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2.07.2012

Quando os amigos se separam


Precisei me distanciar, física e emocionalmente, do fato para abordá-lo num post. Quando um casal muito querido anunciou a separação, não absorvi a notícia. Preferi acreditar que eles iam mudar de ideia, que o negócio não iria vingar. Mas o assunto voltava à mesa. Cada um, à sua maneira, e separadamente, ia nos falando que o casamento tinha subido no telhado. Agiam como médicos emitindo boletins sobre um doente terminal, enquanto nós esperávamos um milagre. Pareciam estar não só amadurecendo a decisão entre eles, como nos preparando, e todos à sua volta, para o desfecho do casal tão legal.
Quando meu amigo finalmente me disse, à mesa de um almoço, que não estava mais em casa, minha ficha caiu. Com vergonha do que estava prestes a acontecer (meus olhos iam marejar numa fração de segundos), e aproveitando que o celular dele tocou, levantei correndo para me servir do buffet. “Já volto”. Imagina só que ridículo alguém ver de longe a moça emocionada diante do cara sentado com cara de “não tenho nada a ver com isso”. Iam achar que ele estava terminando comigo e aí a coisa ia complicar ainda mais. Sem saber se ligava para a mulher dele – minha amiga – imediatamente para checar a veracidade daquela bomba, ou se ligava para meu marido a fim de desabafar, tratei de pensar em outra coisa, pegar uma alface e voltar para o meu lugar com uma cara de quem tinha acabado de ouvir o ministro da Fazenda anunciando uma medida incompreensível para estimular a economia rural.
- ..é para valer?
- É, agora é, fui para um flat.
Tudo então poderia mudar, pensei. Flat é solução temporária. Não havia um contrato imobiliário decretando aquela separação de corpos por um período mínimo de um ano, ou três, com multa e tudo! Já pensou? Ah, era uma solução paliativa. Flat é coisa de quem brigou, como nas novelas. Mas eles não tinham brigado. Não foi uma briga que detonou a separação, até porque todo mundo briga e sabe como a coisa é. Uma separação é gestada, como um bebê que nasce para ser abandonado na roda do infortúnio. Uma decisão triste que passa, necessariamente, por um processo lento.
Finalmente veio o dia em que eles nos contaram sobre o novo apartamento dele, que a gente precisava conhecer e aí eu estava diante de um fato consumado. Ficamos tristes, eu e meu marido, muito tristes. Nossos programas juntos cessaram. Naquele período de luto, o casal recém-separado não tá a fim de fazer programas da vida de casados por melhor que tenha ficado a nova relação. Compreensível. E voltará a fazer? Quando? Acompanhados de quem? Ô, meu Deus. Como os amigos sofrem.
Mas… amigos verdadeiros ficam para a vida toda porque conquistaram nossa confiança e um latifúndio no nosso coração. Amizades de infância prosperam na convivência intensa do tempo passado na escola, é verdade. E muitas amizades da vida adulta surgem pela confluência de fatos como gravidez simultânea, filhos na mesma idade, trabalho semelhante, moradia próxima e malhar no mesmo lugar. Ok. As coincidências ajudam, embora não sejam essenciais. Para querer bem e se mostrar disponível, ouvir a dor e celebrar as conquistas do outro, não precisamos necessariamente estar pegando a mesma onda. A gente fica com saudade do que viveu junto, mas respeita a decisão, apóia e continua ali, pertinho ou não, torcendo pela felicidade do outro. Sem falar que, das diferenças, surgem ótimas lições. Eu acredito nisso porque, como já disse aqui, gosto de pegar carona na experiência do outro. E você?
Isabel Clemente
Época

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