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1.22.2012

Farmácia Popular não passa no teste do vovô


Idosos ficam sem remédio a preço de custo e gastam até 50 vezes mais na rede particular

Rio - “Ao resolver investigar a falta de medicamentos na rede de Farmácia Popular do estado, constatei os problemas que os idosos e a população em geral enfrentam quando precisam dos remédios. Logo ao chegar na unidade do Méier, me deparei com a servidora municipal Ângela Macedo, 64 anos, tentando comprar remédio para o colesterol. Ela me disse: ‘Tentei a Sinvastatina, mas não tinha. Fiquei na mão’.

Dentro da unidade do Méier tem ar condicionado, cadeiras e água gelada. Um ótimo atendimento. Contudo, falta o mais importante: 24 remédios dos 52 oferecidos a R$ 1 na cesta da Secretaria Estadual de Saúde. Eu pesquisei, e o bairro é o que concentra, segundo o IBGE, uma das maiores populações de idosos no Rio. São cerca de 30% de velhinhos.
Foto: Carlo Wrede / Agência O Dia
Desabastecida, rede Farmácia Popular, um programa público, não cumpre papel social | Foto: Carlo Wrede / Agência O Dia
Também estive na farmácia de Niterói, onde a situação é crítica. Quem precisa de remédios não encontra 12 de 55 que deveriam ser oferecidos a preço bem mais em conta. Isso significa que, na ponta do lápis, a compra na rede privada pode sair 5.700% mais cara, pesando muito no bolso de quem não pode pagar.

Também pesquisei que Niterói é município com o maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do estado e tem cerca de 100 mil idosos. Mas há quem fique sem remédio. A bancária Tânia Moraes, 48 de anos, estava revoltada. E reclamou muito comigo, com toda razão: ‘É um absurdo. Não tenho outra palavra para definir a situação. Toda vez que venho, é esse estresse. Tentei comprar a Hiocina e não encontro na rede popular’.

Quem vai à rede privada paga caro. Remédios como o Aciclovir de 200 mg — que trata Herpes — custam até R$ 57. Para tratar o aumento do colesterol, o Sinvastatina chega a custar R$ 25. O gari Alexandre Viana, 42, me falou que, com cinco pessoas na casa, ou eles comem ou tratam as doenças”.

'A gente fica desesperada'

As contrações seguidas de dor retornam à mente da dona de casa Deise Correa de Souza, 31 anos, quando ela lembra a primeira gravidez de risco: “Era horrível. Não podia me estressar por nada”, conta ao Vovô Secreto. Mas basta sair da Farmácia Popular de Niterói, suando, que o desespero reaparece.

“Olha, o que a gente passa aqui ninguém devia viver em lugar algum. Falta tanta coisa. É fralda, é remédio... a gente fica desesperada”, desabafa.

Hoje, grávida de cinco meses, Deise não consegue comprar remédio para controle da pressão. “Sofro de hipertensão desde jovem e vivencio uma gravidez de risco. Se não encontro o medicamento na farmácia do estado, vou comprar onde?”, questiona.

Muitas das vezes, a gente não tem nem o dinheiro da passagem para chegar ao local. Imagina para chegar até aqui e ouvir que não tem. É mais que frustrante, sabe? É humilhante”, reclama.

Sem remédio na mão, paciente se sente desprotegido

Além de enfrentar as dificuldades causadas pela sequela do Acidente Vascular Cerebral (AVC) do pai, a bancária Tânia Moraes precisa manter o estoque pessoal de remédios para o tratamento do sistema urinário da tia, que é hipertensa: “Ela precisa tomar diariamente medicamento que controle a incontinência. Não dá para ficar sem”, afirma. De acordo com o clínico geral Marcelo Tayah, do Hospital Samaritano, a suspensão de qualquer tratamento pode causar no paciente o agravamento de doenças sob controle absoluto e até o surgimento de outras enfermidades específicas.

“Remédio de pressão, para diabetes, de controle do colesterol ou calmantes são, de forma geral, básicos em uso crônico. Na falta deles, o paciente pode piorar em poucas semanas”, alerta.

Ainda segundo o médico, o agravamento maior é no lado psicológico do doente que fica fora da cobertura. “Quando eles não estão em posse do medicamento, sentem-se desprotegidos. Essa situação é pior porque gera ansiedade, um descontrole emocional muito grande. No fim, é muito desgastante para quem tem de lidar com essa situação”, analisa.

Instituto culpa fornecedor pela falta de estoque

Não é a primeira vez que a rede Farmácia Popular, mantida desde novembro pelo Instituto Vital Brazil, fica sem o estoque completo de medicamentos. Em novembro do ano passado, o órgão emitiu uma nota oficial explicando a reposição de urgência do estoque dos remédios — programada para ser concluída no dia 4 daquele mesmo mês.

Em relação à atual falta, o instituto confirmou, em outra nota, que houve um atraso na entrega dos medicamentos por parte de alguns fornecedores, vencedores de licitação homologada no fim de dezembro de 2011. Ainda de acordo com a nota, a entrega desses medicamentos na rede Farmácia Popular começará a ser feita a partir de amanhã e deverá ser regularizada em um prazo máximo de 10 dias.

Lista de medicamentos em falta

Farmácia Popular do Méier

Aciclovir 200 mg / 10 comprimidos
Amitriptilina 25 mg / 40 comprimidos
Benzoato de Benzila 100/ml - vidro
Carbamazepina 200 mg / 30 comprimidos
Carbonato de Cálcio 500 mg / 30 c
Diazepam 10 mg / 40 comprimidos
Diazepam 5 mg / 30 comprimidos
Digoxina 25 mg / 20 comprimidos
Diltiazem 30 mg / 50 comprimidos
Eritromicina 250 mg / 10 comprimidos
Glibenclamida 5 mg / 40 comprimidos
Hioscina 10 mg / 20 comprimidos
Mebendazol 100 mg / 6 comprimidos
Metronidazol 250 mg / 20 comprimidos
Metronidazol 500 mg / 5G Gel Vag
Nifedipina 20 mg / 30 comprimidos
Nifedipina Retard 20 mg / 20 comprimidos
Paracetamol 500 mg / 10 comprimidos
Predinisona 20 mg / 20 comprimidos
Predinisona 5 mg / 20 comprimidos
Propranolol 40 mg / 40 comprimidos
Ranitidina 150 mg / 20 comprimidos
Sinvastatina 20 mg / 15 comprimidos
Vitamica C 500 mg / 20 comprimidos

Farmácia Popular de Niterói

AAS 100 mg / 40 comprimidos
Carbamazepina 200 mg / 30 comp
Carbonato de Cálcio 1250 mg / 60 comp
Carbonato de Cálcio 500 mg / 30 comp
Diazepam 5 mg / 30 comprimidos
Diltiazem 30 mg / 50 comprimidos
Eritromicina 250 mg / 10 comprimidos
Glibenclamida 5 mg / 40 comprimidos
Glibenclamida 5 mg / 30 comprimidos
Hioscina 10 mg / 20 comprimidos
Ranitidina 150 mg / 20 comprimidos
Sinvastatina 20 mg / 20 comprimidos

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