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1.21.2012

Parto domiciliar ganha adeptos, mas ainda enfrenta resistência de médicos

Em meio ao crescimento desse modo de dar à luz, entidades médicas alertam para os riscos, principalmente o de perder faturamento nos hospitais que cobram muito caro para fazer uma cesariana.  

estadão.com.br
SÃO PAULO - O parto domiciliar, tendência que cresce no mundo todo e adotada por celebridades como Gisele Bündchen, encontra resistência de médicos. Se por um lado gestantes e muitos profissionais defendem um modo mais natural de dar à luz, órgãos como o Conselho Regional de Medicina (Cremesp) alertam para riscos.
Patricia Boudakian, que passou por parto normal em casa, e sua filha Alice Boudakian - Nilani Goettems/AE
Nilani Goettems/AE
Patricia Boudakian, que passou por parto normal em casa, e sua filha Alice Boudakian
Em junho passado, o Cremesp passou a não recomendar o procedimento nos domicílios - salvo em casos de urgência. As mulheres que não abrem mão de ter o filho em casa acabam recorrendo a parteiras e doulas - um tipo de assistente.
Embora não haja dados nacionais sobre mães que preferem o lar ao hospital, sabe-se que o número é crescente. Na opinião delas, o parto em casa é uma conquista, por ser mais humanizado e diminuir as intervenções médicas. E representaria uma vivência de profunda intimidade feminina. Não à toa, os nascimentos em casa nos Estados Unidos subiram 20% entre 2004 e 2008, segundo pesquisa da Birth, publicação especializada em cuidados perinatais.
O posicionamento do Cremesp não é uma medida proibitiva, mas se o médico fizer um parto domiciliar e algo der errado, ele será cobrado, diz Silvana Morandini, conselheira do órgão. "Muitas vezes, a paciente aceita fazer parto em casa porque não sabe dos riscos que ela e seu bebê correm", explica.
Entre os principais problemas estão hemorragia, sofrimento fetal e parada de progressão, que podem resultar em danos graves e morte. "Não existe parto de baixo risco, porque tudo depende das intercorrências. No hospital há muito mais chances de tudo dar certo", diz.
Segundo a conselheira, os órgãos médicos não podem opinar sobre a escolha da mulher, mas eles devem incentivar os médicos a orientar as pacientes sobre as possíveis dificuldades.
É também a posição de Vera Fonseca, diretora da Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), um dos apoiadores do Cremesp, ao lado da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). "Parto domiciliar é voltar para trás. É não fazer uso da tecnologia que conquistamos para evitar as dificuldades de antigamente."
Defesa
Os defensores do parto domiciliar argumentam que ele é feito após um bom planejamento e somente se a mulher for acompanhada durante o pré-natal e não tiver outros riscos ou doenças associados. O acompanhamento na hora do nascimento também é rigoroso, com os equipamentos necessários e o hospital a ser procurado em caso de emergência, sem contar com o altíssimo  risco de infecção hospitalar.
Essa preocupação é reforçada pela obstetra Carla Polido, professora da Universidade Federal de São Carlos. "A equipe tem de estar pronta para lidar com situações graves." Segundo ela, a equipe não vai despreparada para uma residência, mas é importante que a família saiba quais são os recursos que podem ser oferecidos e em que ocorrências há mais dificuldade de reversão.
Após quase oito anos, o obstetra e ginecologista Jorge Kuhn não faz mais partos em casa. A decisão veio após a recomendação do Cremesp. "Não quero ir contra o órgão." Ele indica casas de parto, mas os médicos também são proibidos de atuar nesses locais.

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