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3.07.2012

Bloqueio de composto químico com efeito semelhante ao da maconha no cérebro emagrece

Pelo menos no laboratório: estudo mostra que limitar a produção do endocanabinoide 2-AG faz o corpo queimar mais calorias

IRVINE, Califórnia — Emagrecer ou manter o peso sem fazer força, e comendo tudo o que desejar, é o sonho de todo mundo. Pois bloqueando o endocanabinoide 2-AG no cérebro, pesquisadores da Universidade de Irvine conseguiram acelerar a queima de calorias. O estudo, cujos resultados foram publicados na revista “Cell Metabolism”, mostra que os endocanabinoides desempenham um importante papel no metabolismo. Eles são compostos químicos criados naturalmente no corpo e com efeito semelhante ao da maconha: sua estrutura é ´parecida com a do THC, principal psicoativo da planta Cannabis, a partir da qual se produz a droga.
Para acelerar o metabolismo, a equipe de Daniele Piomelli, professor de farmacologia da Universidade de Irvine, modificaram o cérebro de camundongos para limitar a produção do endocanabinoide 2-AG. Todos os mamíferos o possuem, e os pesquisadores acreditam que ele ajude a controlar os circuitos neurais envolvidos na queima de energia.
Como consequência do estado hipermetabólico em que entraram, os ratos passaram a comer mais e a se movimentar menos do que habitualmente fariam, mas não ganharam peso mesmo quando foram alimentados com uma dieta hipercalórica. Eles também não desenvolveram qualquer sintoma da síndrome metabólica, uma combinação de problemas como obesidade e hipertensão que pode levar a doenças cardiovasculares e diabetes.
— Descobrimos que estes ratos eram mais resistentes à obesidade porque eles queimaram calorias de forma muito mais eficiente do que a habitual — disse Daniele Piomelli, especialista em neurociência. — Sabíamos que os endocanabionides tinham um papel crítico na regulação de energia nas células, mas esta é a primeira vez que constatamos onde (no cérebro) isso ocorre.
Os ratos usados na experiência permaneceram magros porque sua gordura marrom — responsável por transformar energia em calor no organismo dos mamíferos — se tornou hiperativa e foi convertida em calor muito mais rapidamente do que seria normal.
Mas isso, infelizmente, ainda não quer dizer que uma droga capaz de limitar os níveis do 2-AG no organismo se torne a cura da obesidade, doença que hoje é preocupação no mundo inteiro. Pelo menos, não em pouco tempo. Piomeli lembra que os ratos tiveram células cerebrais manipuladas para se obter este resultado, o que não poderia ser feito em humanos.
— Para produzir os efeitos desejados, teríamos que desenvolver uma droga que bloqueasse a produção do 2-AG no cérebro, o que ainda não somos capazes de fazer — explicou o cientista. — Então, não cancele ainda a matrícula na academia.

O Globo

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