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1.13.2012

UMA GERAÇÃO SEM CÁRIE

Vida sem cárie

Avanços na odontologia permitem que se chegue à fase adulta sem obturações. Mas isso ainda é um desafio

MARGARIDA TELLES E LUCIANA VICÁRIA

SORRISO PERFEITO Os irmãos Marques dos Santos, em Bauru. Eles nunca tiveram cáries  nos dentes  (Foto: Camila Fontana/ÉPOCA)
Os filhos da terapeuta ocupacional Maria Clotilde Marques dos Santos não são diferentes da maioria dos jovens brasileiros. Gostam de comer doces, nem sempre têm paciência para escovar os dentes com o cuidado necessário e de vez em quando esquecem o fio dental. Mesmo assim, nunca tiveram cáries. Desde pequenos, Felimpo, de 23 anos, Felipe, de 21, Fernanda, de 18, e Fabiana, de 16, visitam o dentista com uma periodicidade maior que a habitual. Uma vez por mês aplicam um jato de bicarbonato de sódio nos dentes e recebem orientações sobre como melhorar a escovação. “Eles nunca tiveram de se submeter a tratamentos caros, doloridos e traumáticos, como aconteceu comigo”, diz Maria Clotilde.

Os quatro jovens representam uma geração que já tem condições de passar pela infância e adolescência sem cáries. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, aos 12 anos de idade, as crianças têm hoje em média 1,6 dente atingido por cáries. Há 25 anos, no Brasil essa média era de quase sete dentes cariados por criança. Ela foi reduzida no país para cerca de dois, segundo um levantamento do Ministério da Saúde divulgado no ano passado.

De acordo com a OMS, o Brasil saiu de uma condição de média incidência de cárie em 2003 para uma de baixa incidência em 2010. Parte desse sucesso deve-se à adição de flúor à água, que torna os dentes mais resistentes. Outra se deve à melhoria nos programas de prevenção e combate à cárie nos últimos 20 anos, que têm levado a população a adotar hábitos mais saudáveis desde a infância.

“Passar as duas primeiras décadas da vida sem cárie ainda requer um esforço bem grande”, diz o odontopediatra José Eduardo Lima, professor da Universidade de São Paulo. “É uma fase crítica em que se abusa do doce e se escova o dente muito mal.” A cárie é causada por uma bactéria que se desenvolve quando há placa de tártaro, composta principalmente de micro-organismos, substâncias orgânicas e depósitos de minerais. Se não for removida, a placa pode causar inflamação na gengiva (gengivite) e facilitar o surgimento de cáries.

Passas as primeiras duas décadas sem cárie ainda requer um esforço bem grande"
José Eduardo Lima, odontopediatra
Para diminuir a incidência de cárie nessa faixa etária, Lima passou a avaliar os dentes de seus pacientes todo mês (o mais comum é fazê-lo a cada três ou seis meses). A experiência com 650 pacientes durante 25 anos rendeu um índice de cárie baixíssimo: uma a cada 33 pacientes, taxa semelhante à de países como Suécia e Dinamarca.

Se uma ida ao dentista todo mês não cabe no bolso ou na agenda da família, é possível buscar outros meios de prevenir as cáries. “Escovar os dentes de forma eficiente continua sendo a melhor forma de evitar a cárie (leia o quadro sobre os mitos sobre higiene bucal)”, afirma Rodrigo Bueno de Moraes, cirurgião-dentista e consultor da Associação Brasileira de Odontologia. Segundo ele, as crianças devem ser acompanhadas em todas as escovações pelo menos até os 6 anos de idade.

A partir dessa idade, devem começar a ter um pouco mais de autonomia. Nessa fase, no entanto, ainda não é possível ensiná-las a escovar os dentes como os adultos, com a escova inclinada a 45 graus e movimentos que vão da base ao topo do dente.
Os odontopediatras apostam numa técnica mais simples e com resultados equivalentes. “Peça para que ela cerre os dentes e faça movimentos circulares em todos eles, limpando ao mesmo tempo os de cima e os de baixo (como mostra a figura ao lado)”, diz Moraes. “E que repita o movimento na parte interna dos dentes.” Os pais podem ainda complementar com um fio dental muito usado em crianças. Ele tem uma haste rígida que facilita o manuseio em espaços pequenos, como a boca de crianças.

Há uma série de mitos sobre a higiene bucal. O mais comum é que cárie em dente de leite não traz consequências aos dentes definitivos. Pode acontecer de a cárie avançar até o dente que ainda não nasceu (leia o quadro ao lado) e atacá-lo da mesma forma. Também é comum escovar o dente com força em movimentos horizontais. A prática pode danificar o esmalte dos dentes e torná-los ainda mais suscetíveis a bactérias. “Peço para meus pacientes levarem a escova e me mostrarem como fazem a escovação”, afirma Moraes.
Se ainda não conseguimos banir a cárie de nossa boca, será possível lidar com ela de forma menos dolorosa. Um novo tratamento, baseado em um gel produzido a partir de uma proteína do mamão, promete ajudar o dentista a remover a parte comprometida do dente sem ter de extrair o tecido sadio ou anestesiar o paciente. Existe também uma massa química enriquecida de flúor que funciona como uma espécie de cimento e torna desnecessária a remoção total de alguns tipos de cárie.

Cientistas agora buscam tecnologias para reconstituir a parte do dente atingida pela cárie. Isso evitaria o grande mal causado pela cárie severa: a morte dos dentes. Enquanto o arsenal não chega ao mercado, a prevenção continua sendo o melhor remédio.





- (Foto: Gerson Mora) 

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