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9.08.2011

Show do Rei Roberto Carlos em Jerusalém

Rei é Rei
Jerusalém - O poder de Roberto Carlos é tamanho, que a companhia aérea israelense Elal criou um voo diurno excepcionalmente hoje para trazer a equipe de produção da TV Globo e o diretor, Jayme Monjardim, para que eles possam chegar ao Brasil a tempo de editar o especial que vai ao ar no sábado.
Foto: Bruno Astuto e Divulgação
Homenagens
Não foi só Lady Laura que ganhou uma homenagem saudosa do filho, que cantou a música que leva seu nome e mandou um beijinho para o céu, arrancando lágrimas da plateia.

O Rei interpretou ‘Eu Sei Que Vou Te Amar’, de Vinicius de Moraes, em intenção da filha Ana Paula Braga, morta em abril. E recitou o ‘Soneto da Fidelidade’, poema preferido da primogênita. Quem me contou isso ontem à noite, no coquetel logo após o show, foi a caçula do Rei, Luciana.

“Chorei em diversas partes do show, mas essa foi especial, porque eu li esse poema na Missa de Sétimo Dia dela”, revelou, acrescentando que se emocionou principalmente nas músicas que são do repertório do pai quando ele era casado com sua mãe, Nice. “Acho que são as canções mais lindas compostas por ele, como ‘Detalhes’”. Também na plateia, o filho, Dudu Braga.

Surpresa

Cantada em português, espanhol, italiano e inglês, ‘Detalhes’ foi incluída na lista de músicas do show no último minuto. Roberto também cantou ‘Mulher Pequena’ em espanhol, Ave Maria de Schubert em italiano e ‘Caruso’ também em italiano. “Eu sempre amei essa canção, mas nunca me atrevi em cantá-la porque ela é mais para cantores que têm grande alcance, como Pavarotti, Lucio Dalla e Zezé Di Camargo. Mas eu resolvi cantar do meu jeitinho”. A profusão de idiomas tem razão: o DVD será vendido em toda América Latina.

Não, obrigado
Nir Barkat, o prefeito de Jerusalém, queria fazer um discurso no palco, antes do show. Mas a produção do espetáculo, que não recebeu um shekel (moeda de Israel) de patrocínio do governo local, achou melhor deixar o pronunciamento para o telão.

À coluna, o alcaide disse que já conhecia “algumas músicas” de Roberto. “Ele canta o amor e exalta a cultura de paz, que é tudo o que procuramos em Jerusalém. E nunca vi cenário mais lindo que reproduzisse tão bem os monumentos da cidade”.

Saudade

Na segunda fila da plateia, viam-se Maria Emir Broto e Dona Gery Simões, irmã e mãe de Maria Rita, a saudosa última mulher do Rei. “Minha filha já tinha esse projeto de fazer um show do Roberto na Terra Santa. Ela era muito devota e hoje sinto sua presença aqui”, revelou a matriarca à coluna. Ao final do show, Roberto lhe jogou uma rosa.

As músicas
Emoções
Além do Horizonte
Como Vai Você (português e espanhol)
Como é Grande o Meu Amor Por Você
Detalhes
Outra Vez
Eu Sei Que Vou Te Amar
Mulher Pequena (português e espanhol)
Pensamentos
Ave Maria (italiano)
Lady Laura
Olha/ Proposta/ Falando Sério/ Desabafo
Unforgettable
O Portão
Eu te amo, Te Amo
Caruso (italiano)
A Montanha
Aquarela do Brasil
Jerusalém de Ouro
É Preciso Saber Viver
Jesus Cristo
Foto: Bruno Astuto e Divulgação
E a Terra Santa cantou o amor!
Às 20h43, horário de Israel, os sinos do anfiteatro Sultan’s Pool começaram a tocar para anunciar que o show de Roberto Carlos iria começar. As cinco mil pessoas que lotaram o local começaram a gritar enlouquecidamente, quando um vídeo gravado pelo prefeito de Jerusalém deu boas-vindas ao cantor. Glória Maria desembarca no palco a bordo de um vestido de diáfana verde-esmeralda e rosa da grife Martu e pulseira de Bia Vasconcellos, diz algumas palavras e começa a chorar. Muita gente seguiu seu exemplo.

Roberto abriu o show com ‘Emoções’ e, de fato, foram várias emoções, de muitos tipos. Comoção pela Ave Maria de Schubert em italiano; deslumbre com o ápice da noite, a interpretação de ‘Jerusalém de Ouro’ em hebraico com um coro de 30 vozes; alegria com ‘É preciso Saber Viver’; gargalhadas quando ele anunciou que cantaria ‘Unforgettable’ com seu “inglês de cais do porto”; patriotismo de Sete de Setembro ao som de ‘Aquarela do Brasil’ e iluminação verde-amarela; êxtase com os gritinhos da mulherada: “Fofo! Lindo! Gostoso! Casa comigo! Ei, ei, ei, Roberto é nosso Rei!”.

“Eu gostaria de dizer muitas coisas, mas sou melhor cantando. Cantar é uma forma de oração. Jerusalém divina, Jerusalém da humanidade”, conclamou o cantor, que, claro, encerrou o show com ‘Jesus Cristo’, jogando as tradicionais rosas vermelhas e brancas para a plateia em êxtase, que não se fez de rogada e saiu das cadeiras para se aproximar do palco.

Será difícil esquecer essa noite especialíssima, com cenário arrebatador de May Martins, reproduzindo monumentos históricos da Cidade Velha sobre um palco de 40 metros de frente por 26 de profundidade, ao custo de R$ 700 mil. Que o diga Glória Maria, que o Rei tirou para dançar de rostinho colado enquanto cantava ‘Unforgettable’. “Dançar com a Glorinha é um privilégio. Nunca tinha feito isso antes”, comemorou ele.

“Foi a maior emoção da minha vida depois das minhas filhas”, resume a jornalista. “Tive medo de tropeçar no vestido, insegurança de não dar conta do recado. Eu não queria ter chorado, mas as lágrimas caíam sem que eu pudesse controlá-las. Nesse momento único, a razão deve ser mesmo deixada de lado pelo sentimento”. No backstage, Glória disse que Roberto só lhe pediu que, da próxima vez, viesse sem salto e descalça, em tom de brincadeira. O cantor sussurrou umas palavras durante a dancinha. “O que ele me disse vou levar para o túmulo”.
Passaporte
Se depender de Roberto Carlos, seu próximo show internacional será em Veneza ou Roma, na Itália. Mas o coração do empresário do Rei, Dody Sirena, balança mais para... Las Vegas. “Na Europa, corre-se o risco de as pessoas quererem se dispersar mais rápido, e a excursão do Roberto é para criar uma congregação, um ambiente familiar”. Se o show acontecer em Roma, Roberto descartou qualquer possibilidade de fazê-lo em lugares de perseguição aos cristãos, como o Coliseu. O local mais provável são as Termas de Caracala, antigo banho público da elite do Império Romano, onde os três tenores, Luciano Paravotti, Plácido Domingo e Jose Carreras, se apresentaram.

Na intimidade

O especial de fim de ano do Rei não acontecerá na Praia de Copacabana, embora a prefeitura do Rio o tivesse solicitado novamente. “Não vamos repetir o mesmo cenário; a ideia é fazer coisas diferentes. Talvez o show aconteça num teatro ou num estúdio”. A participação da cantora Paula Fernandes está descartada, pois Roberto não costuma repetir convidadas.

Diplomata

Roberto planejava ter cantado uma música em árabe no show de ontem. Mas foi demovido pela turma da diplomacia, que achou que o idioma de Maomé não cairia bem em território israelense, embora todas as placas em Jerusalém tragam instruções em hebraico, inglês e árabe.

O livro do Mengão
A editora Toriba, que lançou em Jerusalém o livro-calhamaço de 500 páginas e 25 kg do Rei Roberto Carlos, liberou 500 exemplares para uma pré-reserva — a um precinho de R$ 6.500 — e 50 já foram separados por fãs. A obra chegará às livrarias em novembro.

Já o collector’s book do Corinthians, que chega às mãos dos torcedores no próximo dia 26 por módicos R$ 15 mil, já teve 100 exemplares pré-vendidos. A nova empreitada será um desses livrões sobre o Flamengo, na mesma faixa de preço de cinco dígitos, a ser lançado em 2012. O contrato com o clube já foi assinado.

Lily no Muro

Na ala masculina do Muro das Lamentações, local de peregrinação e orações de judeus, chama atenção uma placa que agradece a restauração de uma praça, com estantes repletas de Torás, à brasileira Lily Safra. A bilionária gaúcha financiou a obra em intenção da memória do marido, o banqueiro Edmond Safra, morto tragicamente em 1999.

Os maridos não têm ciúmes
Fãs que pagaram entre R$ 5.640 e R$ 23.550 para ver Roberto Carlos em Jerusalém falam de ‘paixão que transcende’, fazem campanha para transmitir idolatria aos filhos e netos e desaprovam CD sobre sexo do parceiro Erasmo.

O português dominou as ruas de Jerusalém na última semana, com a verdadeira horda de seguidores do Rei que dividiram seus pacotes de viagem do programa ‘Emoções da Terra Santa’ em até 10 vezes para assistir ao show de ontem e, de quebra, conhecer a Terra Santa. Todos os 1.500 viajantes visitavam pela primeira vez a cidade e eram separados em grupos com nomes de músicas do cantor.
As primas Ana Maria Santi e Maria Lucia Faro, e as irmãs Amanda Decker e Marina Faro | Foto: Bruno Astuto
“Eu iria até o fim do mundo para vê-lo”, avisa a aposentada paulista Mildred Mazzocato Rivetti, 77 anos, que conta que tinha 30 quando assistiu pela primeira vez a um show do Rei no finado Canecão, no Rio. Ainda pagando as últimas das sete parcelas do cruzeiro que Roberto promoveu em fevereiro, ela já recebeu a fatura da segunda parcela de dez da viagem à Terra Santa. “Ele nos dá o amor, o carinho e a beleza da vida. Todos os meus netos vão ao navio, casados e solteiros. A menina que se casou com meu neto chora quando ouve as músicas dele. Meu marido não gosta de viajar, mas me incentiva a ir atrás do Roberto”.

As amigas cariocas aposentadas Maria Souza Soares da Silva e Neuza Basto, 72, comemoram que estão “viajando o mundo” de uns anos para cá. “Acabo de chegar da Disney. As pessoas acham que eu fiquei maluca quando passei a viajar depois de trocentos anos. Mas agora tá todo mundo dividindo tickets no cartão de crédito”, diz Maria.

As irmãs Licéria e Tania, de Santa Maria, RS, estão no grupo ‘Diamante Cor de Rosa’ e acham que o segredo do sucesso de Roberto é falar de amor “sem apelar”. “Não acho legal o Erasmo ter lançado esse CD ‘Sexo’. As pessoas estão falando muito de sexo, quando ainda existem tantas coisas bonitas para falar sobre o amor”, reclama Licéria.

Priscilla Latorre Lanas, de Alambari, SP, era das poucas acompanhadas pelo marido, o empresário Nicolas Lanas. “Eu pedi de presente pelos meus 40 anos ver um show do Rei e ele me apareceu com a viagem para Jerusalém. Quase morri de emoção e a passagem era executiva. Agora vou ficar mal acostumada”, ameaçou, olhando para o companheiro. Ela tinha a esperança de entregar pessoalmente ao Rei uma escultura de São Francisco de Assis, feita de madeira de demolição, com um passarinho e uma pomba. “Me disseram que eu não vou poder entregar porque ele é muito justo. Se me recebesse, teria que receber todas”. Priscilla também trouxe de sua cidade, de cinco mil habitantes, uma faixa em que se lê ‘Você aquece meu coração’.

O maridón diz que não tem ciúmes. “Não tenho do Rei, né? Só pode ficar assim por ele. Se fosse por outro, o tempo ia fechar”. Ela diz que seu maior presente seria que Roberto cantasse ‘Mulher de 40’: “Seria o meu ‘Parabéns pra você’. Amo Roberto Carlos, que é uma herança que minha mãe passou para mim. Nasci e cresci ouvindo sua voz”.

Os turistas do Rei ganharam no aeroporto um kit com CD com hits religiosos, boné, mochila, tapa-olhos, protetor de pescoço para o avião, toalha e nécessaire. Estranharam a enorme quantidade de perguntas que os funcionários da companhia aérea israelense Elal fizeram antes do embarque. “Me senti uma terrorista”, disse a professora mineira aposentada Maria, 75 anos.

A paulistana Maria Lucia Faro veio a Jerusalém com as filhas, Amanda e Mariana, e a prima Ana Maria Santi, que diz que Roberto foi “quase um educador” em sua vida. “Ele foi um bom exemplo para mim, de seguir o bom caminho, fugir das drogas, dos maus pensamentos”, explica ela. “Ele faz parte da minha história. Aos 12, 14 anos, ia vê-lo na Jovem Guarda. Quando fiz 40, ele lançou a ‘Mulher de 40’; agora que vou fazer 60, ele está devendo uma homenagem às sessentonas”, pede Maria Lucia. A filha Amanda aproveitou para ser batizada no Rio Jordão pela prima da mãe.

As fãs se dividem em duas castas: as que já pegaram as rosas jogadas do palco pelo cantor e as que nunca tiveram essa sorte. “As letras dele parecem ser feitas para mim”, festeja a paulistana Renata Rossi, que viajou com a mãe, Vandi Blanco. “Meu irmão nos deu essa viagem de presente”.

A senhorinha mais fofa da plateia era Dona Esther Longman, de 90 anos, que viajou de Recife sobre uma cadeira de rodas só para não perder o espetáculo. “Sou médica aposentada e passei a vida cuidando do corpo das pessoas. Agora o Roberto cuida da minha alma”.

Fã ardorosa é a comerciante curitibana Nilma Dias, 58 anos, que, desde os 12, guarda em gavetas recortes com tudo o que sai sobre o Rei na imprensa. Ela conta que engravidou de um dos três filhos numa data planejada para que ele nascesse no dia do aniversário de Roberto, 19 de abril. “Mas ele acabou nascendo no dia 24, uma pena.

Fui grávida de oito meses a um show que ele fez em Curitiba e a emoção foi tanta que meu filho nasceu no dia seguinte. Meu marido não me deixou batizá-lo de Roberto. Disse que já bastava ter que dormir com o Rei na cabeceira da cama”, lamenta ela, que viajou com a filha, Andréa, fã de Ivete Sangalo. “Nunca estive com o Rei cara a cara; tenho uma barreira. Acho que poderia desmaiar”.

Ao lado do marido, Carlos Alberto, a dona de casa paulistana Vera Lucia Ramos, 50, reclamou da dificuldade de comprar os pacotes para os cruzeiros do cantor. “Para Jerusalém foi fácil; assim que saiu, comprei na Internet”. O casal Mercedes e Francelino Magalhães orgulhava-se de Roberto ter composto uma música em sua terra natal, Presidente Prudente.

Mas não são só as mulheres que arrastam as famílias para ver o Rei. O professor de veterinária da Unesp, Alvimar Costa, 62, trouxe de Jaboticabal a mulher, Lina, os filhos, Gustavo e Marcio, e as noras, Marcela e Andrea. “Eu sou o maior fã do Roberto”, avisa ele. “Esse é o 36º show que vejo dele e já estou indo para o quinto cruzeiro com toda a família em 11 cabines. Faço um trabalho de corpo a corpo com os jovens. Meu neto, que só tem três aninhos, já canta várias músicas, inclusive em espanhol. Meu filho o leva para a escola todos os dias tocando o CD do Rei no carro”.

Os filhos e noras já têm ingressos comprados para o Rock in Rio. “Eu sou oito ou oitenta; ou é Metallica ou Roberto”, decreta Gustavo. “Depois que você se casa e vira pai de família, não sei o que acontece, mas Roberto Carlos faz todo sentido”.

Alvimar comemora todos os aniversários contratando um show privado de Raul Nazário, o cover mais famoso do cantor. A mulher diz que, até começar a namorá-lo, só ouvia MPB, mas teve que capitular ante a paixão do marido. “Para as meninas que ainda não têm namorado, dou um conselho: homem que gosta de Roberto Carlos é mais romântico, mais sensível, trata melhor a mulher, manda flores todo dia. Escuto ‘eu te amo’ todos os dias. Devo isso ao Rei”. É dura a vida da bailarina. Beijo, me liga, até amanhã.
POR BRUNO ASTUTO
O Dia 

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