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12.30.2011

A esperança da célula-tronco chega a mais brasileiros

Estudo pioneiro que fez ex-policial paraplégico voltar a andar será repetido em oito centros no País, levando a promessa de recuperação a dezenas de outros pacientes

Monique Oliveira

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"Não desistam! Caí de uma laje há nove anos e fui obrigado a aceitar que nunca
mais voltaria a andar. Mas não me descuidei e continuei com a fisioterapia. Hoje,
vejo que todo aquele esforço valeu a pena. Minha vida mudou radicalmente outra
vez, embora a luta continue. Vou começar aula de Pilates e tentar ganhar massa
muscular para recuperar o equilíbrio. Também quero servir de exemplo a outras
pessoas. Por favor, não desistam!”
Maurício Ribeiro, 47 anos, ex-policial que voltou a andar após ser submetido à terapia com células-tronco
Uma notícia impressionante surpreendeu o Brasil em 2011: o ex-policial baiano Maurício Ribeiro, 47 anos, paraplégico há nove, recuperou parte dos movimentos das pernas e voltou a andar com a ajuda de aparelhos. A façanha foi resultado de uma experiência liderada por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), na Bahia, e tornou-se uma das primeiras a demonstrar resultados efetivos de terapias à base de células-tronco para tratar lesões na medula espinhal.

Em 2012, a esperança é de que outros pacientes obtenham o mesmo sucesso de Maurício. O estudo terapêutico será levado a outros oito centros do País , financiados pelo Ministério da Saúde e BNDES. Ao todo, estima-se que 200 brasileiros farão parte da pesquisa. Além do existente na Bahia, serão quatro laboratórios em São Paulo (um no interior) e outros em Curitiba, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. O custo por paciente, que será pago pelo governo, será de aproximadamente R$ 20 mil.

Embora os cientistas tentem frear o otimismo promovido pe­la recuperação de Maurício – os pesquisadores receberam de­zenas de pedidos de outros pacientes para serem submetidos à terapia –, os resultados apontam que o tratamento com células-tronco já é uma realidade no Brasil. Na própria Fiocruz de Salvador, os pesquisadores também tiveram sucesso com a aplicação dessas estruturas para a regeneração do fígado em casos de cirrose hepática. Outro trabalho, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, apresentou progressos animadores no tratamento de paralisias decorrentes de acidente vascular cerebral. No experimento do qual fez parte o ex-policial, todos os pacientes apresentaram uma melhora sensível na qualidade de vida após o implante de células-tronco, embora o único a ter dado alguns passos tenha sido Maurício. “Mas a maioria conseguiu sentir as pernas, alguns ficaram de pé e outros começaram a controlar as funções da bexiga e do esfíncter”, diz Ricardo Ribeiro dos Santos, coordenador do projeto.

Os participantes do estudo são pacientes que perderam a conexão entre o cérebro e os membros inferiores após grave lesão na medula espinhal. “Não é possível verificar, mas acreditamos que conseguimos recuperar parte dessa conexão”, diz Milena Botelho, uma das pesquisadoras do projeto da Fiocruz. Além da paralisia, a lesão provoca diminuição da força, perda da sensibilidade e do controle sobre o intestino e a bexiga. O implante de célula-tronco pode ser realizado seis meses após o início da paraplegia, quando o quadro do paciente já se encontra estável.

No procedimento, células-tronco mesenquimais (já adultas) são retiradas da medula óssea presente no osso do quadril, cultivadas durante 30 dias e aplicadas no paciente diretamente no local da lesão medular por meio de um procedimento cirúrgico. “Acredita-se que essas células se integram às da lesão, sendo capazes de regenerá-las”, disse à ISTOÉ a pesquisadora Aileen Anderson, da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos. Em 2005, ela conseguiu o mesmo feito da pesquisa brasileira, mas em ratos.

Apesar de os cientistas acreditarem que parte da lesão deixou de existir, a recuperação desses pacientes não é homogênea. “Cada um responde de uma maneira. Uma célula é diferente da outra. Algumas envelhecem mais rápido”, explica Santos. O trabalho, realmente, é intenso. Junto com pesquisadores, outros profissionais participam do projeto. Fisioterapeutas, neurocirurgiões, hematologistas, especialistas em dor, cardiologistas, infectologistas, educadores físicos e nutricionistas se revezam para acompanhar a evolução dos participantes.

A fisioterapia é a mais trabalhosa, já que a paralisia provoca atrofiamento dos músculos. Por isso, são necessárias duas sessões de exercícios por dia para fazer com que os músculos sustentem o corpo novamente. “Elaboramos um programa especial para essa recuperação”, explica a fisioterapeuta Cláudia Bahia, da Clínica de Atenção à Saúde, responsável pelo acompanhamento de Maurício. “Ele ajuda o paciente a ultrapassar os limites antes impostos pela paralisia.”
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