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3.01.2012

APRENDA A ENVELHECER SEM FICAR VELHO -

  Dr. Moysés Paciornik

 
Ginecologista e obstetra que completou 93 anos neste mês dá dicas de alimentação e qualidade de vida. Ele completou 93 anos no último dia 4. E, ao contrário de muitos que chegam a esta idade, o médico ginecologista e obstetra Moysés Paciornik tem muita disposição para viver, saúde que faz inveja aos mais novos e muita, mas muita vontade de trabalhar.
Isso mesmo, ele continua batendo o cartão na Rua José Loureiro, no mesmo consultório onde começou a atender as pacientes. Deixou de fazer partos e cirurgias aos 90 anos, mas ainda se dedica à clínica. No currículo, já ajudou mais de 60 mil crianças a nascer.
Ficou famoso em Curitiba e no mundo inteiro porque aprendeu a envelhecer sem ficar velho. Com esse tema publicou, em 2000, um livro que trata do envelhecimento e da geriatria.
É membro da Academia Paranaense de Letras e da Academia Brasileira de Médicos Escritores. Em entrevista à Gazeta do Povo, Paciornik conta alguns dos segredos para quem quer chegar aos 100 anos de idade.
Segundo ele, é preciso evitar os três pós brancos (açúcar, farinha e sal) e praticar exercícios regularmente. Com a palavra, o Dr. Cócoras. Quem desconhece o motivo desse apelido simpático, já vai entender o porquê. Qual é a mensagem que o senhor pode passar às pessoas que desejam envelhecer com saúde? Elas precisam aprender a comer corretamente e fazer exercícios.
 Na atualidade, esses dois assuntos são modernos e todo mundo sabe. Devemos evitar os três pós brancos: o açúcar, a farinha e o sal. Isso já vem sendo difundido há 40 anos. A questão é que muitas revistas falam hoje de como comer certo com conselhos mais ou menos complicados. Eu sou prático. Evite os pós brancos e a gordura animal.
Mas vamos nos alimentar do quê? O que Deus colocou no mundo precisa ser comido, que é o que o índio da mata come. Na mata, ele não tem os pós brancos. Come verduras, frutas, carne magra resultado da caça, tudo à vontade. E o senhor leva essa dieta a sério? Consegue evitar alimentos que fazem mal à saúde?Gosto de chocolate, mas evito. 
De um modo geral, qualquer doce é gostoso, contudo tem de ser evitado. De vez em quando dá para comer uma sobremesa. Porém, eu procuro não comer qualquer tipo de bolo, pão, bolacha e macarrão - tudo o que tem açúcar e farinha. O sal deve ser usado moderadamente. Pela manhã, como duas qualidades de frutas e café com leite magro, sem açúcar. No almoço e jantar é salada, carne magra (suína em geral não como, porque não gosto). Também incluo no cardápio arroz branco e feijão. Qualquer qualidade de peixe está liberada.
Com essas dicas, é certo concluir que somente as pessoas magras vão viver mais? As magras estão menos sujeitas a uma série de doenças. Se não comem gordura animal, evitam o colesterol e os triglicerídios. Se retiram da alimentação o açúcar e a farinha, previnem a diabete. Sem o sal, a pessoa não vai estar propensa a ter hipertensão arterial.
 
Em relação aos exercícios físicos, ir à academia ou caminhar todos os dias é suficiente? Ambos são uma boa alternativa para envelhecer, porque protegem o organismo. Mas aconselho subir e descer escadas. Isso porque é um exercício econômico, eficiente e não custa nada. Até os meus 90 anos subia e descia as escadas dos 19 andares do meu prédio duas vezes ao dia.
Hoje só desço. Trabalho o corpo todo nessa atividade física, porque também pratico o 'up and down' (em português, levantar e baixar), ou seja, fico de cócoras e depois levanto, esticando todo o meu corpo. Faço isso duas vezes em cada pavimento. O 'up and down' é barato, não custa nada e pode ser feito em qualquer lugar. Não requer aparelhos e os resultados aparecem dentro de poucos dias. Uma vez fui aos Estados Unidos visitar o Empire State Building e subi, sem parar, os 120 pavimentos do edifício. Mas naquela época eu era mocinho, tinha 78 anos.
Quais os benefícios de ficar de cócoras ou fazer o 'up and down' algumas vezes ao dia? Na década de 70, compreendemos porque as índias caingangues não têm varizes, celulite e a pele do rosto é perfeita. Observamos também o porquê das índias da mata conservarem o canal genital em muito melhor estado do que as mulheres civilizadas. A primeira questão está relacionada ao parto de cócoras. No parto deitado, o canal vaginal se estreita cerca de 28%. Então, esse canal estreito é mais fácil de rasgar e machucar a mulher. Ele é um dos culpados.
Porém, fomos ao Paraguai e descobrimos outra questão importante. Por que as índias da mata que moram nesse país fazem o parto deitado e não estão tão estragadas como as nossas? Naquela ocasião descobrimos que isto também deve-se ao fato de as índias não usarem cadeira. Eis a chave de todo o problema. A cadeira é prejudicial à saúde? Tem uma lei de medicina que explica que todo órgão em repouso prolongado enfraquece.
 
Sentado na cadeira, o corpo inteiro - da cabeça aos pés – está em repouso. Então tudo fica fraco e as conseqüências são varizes, celulites, dores na coluna, problemas com prisão de ventre. De cada 100 civilizados, 80 têm ou terão dor na coluna. E o que as pessoas que trabalham o dia todo sentadas devem fazer? A cada uma ou duas horas é preciso parar para fazer o 'up and down'. O ideal é que se pratique até cem vezes o ato de levantar e baixar.
Já no sofá, na hora de assistir televisão, as pessoas devem ficar em posição de ioga, com as pernas cruzadas como os índios. Isso porque o sangue espremido é bombeado para a cabeça e o cérebro recebendo mais sangue funciona melhor. É uma boa dica para quem está estudando e para quem quer evitar a celulite.
 
Dr. Moysés Goldstein Paciornik (4 de outubro de 191426 de dezembro de 2008
 
 
Agora a notícia triste, publicada em 27/12/2008, na Gazeta do Povo, de Curitiba/PR:
 
"Morreu na tarde desta sexta-feira (26/12/2008), por volta das 17h30, o médico curitibano Moysés Paciornik. Ele estava com 94 anos e teve uma parada cardíaca após passar por uma cirurgia no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. O corpo do médico deve chegar a Curitiba na manhã deste sábado e será velado a partir das 20h30 na Associação Médica do Paraná. O enterro ocorrerá no domingo, às 11 horas, no Cemitério Israelita Santa Cândida.
Moysés Paciornik passava as festas de fim de ano na companhia da família em Angra dos Reis, litoral do Rio de Janeiro. Na última quarta-feira, o médico sofreu uma queda e quebrou uma das pernas. Levado de helicóptero para São Paulo, passou por uma cirurgia no mesmo dia e, desde então, apresentava um quadro estável. No fim da tarde de ontem, porém, teve uma parada cardíaca e não resistiu.
Segundo Ernani Paciornik, filho mais novo do médico, a família preparava uma grande comemoração de réveillon, mas, na memória de todos os parentes, ficará a festa do ano passado, quando ele ainda estava presente. “Meu pai era mais da cidade de Curitiba do que propriamente da família. Afinal, mais de 60 mil nasceram das mãos dele”, afirma.
 
O advogado Antonio Carlos Bettega conta que seus pais e sogros eram amigos de faculdade de Moysés Paciornik. O sogro dele, inclusive, formou-se junto com o médico na turma de 1938 da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Por causa dessa antiga amizade, há 15 anos, Bettega recebia em casa toda a família de Moysés Paciornik para a ceia de Natal. “Nossa noite do dia 24 foi menos alegre do que deveria ter sido. E está sendo muito mais triste agora”, lamenta.
De acordo com Bettega, Moysés Paciornik era um “velhinho da pesada”, que não parava nunca, mesmo aos 94 anos de idade. Na opinião dele, o médico não merecia ficar doente, justamente pelo fato de ainda ser tão ativo e continuar atendendo pacientes todas as manhãs. “Foi uma bênção as coisas acontecerem dessa forma, sem que ele tivesse de ficar sofrendo por muito tempo”, afirma. “Ele não está mais entre nós, mas deixa apenas boas lembranças e bons exemplos.”
Para o presidente da Associação de Obstetrícia e Ginecologia
 
 do Paraná (Sogipa), Hélvio Bertolozzi Soares, a morte de Moysés Paciornik representa uma perda irreparável para a medicina paranaense. “O professor Moysés era uma pessoa brilhante, desde o campo médico até as Letras”, diz. “Ele sempre deixou uma grande lembrança por onde passou e, por isso, vai fazer muita falta.”
Na última aparição pública, no dia 11 de dezembro, Moysés Paciornik foi o segundo paranaense da história a receber o Prêmio “Estado do Paraná”, concedido pela Assembléia Legislativa. Demonstrando muita lucidez e vestindo a inseparável gravata borboleta, o médico se lembrou do esforço do pai – um padeiro vindo da Polônia – para que ele pudesse se formar em Medicina na UFPR. Em discurso no plenário, Paciornik se disse um homem de sorte por nascer em Curitiba e fazer parte da história do Paraná. “Ainda me sinto bem para continuar contribuindo com o meu estado”, afirmou. “Quem sabe ainda consiga chegar aos 100 anos.”

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