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1.26.2012

As dietas on-line podem ser uma boa alternativa para perder peso

Emagreça usando a internet

Os sites de dieta, aplicativos para celular e redes sociais estão transformando a vida de quem faz regime – em vez de um esforço isolado, emagrecer virou uma atividade de grupo, com resultados melhores

LUCIANA VICÁRIA
Blog, fórum, aplicativo – para emagrecer usando a internet, a professora mineira Edna Batista, de 42 anos, ataca em várias frentes do mundo digital. Há um ano e meio, tornou-se usuária de um site de emagrecimento que ajuda a controlar o peso. Por meio dele, Edna calcula as calorias dos alimentos que pre-tende comer, tira dúvidas com nutricionistas e é acompanhada – e incentivada – por centenas de outras pessoas que, como ela, tentam afinar a silhueta. Ainda com a ajuda da internet, passou a manter um diário virtual de sua dieta. Ela digita tudo o que come, e o site, por meio de uma ferramenta de contagem, transforma dados calóricos em pontos. Sem ultrapassar os limites impostos pelo programa, ela manipula as combinações de alimentos leves com calóricos e, assim, não precisa excluir de sua vida sobremesas ou cervejinhas. Quando está insegura sobre os resultados ou deseja compartilhar seu sucesso na balança, entra na comunidade virtual do site de emagrecimento, o Dieta e Saúde, e divide suas dúvidas com outros participantes. O site, cujo programa de regimes on-line custa R$ 89 por trimestre, está no ar há sete anos e já atraiu 150 mil usuários. “Os participantes da comunidade virtual mandam tantas sugestões legais de pratos que consigo economizar calorias durante o dia para comer uma pizza à noite, com os amigos, sem sair da dieta”, diz Edna.
Para você
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Tanta atividade na seara virtual vem dando resultado no mundo real. Edna pesava 105 quilos quando começou o programa e ho-je está com 20 quilos a menos. Ainda pretende emagrecer outros 10 quilos. Obesa desde a infância, com pais e irmãos igualmente acima do peso, Edna já tentara emagrecer com inibidores de apetite receitados por médicos. Valeu-se também de dietas radicais, como a da sopa e a da proteína, que seguiu por contra própria. Não deu certo. O sacrifício funcionava por um tempo, mas o peso perdido voltava como uma vingança, tão rápido quanto sumira. No auge da obesidade, há pouco mais de um ano, Edna passou dos 100 quilos, com apenas 1,63 metro de altura. “Eu me vi numa foto de casamento e fiquei chocada com o meu tamanho”, afirma. Os conselhos on-line dos nutricionistas, o aplicativo que calcula as calorias e as dicas dos demais internautas foram, em seu caso, eficazes para mudar esse quadro (leia as colunas de Walcyr Carrasco, e Marcio Atalla).

Os programas virtuais de emagrecimento reúnem cerca de 1,5 milhão de brasileiros, de acordo com a contabilidade dos dez maiores sites desse tipo no país. Nos Estados Unidos, onde a onda começou há dez anos, 5 milhões de pessoas já usaram a rede para perder peso. De acordo com uma pesquisa encomendada por ÉPOCA, a dieta virtual se tornou uma espécie de último recurso a que recorre um número cada vez maior de pessoas que, como Edna, não conseguiram perder peso de outra forma. A pesquisa, com 1.113 usuários, mostra que a maior parte dos participantes (85,8%) já experimentou regimes convencionais, mas elegeu a internet por considerá-la a ferramenta mais eficaz e barata do mercado. Quase 20% disseram que, ao fazer dietas com nutricionistas, sentiam dificuldade para esclarecer dúvidas sobre o que podiam ou não comer no dia a dia. Para 65% dos participantes, uma das grandes vantagens do regime on-line é a possibilidade de acompanhar o desempenho dos colegas – e ser acompanhado por eles. O público desse tipo de serviço é majoritariamente feminino (91,8%) e jovem: a maioria (63,1%) tem idade entre 26 e 45 anos. Entre os próprios usuários, levam vantagem os mais conectados. Aqueles que controlam diariamente a alimentação, digitando no diário virtual as calorias ingeridas, emagrecem até sete vezes mais que usuários que só fazem esse controle uma vez por semana – e perdem 1,2 quilo a mais do que quem não tem o costume de subir na balança e fazer planilhas semanais com a evolução de seu peso.

A possibilidade de entrar em forma pela internet soa tão fácil, tão conveniente, que chega a provocar desconfiança. Mas estudos recentes conduzidos por médicos e nutricionistas sugerem que a dieta digital pode, sim, ser eficaz. “Esses sites colocam o usuário no controle de sua alimentação e na responsabilidade pelo seu emagrecimento”, diz a nutricionista Lígia Amparo Santos, professora da Universidade Federal da Bahia. “Essa tática funciona.” Lígia publicou em 2007 um estudo sobre a estratégia de redução de peso usada por sites de emagrecimento e, desde então, acompanha de perto o assunto. Fora do Brasil, a tendência tem sido estudada por cientistas que tentam medir a eficácia das dietas on-line. O resultado tem sido favorável ao método, embora ainda não haja consen-so científico. Parece claro que a possibilidade de acompanhar e ser acompanhado por outras pessoas muda inteiramente o cará-ter da dieta. “A internet é a ferramenta mais promissora para a mudança de comportamento surgida nas últimas décadas”, afir-ma o neurocientista Stephen Waxman, da Universidade Yale, nos Estados Unidos.

Os sites removem as pessoas de um ambiente isolado e as transportam para uma experiência de esforço coletivo que se alimenta da energia do grupo. É mais fácil que estar presente a uma reunião dos Vigilantes do Peso. No modelo on-line, não é preciso obede-cer aos horários dos encontros nem reservar tempo para se deslocar até o local das reuniões. Ao mesmo tempo, pela força do núme-ro de participantes, a dieta na internet vira uma onda, uma tendência de comportamento. O que era uma angústia pessoal pode se transformar em ação e conquista coletiva. A vergonha de se expor por estar acima do peso perde importância quando a interação é virtual. Ao deixar uma mensagem de incentivo num blog ou compartilhar o que comeu com os colegas de um fórum, o candidato à perda de peso se sente amparado. “O comprometimento com o regime é maior à medida que aumenta o grau de interação da pes-soa”, diz Waxman. “É por essa razão que as pesquisas mostram que as pessoas com mais amigos virtuais tendem a emagrecer mais. É como se houvesse uma multidão torcendo por elas.”
 
FEEDBACK LOOP
O outro elemento do sucesso das dietas digitais – talvez o principal – é a interatividade permitida pela tecnologia. A facilida-de de registrar em arquivos eletrônicos cada alimento que alguém põe na boca e de avaliar instantaneamente o resultado de suas escolhas é considerada pelos psicólogos a peça-chave no sucesso dos programas virtuais de emagrecimento. O retorno instantâneo e contínuo permite corrigir pequenos deslizes antes que o ponteiro da balança acuse as falhas da dieta e desestimule quem a faz. “O feedback é uma ferramenta de ajuste de nossas ações”, disse a ÉPOCA o psicólogo canadense Albert Bandura, de 85 anos, pes-quisador da Universidade Stanford, no Estado americano da Califórnia. Bandura foi o primeiro a estudar os mecanismos de feedback, ainda na década de 1970. “Ao receber retornos repetidos, as pessoas entram em um ciclo promissor – e passam a melhorar ainda mais seu desempenho.” Os psicólogos chamam esse fenômeno de feedback loop. Sua eficiência está ligada às emoções.

O mecanismo funciona assim: a sensação de ser monitorado e avaliado ativa regiões do cérebro que liberam dopamina, a subs-tância essencial do prazer humano. Ela tem o poder de tornar as pessoas mais comprometidas com seus objetivos. “Emoção, para o cérebro, é sinônimo de engajamento. O resultado do feedback é um cérebro engajado e motivado a se superar”, diz o neuropsicólogo Thiago Rivero, da Universidade Federal de São Paulo e da Sociedade Brasileira de Neuropsicologia. O feedback é fundamental em situações como dietas, em que o desejo de perder peso está ligado a sensações efêmeras, como entrar numa roupa menor ou impressionar a namorada. Qualquer contratempo pode ser suficiente para deixar a dieta de lado.“Ao adotar o feedback contínuo na estratégia de emagrecimento, o desafio de cumprir metas passa a ser tão importante quanto as motivações iniciais que levaram ao regime”, diz Rivero.

As equipes dos sites de dieta já entenderam que o retorno rápido é o segredo de seu negócio, por isso investiram em nutricionis-tas de plantão na internet e em serviços que saciem a curiosidade dos usuários sobre seu desempenho. A nutricionista Mariana Jota, do site emagrecendo.com.br, já se acostumou aos feedbacks eletrônicos. “Uma vez uma paciente tirou a foto de um doce de abacaxi com o celular e enviou para mim”, diz. “Ela desejava saber o impacto daquela sobremesa em sua dieta.” Mariana mandou a respos-ta na hora, com a contagem aproximada de calorias da guloseima. É difícil sentir-se mais amparado que isso durante uma dieta.
BOTÃO DE “CURTIR” E MÚSICA AGITADAO mecanismo de informação e correção também explica o sucesso de aplicativos de celular que estimulam a atividade física. É o caso dos contadores de passos. Segundo uma pesquisa publicada em 2007, os usuários aumentam sua atividade física em 2 mil passos por dia, o equivalente a 1,6 quilômetro ou 30 minutos de caminhada. O levantamento foi feito pelo Centro de Pesquisas Biomédicas Pennington, nos Estados Unidos. Outro exemplo é o programa Nike +, que conecta o corredor ao Facebook no início do treino. Cada vez que alguém aperta o botão de “curtir”, o corredor ouve palmas de incentivo. O aplicativo também permite programar uma canção agitada para quando o ritmo estiver esmorecendo. Ele é o favorito da analista de mídias digitais Luiza Spinelli, que corre pelo menos duas vezes por semana. Aos 24 anos, incomodada com uns quilos a mais, ela começou a perder peso com a ajuda do aplicativo que instalou em seu celular. “Quando estou exausta, aperto a opção Power Song (música de ritmo forte) e consigo o estímulo final”, diz ela. Luiza acompanha sua evolução em gráficos que mostram a distância percorri-da, a velocidade e seus recordes. Com esse aparato informativo, ela voltou aos 57 quilos e queimou 8.500 calorias. Agora, quer passar de 5 para os 7 quilômetros por treino, no menor tempo possível.

Ter amigos no Facebook parece contar a favor da perda de peso. Uma pesquisa feita pelos criadores do programa MyFitness-Pal (uma espécie de contador de calorias de bolso, que pode ser carregado no celular) mostrou que os usuários emagrecem na mesma proporção em que cresce o número de seus amigos. Quanto mais gente olhando, melhor o resultado. A influência de amigos virtuais levou a administradora de empresas Carolina Arcanjo, de 28 anos, a perder mais de 50 quilos. A um passo da diabetes, com 131 quilos, pernas inchadas e dor nas costas, ela quase não conseguia passar na catraca do cinema, seu passatempo favorito. Carolina encontrou na internet o apoio de desconhecidos que, como ela, precisavam emagrecer. Criou um diário ele-trônico (emagrececomigo.blogspot.com) para expor suas angústias e localizar parceiros de dieta. “Sempre tem alguém que já devorou um pudim de leite condensado e não vai te condenar por um abuso”, afirma. Atualmente com 80 quilos (ela deseja perder mais 8), Carolina reatou com o namorado, fez cirurgia de redução de estômago e sonha com as primeiras férias de biquíni em Bertioga, no Litoral Norte paulista. “Perdi a conta das dietas desesperadas que fiz antes disso”, afirma.

Uma série de estudos comparativos tentou medir cientificamente a eficácia dos métodos de emagrecimento virtuais diante dos demais. O mais completo até agora é o de Jean Harvey-Berino, do Departamento de Ciências da Nutrição da Universidade de Vermont, nos Estados Unidos. Ele foi o primeiro a comparar o tratamento considerado padrão-ouro (que inclui dieta, atividade física e terapia comportamental) aos programas on-line. Publicado no periódico científico Preventive Medicine, o resultado mostra que houve maior perda média de peso (6,1 quilos) entre os integrantes do grupo que fizeram terapia cara a cara. O grupo que fez a dieta com a ajuda da internet perdeu 5,6 quilos, e o grupo que tinha sessões de atendimento pessoal e também pela internet perdeu 5,5 quilos. Quando se pensa na rela-ção custo-benefício, a internet não se sai tão mal. Está a meio quilo de distância do padrão-ouro. E, mesmo que emagreça menos que as dietas tradicionais, a redução de peso proporcionada pelas dietas na internet já faz bem à saúde. Os especialistas dizem que uma perda de 5% do peso corporal é suficiente para combater doenças crônicas relacionadas à obesidade, como diabetes e hipertensão.

Os médicos avisam, porém, que regimes digitais não servem para todos. O neurocientista americano Mark Mattson diz que esse tipo de recurso não ajuda quem não tem acesso permanente a um computador, não usa celulares inteligen-tes ou não tem afinidade com esses aparatos da tecnologia. “Há quem prefira pagar um médico e ir ao consultório”, diz Mattson. O consultor de seguros Jaime Delgado, de 45 anos, é assim. Ele emagreceu 6 quilos em 45 dias, frequentando uma clínica de nutrição. “Eu me obrigava a seguir o que foi combinado para poder apresentar bons resultados na visita ao consultório”, diz Delgado. Antes, o consultor tentou emagrecer com a ajuda de um programa eletrônico, mas não deu certo. “Achei as informa-ções muito soltas, não consegui me engajar”, diz. “Sei que tudo está ali, mas preciso da disciplina de alguém que me cobre e oriente pessoalmente.” Delgado é hipertenso e tem colesterol alto. Com a reeducação alimentar e caminhadas três vezes por semana, reduziu os índices clínicos para níveis considerados normais. A internet é um caminho cada vez mais usado para quem quer perder peso e recuperar a saúde – mas não é o único.
 
Com Nathalia Ziemkiewicz

A professora mineira Edna de Paula Batista, de 42 anos, em sua casa, em Serra, Minas Gerais.  (Foto: Nidin Sanches / Nitro)

Acima do peso desde a infância, Edna experimentou diversos regimes nos últimos anos. Ela afirma que a estratégia de perder peso com a ajuda da internet dá certo porque não a impede de ter vida social. Com moderação, diz ter incluído até pizza no cardápio. Edna perdeu 20 quilos, mas chegou a pesar 105 quilos (ela mede 1,63 m).  

O consultor de seguros paulista Jaime Delgado, de 45 anos, caminha no bairro onde mora, em São Paulo.  (Foto: Rogério Cassimiro/ÉPOCA)




Ele emagreceu seis quilos em um mês e meio após passar por uma avaliação em um consultório. Jaime afirma que só consegue se mobilizar quando tem de apresentar resultados pessoalment



A administradora de empresas Carolina Arcanjo, de 28 anos, em sua casa, em São Paulo.  (Foto: Cassimiro/Época)




Carolina criou um blog (emagrececomigo.blogspot.com) para se engajar na dieta e perder peso. Chegou a pesar 131 quilos. Emagreceu mais de 50 quilos com o apoio dos amigos e uma cirurgia de redução de estômago.


Luiza Spinelli, de 24 anos, corre no Parque do Ibirapuera, em São Paulo.  (Foto: Cassimiro/Época)

Luiza perdeu dois quilos com a ajuda de um aplicativo de celular que a conecta ao Facebook no início do treino. Sempre que um amigo clica na opção curtir, ela ouve palmas.
 

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