdade que a ética religiosa precisou inventar um diabo para conviver com o bondoso Deus. Nem o mais nobre dos sentimentos escapa dessas forças.
Partimos do amor ao ódio até chegar à gratidão, é um longo caminho marcado por vários sentimentos.
Pecisamos pensar no amor a nós mesmos a nossa imagem, a nossa vida, a nossa família. Construímos o amor aos amigos. Ao companheiro(a), ao trabalho e o amor pela própria vida.
Muitas pessoas não conseguem passar por esses amores nem amar a sua própria vida, não conseguem chegar a este destino tão grandioso, desembarcam antes. A maioria dos que não conseguem chegar a este destino estacionam na inveja, param nestes sentimentos focando-se nos outros e não em si. Por isso talvez haja tantos solitários e deprimidos tanta gente presa em relacionamentos mal resolvidos.
Homens sedutores que acumulam conquistas, mas incapazes de compartilhar sentimentos. Mulheres que confundem estética com beleza, escravas da própria imagem. E, uma porcentagem menor da humanidade chega à gratidão.
Pergunto-me o que temos feito nos últimos tempos? Estamos construindo uma sociedade artificial para nos defender da natureza humana? Mas qual é a nossa natureza? Precisamos tomar cuidado para não perdermos a nossa essência.
Pergunto-me qual é o motor que hoje movimenta a humanidade? Chego a uma resposta: AMOR e SEXO.
A busca obsessiva pelo conforto e a negação de um mínimo de conflito podem com os anos embotar o coração e a mente.
A educação é a nossa salvação para nós não virarmos soldadinhos da sociedade.
Há uma eficiência inspirada pelo amor que leva mais longe do que o limitado saber acadêmico.
No desenvolvimento amoroso, é mister ter dignidade para nos revoltar e brigar a briga certa.
Revoltas violentas são reações desprovidas de inteligência.
A briga certa nasce do auto conhecimento, do pensar e sentir, da coragem de enfrentar os fatos tal como se apresentam. De olhar com carinho aquilo que é diferente da gente e da conseqüente boa negociação. Só assim mantemos a inteligência alerta e podemos ouvir a intuição, baseada na justiça do amor pela vida e por todos que a cercam.
Com um amor maduro, que conduz à gratidão, recuperaremos a força e a cidadania.

Por Alessandra Dias Ricci Manganaro
Psicóloga CRP:06/51381
Terapeuta de Casais e Família
Terapia Sexual

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