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9.15.2011

PAULO COELHO - MENSAGENS

O ateu e o leão



Um ateu passeia por uma floresta na África, admirando tudo o que aquele “acidente da evolução” havia criado.
“Mas que árvores majestosas! Que poderosos rios! Que belos animais! E tudo isso aconteceu por acaso, sem nenhuma interferência de ninguém! Só mesmo as pessoas fracas e ignorantes, por medo de não conseguirem explicar suas próprias vidas e o universo, têm necessidade de atribuir a uma entidade superior toda esta maravilha!”
Houve um ruído nos arbustos atrás de si; um leão prepara-se para atacá-lo. Tenta fugir, mas o animal o derruba. Sem mais nada a perder, ele grita:
“Meu Deus!”
E um milagre acontece: o tempo pára, o ambiente é tomado por uma luz estranha, e escuta-se uma voz:
“O que desejas? Negaste a minha existência durante todos estes anos, ensinaste a outros que Eu não existia, e reduziste a Criação a um ‘acidente cósmico’”
Confuso, o homem exclama:
“Seria hipócrita de minha parte mudar de ideia só porque estou preste a morrer. Durante toda a minha vida, ensinei que Tu não existias”.
“Então, que esperas que eu faça?”
O ateu refletiu um pouco, sabendo que aquela discussão não poderia durar para sempre. Finalmente diz:
“Eu não posso mudar, mas o leão pode. Portanto, peço ao Senhor que transforme este animal selvagem, assassino, em um animal cristão!”
Na mesma hora, a luz desapareceu, os pássaros na floresta voltaram a cantar, o rio tornou a correr.
O leão sai de cima do homem, faz uma pausa, abaixa a cabeça, e diz compenetrado:
“Senhor, quero agradecer Sua generosidade, por este alimento que agora vou comer…”

A importância de saber observar



Quem quer aprender magia, deve começar olhando a sua volta. Tudo que Deus quis dizer ao homem, colocou bem na frente dele – basta prestar atenção; isto  é chamado de “tradição do sol”.
Todos nós possuímos a mesma capacidade de entendimento – mas precisamos acreditar nas revelações que o dia-a-dia nos traz.
A “tradição do sol” é democrática – não foi feita para os estudiosos ou puros, mas para as pessoas comuns.
O poder está em todas as pequenas coisas que fazem parte do caminho de um homem; o mundo é uma sala de aula, o amor supremo sabe que você está vivo, e vai lhe ensinar.
Em algum canto, num lugar que você talvez não tenha reparado até este momento, está a resposta que você queria, o milagre que você precisava. Para que este milagre aconteça, basta prestar atenção.

O lago e Narciso



Quase todo mundo conhece a história original (grega) sobre Narciso: um belo rapaz que, todos os dias, ia contemplar seu rosto num lago. Era tão fascinado por si mesmo que, certa manhã, quando procurava admirar-se mais de perto, caiu na água e terminou morrendo afogado. No lugar onde caiu, nasceu uma flor, que passamos a chamar de Narciso.
O escritor Oscar Wilde, porém, tem uma maneira diferente de terminar esta história.
Ele diz que, quando Narciso morreu, vieram as Oreiades – deusas do bosque – e viram que a água doce do lago havia se transformado em lágrimas salgadas.
“Por que você chora?”, perguntaram as Oreiades.
“Choro por Narciso”.
“Ah, não nos espanta que você chore por Narciso”, continuaram elas. “Afinal de contas, todas nós sempre corremos atrás dele pelo bosque, você era o único que tinha a oportunidade de contemplar de perto sua beleza”.
“Mas Narciso era belo?”, quis saber o lago.
“Quem melhor do que você poderia saber?”, responderam, surpresas, as Oreiades. “Afinal de contas, era em suas margens que ele se debruçava todos os dias”.
O lago ficou algum tempo quieto. Por fim, disse:
“Eu choro por Narciso, mas jamais havia percebido que era belo. Choro por ele porque, todas as vezes que ele se deitava sobre minhas margens, eu podia ver, no fundo dos seus olhos, a minha própria beleza refletida”.

Celebre seus triunfos



Quando você ganhar, comemore: é importante um rito de passagem.
Esta vitória custou momentos difíceis, noites de dúvidas, intermináveis dias de espera. Desde os tempos antigos, celebrar um triunfo faz parte do próprio ritual da vida.
A comemoração marca o final de uma etapa. Se a evitarmos – por incrível que pareça, muita gente evita por medo de decepção, de atrair “mau-olhado”, etc. – não estamos nos beneficiando do melhor presente que a vitória nos dá: confiança.
Celebre hoje suas pequenas vitórias de ontem, por mais insignificantes que pareçam. Amanhã, uma nova luta se aproxima, e irá exigir toda sua atenção e esforço: a lembrança de uma vitória sempre ajuda a ganhar a próxima batalha.

As portas da vida



Quando você começar seu caminho, vai encontrar uma porta com uma frase escrita – diz o mestre.
- Volte e me conte qual é esta frase.
O discípulo se entrega de corpo e alma à sua busca. Chega um dia em que vê a porta, e volta até o mestre.
- Estava escrito no começo do caminho: isto não é possível – diz.
- Onde estava escrito isto, num muro ou numa porta? – pergunta o mestre.
- Numa porta – responde o discípulo.
- Pois coloque a mão na maçaneta e abra.
O discípulo obedece. Como a frase está pintada na porta, também vai se movendo com ela. Com a porta totalmente aberta, ele já não consegue mais enxergar a frase – e segue adiante.

A irmã mais velha pergunta



Quando seu irmão nasceu, Sa-chi Gabriel insistia com os pais para ficar sozinha com o bebê. Temendo que, como muitas crianças de 4 anos, estivesse enciumada e quisesse maltratá-lo, eles não deixaram.
Mas Sa-chi não dava mostra de ciúmes. E como sempre tratava o bebê com carinho, os pais resolveram fazer um teste. Deixaram Sa-chi com o recém-nascido, e ficaram observando seu comportamento através da porta semi-aberta.
Encantada por ter seu desejo satisfeito, a pequena Sa-chi aproximou-se do berço na ponta dos pés, curvou-se até o bebê e disse: “Me diz como Deus é! Eu já estou esquecendo!”

O universo que conspira a favor



Quando se quer uma coisa, o universo inteiro conspira a favor.
Estamos acostumados a olhar esta frase apenas do ponto de vista positivo; nossos verdadeiros desejos sempre se transformam em realidade.
Entretanto, é preciso ficar atento para as trevas do subconsciente. Ali, escondido debaixo de uma porção de boas intenções, estão desejos que não ousamos sequer confessar a nós mesmos: a vingança, as autopunições, a alegria macabra da tragédia pessoal.
O universo não julga: conspira a favor do que desejamos.
Olhemos com coragem as sombras de nossa alma – por mais doloroso que isto possa ser. Iluminemos estas trevas com a luz do perdão, da misericórdia, e do respeito por nós mesmos.
O universo sempre conspira para realizar o que queremos; é preciso muito cuidado.

Qual o melhor caminho



Quando perguntaram ao abade Antonio se o caminho do sacrifício levava ao céu, este respondeu:
-Existem dois caminhos de sacrifício. O primeiro é o do homem que mortifica a carne, faz penitência, porque acha que estamos condenados. Este homem sente-se culpado, e julga-se indigno de viver feliz. Neste caso, ele não chega a lugar nenhum, porque Deus não habita a culpa.
“O segundo é o do homem que, embora sabendo que o mundo não é perfeito como todos queríamos que fosse, reza, faz penitência, oferece seu tempo e seu trabalho para melhorar o ambiente ao seu redor. Neste caso, a Presença Divina o ajuda o tempo todo, e ele consegue resultados no Céu”.

Transformar o mundo



Sentimos que todo mundo tem medo de mudanças e queremos que cada pessoa saiba exatamente o que vai acontecer no dia de amanhã, e que as únicas coisas imprevisíveis sejam as tormentas da natureza. Talvez isso seja uma maneira de encontrar a paz, embora que todos achem que controlam tudo, mas não controlam nada.
Trata-se de uma estupidez tentar controlar o mundo, acreditando em uma segurança completamente falsa, que termina deixando todos despreparados para a vida; quando menos se espera, um terremoto cria montanhas, um raio mata uma árvore que se preparava para renascer no verão, um acidente de caça acaba com a vida de um homem honesto.

Como provar que o Tudo está em todo lugar



Quando Ketu completou doze anos de idade, foi mandado para um mestre, com o qual estudou até completar vinte e quatro. Ao terminar seu aprendizado, voltou para casa cheio de orgulho.
Disse-lhe o pai:
— Como podemos conhecer aquilo que não vemos? Como podemos saber que Deus, o Todo Poderoso, está em toda parte?
O rapaz começou a recitar as escrituras sagradas, mas o pai o interrompeu:
— Isso é muito complicado; não existe uma maneira mais simples de aprendermos sobre a existência de Deus?
— Não que eu saiba, meu pai. Hoje em dia sou um homem culto, e preciso desta cultura para explicar os mistérios da sabedoria divina.
— Perdi meu tempo e meu dinheiro enviando meu filho ao mosteiro – reclamou o pai.
E pegando Ketu pelas mãos, levou-o a cozinha. Ali, encheu uma bacia com água, e misturou um pouco de sal. Depois, saíram para passear na cidade.
Quando voltaram para casa, o pai pediu a Ketu:
— Traga o sal que coloquei na bacia.
Ketu procurou o sal, mas não o encontrou, pois já se havia dissolvido na água.
— Então não vês mais o sal? – perguntou o pai.
— Não. O sal está invisível.
— Prova, então, um pouco da água da superfície da bacia. Como está ela?
— Salgada.
— Prova um pouco da água do meio: como está?
— Tão salgada como a da superfície.
— Agora prova a água do fundo da bacia, e me diz qual o seu gosto.
Ketu provou, e o gosto era o mesmo que experimentara antes.
— Você estudou muitos anos, e não consegue explicar com simplicidade como o Deus Invisível está em toda parte – disse o pai. — Usando uma bacia de água, e chamando de “sal” a Deus, eu poderia fazer qualquer camponês entender isso. Por favor, meu filho, esqueça a sabedoria que nos afasta dos homens, e torne a procurar a Inspiração que nos aproxima.

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