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11.21.2011

Os caminhos para uma medicina sob medida

Testes genéticos já determinam qual o tratamento e o remédio mais eficazes para cada caso

Uma das etapas de produção de um medicamento biológico Foto: Divulgação/ Roche
Uma das etapas de produção de um medicamento biológico Divulgação/ Roche
RIO - A medicina personalizada está se tornando realidade no mundo e no Brasil. Drogas biológicas — produzidas a partir de seres vivos — e fármacos que levam em conta o perfil genético de cada paciente revolucionam os tratamentos de vários tipos de câncer, de problemas cardíacos, de infecções e doenças autoimunes, aquelas em que o organismo ataca a si próprio, como artrite ou psoríase. Com o melhor conhecimento da influência da genética na resposta aos fármacos, é possível colocar em prática o que médicos sempre preconizaram: cuidar de cada caso como único, o que melhora a eficácia do tratamento e reduz significativamente os efeitos colaterais.

A medicina personalizada ajuda a entender porque dois indivíduos com a mesma doença respondem de formas diferentes a uma mesma droga. Isso acontece, em parte, devido à constituição genética de cada um, além de outros fatores, como metabolismo e estilo de vida. São diferenças que determinam se um precisa de dose maior do que outro, ou reage a uma química melhor que o outro. Nesse caminho evolui a farmacogenética — ciência que investiga como os genes respondem às drogas —, permitindo avanços no tratamento de tumores, da Aids e da trombose, entre outros males. Com melhor conhecimento da genética, pesquisadores buscam os biomarcadores — proteínas ou mutações que indicam como será a interação com uma droga. Os pacientes são testados e, dependendo do resultado, o médico sabe qual remédio mais eficiente e com menos efeitos adversos.
Guilherme Suarez-Kurtz, do Instituto Nacional de Câncer e um dos fundadores da Rede Nacional de Farmacogenética (www.refargen.org.br), diz que inexiste uma droga que funcione igual para todos:
— A herança genética influencia na resposta ao medicamento, assim como meio ambiente, peso, estado de saúde, entre outros fatores — diz Kurtz, que organiza simpósio sobre farmacogenética em 2012 no Rio. — Um exemplo são as drogas tiopurinas, receitadas contra leucemias. Alteração no gene TPMT indica que o paciente precisará de dose cerca de dez vezes menor do que a população em geral. E isto é detectado num exame genético.
Quem sofre de alterações da coagulação do sangue e corre risco de trombose tem à disposição um tratamento preventivo customizado e com garantia maior de eficácia. Antes de o médico receitar a dose de varfarina (anticoagulante), é preciso saber que alguns pacientes precisam de 5mg e outros de 100mg por semana para alcançar o mesmo benefício, como explica Kurtz:
— Estudos que fizemos em colaboração com o Instituto Nacional de Cardiologia de Laranjeiras mostraram que isso se deve, em parte, a mutações em dois genes, CYP2C9 e VKORC1. Laboratórios no Brasil já fazem testes para identificá-las.
Outros aliados na otimização e personificação de tratamentos são os fármacos biológicos. Eles são fabricados a partir de células vivas, em geral proteínas (como anticorpos), moléculas grandes e muito mais complexas, diferentemente das sintéticas. Algumas dessas células têm biomarcadores, ou seja, são direcionadas a um grupo específico de pacientes. Outras drogas são feitas para a média da população, mas também têm uma eficácia direcionada, atingindo o alvo da doença e agredindo menos as células sadias. A maioria das drogas personalizadas é para tratar câncer. Há, porém, fármacos otimizados, indicados para doenças como artrite, psoríase e hepatite.
— No exame da célula tumoral, investigamos mutações e proteínas. Assim sabemos qual é a droga mais adequada em cada caso — diz o oncologista Sergio Simon, do Hospital Israelita Albert Einstein.
O Globo

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