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2.21.2012

A insustentável sustentabilidade

  Debaixo do seu nariz


Em uma dessas conversas do dia a dia fui obrigado a ouvir: “Sou contra esse negócio de sustentabilidade”. Opa, me interessei. Mas o pior veio a seguir: “Não vou estar vivo mesmo daqui um tempo...” Ok, mais um idiota no mundo. Tenho hábito de me questionar sobre as modas e ditames modernos porque eles geralmente são bastante ricos para um exercício de pensamento. A sustentabilidade, por exemplo.
Vejo um esforço grande da mídia em colocar na cabeça das pessoas que precisam reciclar o lixo, não jogar lixo nas ruas, consumir menos e etc., e responsabilizam exclusivamente você por essa empreitada rumo à um mundo mais limpo. Mas ao mesmo tempo em que dizem para você consumir menos, não há como você passar um dia sem ouvir ou ler a palavra “promoção”. No meio da crise de 2008, o presidente Lula veio em rede nacional pedindo para que os brasileiros não deixassem de comprar seu carrinho, sua casinha, sua tevêzinha...
Imagine que você compre hoje uma pasta de dentes. Você obviamente compra a pasta, ou seja, o produto pastoso que será utilizado (objetivo da compra), que está dentro de um tubo de plástico (lixo) e dentro de uma caixa de papel (lixo) que veio empilhada em um grande saco de plástico (lixo). Então você coloca sua comprinha dentro de uma sacola plástica (lixo) e pega sua nota fiscal (lixo). Portanto, para consumir um simples produto você, caro leitor, foi obrigado a produzir uns 4 ou 5 tipos de lixo. Aí me pergunto: eu tenho mesmo a obrigação de reciclar e separar este lixo, se sou praticamente obrigado a produzí-lo? Por questões logísticas e de higiene os produtos que compramos são embalados individualmente. Não seria mais lógico se pudéssemos optar por recarregar a pasta de dentes ou garrafas de bebidas no supermercado, assim como enchemos um tanque de gasolina? Sim, é mais lógico mas muito mais caro para os empresários.
E então, a ideia de que precisamos manter o mundo limpo foi enfiada na cabeça das pessoas retirando a responsabilidade dos verdadeiros produtores de lixos, que são as grandes empresas. Quando você separa seu lixo (caixinha da pasta de dentes, por exemplo) e leva até um posto de coleta, você deveria ser pago pela empresa que fabricou esse lixo. As empresas fabricantes de lixo precisariam ser obrigadas a apresentar planos de reciclagem, remunerando os clientes que separassem o lixo. Um exemplo prático: eu compro a pasta de dentes e a caixinha devolvida no supermercado serve como bônus para uma compra futura. Acho isso bastante simples e iria reduzir o problema com o lixo. A solução para o lixo é transformá-lo em vantagem comercial, em dinheiro. Quando a pessoa for jogar uma embalagem na rua, ele vai estar evidentemente jogando dinheiro fora.
Essa ideia de sustentabilidade colocado pelos supermercados é a maior balela que já ouvi nos últimos tempos. Típica atitude ignorante de eleger um vilão e tantar baní-lo por meio de pactos ou leis estúpidas sem embasamente científico qualquer. Agora para termos uma sacolinha plástica precisamos pagar. No supermercado Pão de Açúcar paga-se R$ 0,19. Ou seja, continua-se a fabricar sacolinhas plásticas e quem as utilizava como saco de lixo precisará comprar mais sacos plásticos e ainda por cima comprar as tais “sacolas ecológicas” (por R$ 1,99) que são fabricadas no Vietnã e são de plástico (ou algum produto semelhante). Alguns especialistas dizem que isso pode se transformar em um problema sanitário importante no Brasil pois 88% da população brasileira reutiliza sacolas plásticas para armazenar lixo (segundo Datafolha). 
A única mudança significativa foi que agora vamos impactar o meio ambiente com o mesmo plástico, mas pagaremos por isso. E os donos de supermercados e grandes empresários vão lucrar mais. Grande novidade essa tal sustentabilidade.

Luís Fernando S. de Souza-Pinto luisfernandossp@gmail.com

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