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1.19.2012

Tratamento elétrico abranda sintomas do Parkinson

Doenças neurodegenerativas

'Estímulo profundo do cérebro' com impulsos elétricos contínuos mostrou-se eficaz e mais seguro em pesquisa americana

cérebro Técnica aplica eletricidade para mitigar tremores relacionados ao Parkinson (Thinkstock)
Pesquisadores da Universidade da Flórida, nos Estados Unidos, divulgaram os primeiros resultados de testes clínicos mostrando que a estimulação profunda do cérebro com corrente contínua — um dos tratamentos cirúrgicos aplicados em pessoas com Doença de Parkinson — foi eficaz na melhora dos sintomas dos pacientes com a doença em estado avançado. Os resultados foram divulgados na versão online do periódico The Lancet Neurology.

Saiba mais

DOENÇA DE PARKINSON
É uma doença degenerativa e progressiva do sistema nervoso. A degeneração das células nervosas na doença não tem causa conhecida. A doença não tem cura, mas existem tratamentos que diminuem seus sintomas, que são, principalmente, tremores quando os músculos estão em repouso e lentidão dos movimentos. Afeta cerca de 1 em cada 250 indivíduos com mais de 40 anos.
ESTIMULAÇÃO PROFUNDA DO CÉREBRO
Em uma intervenção cirúrgica, é inserido um eletrodo no cérebro do paciente, e esse dispositivo recebe estímulos que funcionam como um marcapasso cerebral. Eles normatizam o circuito cerebral que foi danificado pela falta de dopamina no cérebro — deficiência que caracteriza a Doença de Parkinson. Atualmente, essa estimulação pode ser ou baseada em voltagem, ou em corrente contínua — esta última caracterizada por não se alterar frente à resistência cerebral.
A estimulação profunda do cérebro é uma técnica já utilizada no tratamento de pessoas com a Doença de Parkinson e, embora não cure o problema, pode abrandar os sintomas mais comuns, como tremores, incapacidade motora e movimentos involuntários.
A estimulação pode ser feita com corrente contínua, que envia impulsos elétricos aos neurônios. Embora tenha se mostrado eficaz clinicamente, nenhum estudo havia antes observado seu grau de segurança. Essa pesquisa, que também foi realizada por outros 14 centros médicos, testou justamente a segurança e a eficácia desse tipo de estímulo.

Opinião do especialista

Erich Fonoff
Neurocirurgião da Divisão de Neurocirurgia Funcional do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP (IPq HC)

"Clinicamente, já era possível observar que a estimulação profunda no cérebro com corrente contínua é eficaz, mas só agora temos um estudo que comprove esses resultados.
A pesquisa mostra que os estímulos com corrente são tão bons quanto o outro tipo de estímulo. E mais, podem ser considerados até melhores, já que se mostraram mais seguros e são mais constantes, poupando o paciente de oscilações nos quadros de melhora na doença."
A pesquisa — Foram selecionados 136 pacientes que tinham Doença de Parkinson há pelo menos cinco anos quando o estudo começou. Todos passaram por cirurgia e receberam um implante de eletrodo. Depois disso, eles foram aleatoriamente distribuídos em dois grupos: um que começou a receber estimulação profunda do cérebro por corrente contínua logo após a cirurgia e outro que só teve a estimulação iniciada três meses depois. Todos os participantes foram acompanhados por 12 meses.
Durante esses meses, todos os pacientes mostraram resultados positivos e passaram por longos períodos de controle efetivo dos sintomas. Mas o tempo sem os sintomas do Parkinson foi maior em pacientes que logo receberam o estímulo: eles ganharam 4,27 horas a mais nesse período ausente de sintomas, enquanto esse aumento foi de 1,77 hora no outro grupo. Os pacientes também relataram uma melhoria de qualidade em suas atividades diárias, mobilidade, estado emocional, apoio social e conforto físico.
"Acho que é seguro dizer que, desde que o tratamento dopamina surgiu, na década de 1960, a estimulação profunda do cérebro tem sido o maior avanço para os pacientes com sintomas da Doença de Parkinson", afirma Michael S. Okun, coordenador do estudo. "Esse estudo valida o uso de leves correntes elétricas entregues a estruturas específicas do cérebro, a fim de melhorar os sintomas da doença em pacientes com sintomas avançados”.
Para Okun, sua pesquisa marca uma evolução na melhoria da tecnologia de estimulação profunda do cérebro. "Na minha opinião, vamos ver, ao longo dos próximos dez anos, uma corrida para construir dispositivos cada vez melhores. E esta evolução irá ajudar, além dos pacientes com a Doença de Parkinson, todos aqueles com outras doenças neurológicas".
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