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12.08.2011

O poder da pose

Durante uma conversa, nossa imagem corporal fala mais intensamente sobre nós do que a linguagem verbal. Nossos gestos e postura dizem muito sobre nosso estado emotivo, sobre nossa história individual. Podemos perceber com certo grau de confiança se uma pessoa tem personalidade forte, se é simpática, confiável ou honesta através da observação gestual.
Isso acontece porque somos programados para perceber gestos e expressões faciais de outros humanos muito rapidamente, em frações de segundo. O fenômeno é parte de um processo evolutivo que lapidou nossas redes neurais e nos deixou como agentes sociais. As consequências são enormes: eleições são definidas pela imagem, quem será promovido, quem será o escolhido em certo contexto, enfim, a linguagem não verbal é parte essencial da vida humana.

Mais precisamente, a forma como nossos braços e pernas se comportam em determinada situação passam uma mensagem inconsciente, assimilada pelos que estão a nossa volta. Braços abertos, mãos na cintura, rosto erguido, peito estufado formam um conjunto poderoso que reflete nosso estado emocional. Esse tipo de “pose de poder” transmite uma mensagem de que somos perigosos, agressivos. Acontece da mesma forma com outros animais (pavão, gato, peixes, gorila, etc) quando colocados em situações de risco. O mesmo acontece com nossa expressão facial, quando nos sentimos felizes, sorrimos.
Mas se o corpo transmite esse tipo de mensagem, será que o inverso funcionaria também? Será que sorrir propositadamente nos faria ficar mais felizes? Ou apoiar os braços na cintura nos deixaria mais poderosos? Esse tipo de experimento foi executado pela pesquisadora Amy Cuddy, professora de psicologia de Harvard. O grupo de Amy estava interessado em descobrir se podemos modificar nosso estado emocional usando o corpo, através de modificações fisiológicas afetadas pela postura.
Amy focou em posições de poder, aquelas em que expandimos nosso corpo, braços pra cima e peito aberto, como se estivéssemos celebrando uma vitória ou conquista. Esse tipo de gesto comunica e reflete poder. O oposto disso são poses “fracas” ou deprimidas, em geral com braços cruzados, mãos tocando a face ou pescoço, cabeça baixa e ombros curvados pra frente. Os experimentos foram bem simples. Voluntários entravam no laboratório e os níveis de testosterona e cortisol eram medidos imediatamente pela saliva.
Testosterona é um hormônio associado a dominância e agressividade, em geral, presente em altos níveis em pessoas com tendência a liderança. O cortisol é um hormônio relacionado ao estresse. Líderes têm baixos níveis de cortisol e por isso toleram melhor o estresse. Depois disso, os voluntários foram instruídos a ficarem em posições de poder ou poses “fracas” por 2 minutos em um quarto isolado. Em seguida, foram convidados a participar de uma aposta e podiam optar se queriam ou não correr o risco. Ao final do experimento, os níveis de hormônios foram medidos novamente. O processo todo levou em torno de 20 minutos.
Os resultados mostraram que aqueles que ficaram em posições de poder tinham uma tendência maior a fazer a aposta, indicando uma tendência a assumir uma atividade de risco. Surpreendentemente, os níveis de testosterona subiram e o cortisol diminuiu significativamente nesses indivíduos. O oposto aconteceu com as pessoas que permaneceram com as poses fracas. Um segundo experimento mostrou que pessoas que ficaram em poses de poder por dois minutos antes de uma apresentação oral, tiveram uma melhor comunicação e melhor índice de aceitação do que os que ficaram com as poses deprimidas ou fracas. Um único detalhe: alguns indivíduos ficaram tão confiantes que passaram a dominar o ambiente, gerando um desconforto com consequências negativas.
Os dados são tão claros que fica até fácil por em prática. Antes de uma situação de estresse, como uma entrevista de emprego ou um encontro importante, pratique poses de poder por alguns minutos. Não fique no canto, encurvado no smartphone, mas procure fazer um alongamento e expandir o corpo. O sucesso não é garantido, mas vai com certeza ajudar na sua desenvoltura e projeção. Só tome cuidado pra não exagerar na dose e acreditar que é um super-homem. A consciência da própria limitação é também uma das melhores qualidades nas pessoas de sucesso.
por Alysson Muotri |

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