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10.19.2011

Tsunami de aquário

Indignados e ignorantes

O bem está de volta. O mundo foi tomado por uma onda de protestos, organizados por ativistas que se orgulham de ser pessoas comuns: os “indignados”.
Conectados pelas redes sociais, os indignados foram às ruas quase simultaneamente em mais de 80 países.
A inédita ofensiva global teve cores e slogans variados, mas todas as manifestações foram unificadas por um mesmo traço: a falta de importância.
Essa espécie de tsunami de aquário produziu cenas impressionantes: no Vale do Anhangabaú, por exemplo, uma multidão acampou sob o Viaduto do Chá. Os organizadores calcularam essa multidão em cerca de 200 pessoas. A polícia acha que eram umas 50.
O mundo nunca mais será o mesmo.
Contra o que exatamente os indignados protestam ao redor do planeta? Contra as corporações, o capitalismo financeiro e os governantes. O céu, a terra e o mar foram poupados. Por enquanto.
Os indignados estão saindo às ruas para fazer uma denúncia: a humanidade virou refém das empresas, dos governos e do dinheiro. Na próxima volta no quarteirão eles devem explicar para que planeta devemos todos nos mudar.
Provavelmente, para o mundo da Lua.
Já tem gente dizendo que a histórica revolta de maio de 1968 está sendo reeditada na marcha dos indignados de 2011. Fora o fato de que a primeira foi real e a segunda é virtual, são mesmo iguaizinhas.
“Ocupe Wall Street”, prega a filial americana do protesto. É isso aí. A bolsa de valores só serve para enriquecer o Bill Gates, o Steve Jobs e seus colegas de capitalismo selvagem.
Melhor estatizar logo esse cassino, e transformá-lo num Bolsa Família mundial.
Quando o dinheiro acabar, nos alimentaremos todos de poesia populista.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu aos governantes que ouçam os indignados, e sua “mensagem muito clara e inequívoca para todo o mundo”. E acrescentou: “É preciso uma perspectiva mais ampla para salvar esse mundo.”
Eis a mensagem clara e inequívoca de Ban Ki-moon, que já viu a luz: arranje um emprego na ONU e seja você também um indignado profissional.
Guilherme Fiúza, ÉPOCA

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