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10.21.2011

Vacina testada em crianças na África poderá ajudar a diminuir o número de pessoas infectadas e de mortes causadas pela doença

Promessa contra a malária

Mônica Tarantino

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Criar uma vacina contra a malária é tão difícil quanto chegar a um imunizante eficiente contra o vírus da Aids. Atualmente, há cinco substâncias em teste. Na semana passada, os pesquisadores que estudam um desses compostos, chamado de RTS,S, divulgaram boas notícias sobre os resultados do potencial imunizante em um grupo de seis mil crianças africanas com idades entre cinco e dezessete meses que receberam três doses da substância. Os dados indicam uma redução de 56% no risco de desenvolvimento da malaria clínica, que deve ser tratada com medicamentos, e de 47% para o surgimento da malária severa, estágio no qual a doença se agrava e pode ser fatal.
Quando o período de avaliação foi expandido para 22 meses, a proteção caiu para 35%. Neste caso, o efeito da vacina foi diminuir o número de casos e a transmissão da doença. “Para erradicar a malária, seria necessário encontrar uma substância com pelo menos 80% de proteção e que possa ser dada a toda a população vulnerável à doença”, diz Marcelo Burattini, especialista em transmissão e estratégias de controle da malária e professor da Universidade Federal de São Paulo. O universo do estudo com a RTS,S abrange 11 países africanos e 15 mil crianças.
O composto RTS,S tenta impedir que o parasita Plasmodium falciparum, inoculado no organismo pela picada do mosquito Anopheles, penetre nas células do fígado, o que ocorre cerca de meia hora depois da picada. Alojado nas células do órgão, ele se divide para depois invadir as células vermelhas do sangue (as hemácias). Então ele se multiplica novamente e infecta maior quantidade de hemácias. Para construir o composto em avaliação, os pesquisadores extraíram pedaços de proteínas contidos na camada externa do parasita e o associaram a uma parte do vírus da hepatite B, somando tudo isso a substâncias químicas para potencializar a resposta do sistema imunológico. A pesquisa está sendo desenvolvida pela PATH, uma organização sem fins lucrativos voltada para soluções em saúde, pela indústria farmacêutica GlaxoSmithKline (GSK) e tem apoio da Fundação Bill e Melinda Gates.
O mundo suspira aliviado – e os acionistas das companhias farmacêuticas também – cada vez que um resultado positivo é anunciado. Mas a comunidade científica prefere encarar os dados desta vacina como mais uma promessa. “Existe um longo caminho até que essa substância se comprove como uma opção real”, diz o infectologista Burattini. Um dos aspectos que contribuem para a precaução dos pesquisadores é capacidade do Plasmodium se modificar e resistir à ação dos imunizantes. Toda vez que ele se divide no organismo, ele se modifica. E também apresenta muitas variações. A doença é provocada por quatro tipos diferentes de parasitas (apresentam diferenças clínicas, geográficas e de antígenos). “A mais severa forma da doença, e também a mais comum na África, é provocada pelo Plasmodium falciparum. Na América Latina e no Brasil grande parte dos casos é causada pelo parasita P. vivax (80% dos casos)”, explicou Eduardo Ortega, vice-presidente de Desenvolvimento de Vacinas para a América Latina da GSK. “Por essa razão, não sabemos dizer, por exemplo, se a vacina funcionaria ou não no Brasil, já que não fizemos testes no país”, disse à ISTOÉ Irving Hoffman, da UNC ‘School of Medicine (EUA) e um dos coordenadores do estudo.
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