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12.07.2011

Câncer de mama; Novo tratamento

Pesquisadores identificam novo alvo para tratar câncer de mama. Pela primeira vez, estudo demonstra que fonte de energia das células cancerígenas vem da produção anormal das mitocôndrias. Descoberta pode mudar modo de tratamento e prevenção da doença
Câncer de mama: estudo concluiu que inibir ação das mitocôndrias pode impedir metástase da doença Câncer de mama: estudo concluiu que inibir ação das mitocôndrias pode impedir metástase da doença (Getty Images/Thinkstock)
Segundo pesquisa publicada na edição de dezembro do periódico Cell Cycle, as mitocôndrias são extremamente importantes para que as células cancerígenas cresçam e haja metástase. Para os pesquisadores, essa conclusão sugere que uma droga capaz de bloquear a atividade mitocondrial pode reverter o desenvolvimento dos tumores e até a resistência à quimioterapia. A boa nova é que já existe um remédio assim. A metformina, utilizada para tratar o diabetes, foi apontada pelos autores do estudo como uma opção para o combate ao câncer de mama.

Opinião do especialista

José Roberto Filassimédico mastologista e coordenador do Setor de Mastologia do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo

"Hoje em dia, as pesquisas estão procurando descobrir mecanismos específicos das células cancerígenas que possam ser combatidos, que são as terapias alvo, e foi o que fez esse estudo.
"Já era sabido que havia uma relação entre a metformina e o câncer de mama, e a pesquisa buscou dar uma explicação para isso. Até então, ninguém havia explicado como o remédio ajuda a combater a doença.
"Antes, acreditava-se que a energia das células cancerígenas vinha da quebra de glicose, mas a pesquisa provou que está ligada ao exagero da atividade da mitocôndria.
"Essas descobertas têm potencial de mostrar como a metformina pode agir nas células cancerígenas. Isso seria importante pois ela tem baixo custo e quase não apresenta efeito colateral."
Estudos recentes já haviam mostrado que a metformina pode ser eficiente em impedir que células do câncer de mama cresçam. Porém, esse é o primeiro estudo que relaciona diretamente a ação do medicamento à inibição das mitocôndrias nessas células. A pesquisa foi desenvolvida no Centro de Câncer Kimmel da Universidade Thomas Jefferson, nos Estados Unidos.
As mitocôndrias são produtoras de energia em células normais. Mas, como observou a pesquisa, em células cancerígenas, essa produção pode ser aumentada em pelo menos cinco vezes. O estudo foi feito em laboratório com tecidos humanos. "Nós mostramos que o câncer é uma 'doença parasita' que rouba energia dos hospedeiros, ou seja, do nosso corpo", afirma o presidente do Departamento de Biologia de Células-Tronco e Medicina Regenerativa da Universidade e coordenador do estudo, Michael P. Lisanti.
Efeito reverso — Nos últimos 85 anos, especialistas vêm debatendo se as células cancerígenas possuem, ou não, mitocôndrias funcionais. Alguns afirmam que essas células não utilizam mitocôndria, mas sim exclusivamente a glicose para obter energia, ação conhecida como o 'Efeito Warburg'. Porém, a pesquisa feita na Universidade Thomas Jefferson defende que, além desse método de produção de energia ser ineficiente, as células cancerígenas usam sim a mitocôndria, que por sua vez fornece grande quantidade de combustível para as células. Os responsáveis pela pesquisa chamaram esse mecanismo de 'Efeito Warburg reverso'.
"Nós apresentamos novas evidências de que as mitocôndrias de células cancerígenas são o coração do crescimento da célula tumoral e da metástase", diz Dr. Lisanti. "A metformina impede que as células cancerígenas usem suas mitocôndrias, induz a produção de glicose e desloca as células cancerígenas para o convencional Efeito Warburg, que, não sendo um mecanismo eficaz, leva as células à morte".
Pesquisa — Para estudar o papel da mitocôndria nas células cancerígenas, os pesquisadores utilizaram coloração em amostras humanas de câncer de mama. Anteriormente, esse mecanismo era somente aplicado em tecido muscular, que é rico em mitocôndrias. Os pesquisadores descobriram que as células de câncer de mama humano apresentaram altos níveis de atividade da mitocôndria. Em contrapartida, os outros tecidos mostraram pouca ou nenhuma capacidade oxidativa mitocondrial. Além disso, observaram que a regulação da atividade mitocondrial é uma característica comum de células humanas de câncer de mama e está associada com um risco de aumento de metástase.
"As mitocôndrias são o 'calcanhar de Aquiles' das células tumorais", diz Dr. Lisanti. "E acreditamos que a segmentação do metabolismo mitocondrial tem amplas implicações para o diagnóstico e terapia de câncer, e pode ser explorada na busca de medicamentos personalizados para o câncer." Este novo conceito pode mudar radicalmente a forma como os pacientes com câncer são tratados e estimular novas estratégias para a prevenção e terapia da doença.
 

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