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3.24.2012

Estresse infantil

Agenda cheia, reprovação dos pais, conflitos na escola. Pesquisas na área de neurociência e comportamento mostram como a exposição a fatores estressantes compromete o desenvolvimento das crianças e o que fazer para evitar danos futuros

Rachel Costa

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Natação, inglês, equitação, tênis, futebol. É cada vez mais comum encontrar crianças que mal saíram da pré-escola e já cumprem agendas de “miniexecutivo”, com compromissos que se estendem ao longo do dia. A intenção dos pais ao submeter os filhos a essas rotinas é torná-los adultos superpreparados para o competitivo mundo moderno. O preço que se paga por tanto esforço, porém, pode ser alto. Ainda pequenas, essas crianças passam a apresentar um problema de gente grande, o estresse. “É uma troca que não vale a pena”, afirma o psicoterapeuta João Figueiró, um dos fundadores do Instituto Zero a Seis, instituição especializada na atenção à primeira infância. “Frequentemente essa rotina impõe à criança um sentimento de incompetência, pois lhe são atribuídas tarefas para as quais ela não está neurologicamente capacitada.” Como uma bomba-relógio prestes a explodir, o estresse infantil tem ganhado status de problema de saúde pública. Nos Estados Unidos, por exemplo, a Academia Americana de Pediatria publicou, em dezembro, novas diretrizes para ajudar os médicos a identificar e tratar esse mal. O risco dessa exposição, alertam os cientistas, são danos que vão bem além da infância, como a propensão a doenças coronarianas, diabetes, uso de drogas e depressão.

Dos poucos estudos brasileiros sobre estresse infantil, se destaca um levantamento realizado pela pesquisadora Ana Maria Rossi, presidente da International Stress Management Association no Brasil (Isma-BR). A pesquisa, feita com 220 crianças entre 7 e 12 anos nas cidades de Porto Alegre e São Paulo, revelou que oito a cada dez casos em que os pais buscam ajuda profissional para seus filhos por causa de alterações de comportamento têm sua origem no estresse. “O estresse é uma reação natural do nosso corpo, o problema é esse estímulo atingir níveis muitos altos ou se prolongar por longos períodos”, diz Ana Maria.

Para ajudar pais e profissionais de saúde a identificar quando há risco, cientistas do Centro de Desenvolvimento da Criança da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, propuseram uma divisão: o estresse positivo, aquele em que há pouca elevação dos hormônios e por pouco tempo; o tolerável, caracterizado pela reação temporária e que pode ser contornada quando a criança recebe ajuda; e o tóxico, o que deve ser combatido, ligado à estimulação prolongada do organismo, sem que a criança tenha alguém que a ajude a lidar com a situação. “A origem pode estar em episódios corriqueiros que gerem frustração ou aflição frequentemente, como brigas na escola ou com familiares, ou em situações únicas, mas com impacto muito grande, como a morte inesperada de alguém próximo, abuso sexual ou acidente”, esclarece Christian Kristensen, coordenador do programa de pós-graduação em psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Quando exposto a quantidades muito grandes dos hormônios do estresse, o organismo sofre uma espécie de intoxicação. Cai a imunidade, deixando a pessoa mais exposta a infecções, há uma interferência nos hormônios do crescimento e até mesmo o amadurecimento de partes essenciais do cérebro, como o córtex pré-frontal, é afetado. “Essa região é responsável pelo controle das funções cognitivas, como a capacidade de moderar a impulsividade e a tomada de decisões”, explica o neurocientista Antônio Pereira, do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
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SINAIS
Uma professora alertou Liliana para a dificuldade do filho Rafael em ler os enunciados.
No médico, descobriu-se o porquê: o garoto tem ansiedade e déficit de atenção
Mas o que tem tirado as crianças do eixo tão prematuramente? No estudo realizado pelo Isma-BR, em primeiro lugar aparecem a crítica e a desaprovação dos pais, seguidas pelo excesso de atividades, o bullying e os conflitos familiares. Esse último fator mereceu atenção especial em uma pesquisa realizada na Universidade de Rochester, nos Estados Unidos. E o resultado comprovou uma suspeita antiga. “Em nosso estudo demonstramos que o ambiente estressante está associado à ocorrência mais frequente de doenças nas crianças”, disse à ISTOÉ a pediatra Mary Caserta, coordenadora do trabalho, que envolveu 169 crianças entre 5 e 10 anos. Muitas vezes, os pais nem desconfiam que a enfermidade do filho pode ter raízes no estresse. “Passa tão batido que às vezes a criança é medicada de modo errado”, diz Marilda Lipp, diretora do Centro Psicológico de Controle do Stress e professora da PUC-Campinas. Encontrar reações físicas intensas, mas sem nenhuma doença de fundo não é mais novidade para os médicos. “Cefaleias e dores abdominais causadas por estresse são as queixas mais comuns”, diz Ricardo Halpern, presidente do departamento de comportamento e desenvolvimento da Sociedade Brasileira de Pediatria.

Outro perfil que se tornou comum nos consultórios é o da criança estressada pela superproteção dos pais. São os “reizinhos mandões”, como apelidou a psicopedagoga Edith Rubinstein. “Esses meninos e meninas têm muita voz dentro de casa e dificuldade de lidar com o esforço”, diz a especialista. Não deixar a criança aprender a contornar situações difíceis é extremamente prejudicial. Isso porque uma característica importante para evitar os quadros de estresse tóxico é justamente a resiliência – a capacidade de a pessoa se adaptar e sair de situações adversas. “Quando a criança é sempre tirada pelos pais do apuro, ela não desenvolve essa habilidade e se torna mais suscetível ao estresse”, diz a psicanalista infantil Ana Olmos.

Com a evolução científica, o que se tem constatado é que não só no comportamento as reações ao estresse são distintas. Estudando um grupo de 210 crianças de 2 anos, pesquisadores da Universidade de Rochester, nos Estados Unidos, notaram que comportamentos diferentes estão associados a níveis distintos de cortisol no sangue. Os pequenos voluntários foram divididos em dois grupos: as “pombas” (crianças cautelosas e dóceis) ou os “falcões” (atrevidas e assertivas). Enquanto as “pombas” apresentavam uma elevação abrupta na quantidade de cortisol circulando na corrente sanguínea quando expostas a situações estressantes, nos “falcões” a concentração desse hormônio permanecia praticamente inalterada. E isso trazia consequências diversas para os dois grupos: “pombas” demonstraram mais chances de desenvolver depressão e ansiedade. Já os “falcões” estavam mais suscetíveis a comportamentos de risco, hiperatividade e déficit de atenção. “É importante reconhecer essas diferenças para intervir”, disse à ISTOÉ Melissa Sturge-Apple, coautora da pesquisa.
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MÉTODO
Edmara de Lima coordena os professores e funcionários da Prima Escola
Montessori para diagnosticar as mudanças emocionais dos alunos
“O estresse é um fator de risco importante para a grande maioria das doenças mentais”, diz Guilherme Polanczyk, do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo. “E seu efeito sobre o organismo é bem maior em sistemas menos maduros, como o das crianças.” Prova disso foram os dados apresentados por pesquisadores da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos. A exposição à violência, ainda que moderada, foi capaz de gerar modificações no comportamento em 90% das 160 crianças entre 4 e 6 anos analisadas no estudo. As principais alterações eram pesadelos, voltar a fazer xixi na cama e a chupar o dedo. Em um terço dos pequenos voluntários, a consequência foi mais grave: ocorreram crises de asma, alergias e déficit de atenção ou hiperatividade. E 20% deles desenvolveram transtorno do estresse pós-traumático. “Quanto mais estresse na infância, maior a chance de se ter alterações físicas e psicológicas quando adulto”, disse à ISTOÉ Sandra Graham-Bermann, autora da pesquisa.

Foi após dois eventos estressores que a menina R., 14 anos, desenvolveu o transtorno obsessivo compulsivo (TOC). Na mesma semana, em 2009, ela viu o som do carro da mãe ser roubado e o pai escapar, por pouco, da tragédia no voo 3054 da TAM (que se chocou contra um hangar do aeroporto de Congonhas, em São Paulo, matando todos a bordo). Depois dos sustos, começou a manifestar manias de repetição. “O ritual de repetição me deixa muito ansiosa e me abate muito”, diz a menina. “Para os pacientes de TOC, a própria doença é considerada estresse crônico”, avalia o psiquiatra Eduardo Aliende Perin, membro do Consórcio Brasileiro de Pesquisa em TOC.
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RECOMEÇO
Em Realengo, o desafio é apagar da memória de alunos, funcionários e
pais a experiência negativa de ver estudantes mortos dentro da sala de aula
Estresse e transtornos mentais também vêm juntos quando falta diagnóstico. Foi o que ocorreu com o psiquiatra Jorge Simeão, 38 anos. Sem saber o que tinha, ele sofreu durante toda a sua adolescência e juventude. Muitos o consideravam um rapaz distraído, que não se preocupava com os outros. Foi preciso se formar na faculdade como médico psiquiatra para Simeão finalmente descobrir que os traços de comportamento que o acompanhavam não eram uma falha de caráter, mas uma alteração no funcionamento do seu cérebro. Ele tem transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). “O esforço que precisava fazer para me concentrar e a falta de compreensão de colegas me geraram uma tensão muito forte, a vida toda.” Histórias como a de Simeão são bem mais comuns do que se imagina. Pelos cálculos da Organização Mundial da Saúde, uma em cada cinco crianças tem alguma desordem psiquiátrica e a grande maioria leva anos até receber o diagnóstico. A mais comum, de acordo com pesquisas do Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos, é a ansiedade, presente em 8% dos meninos e meninas abaixo dos 18 anos. Em seguida, aparecem a depressão (7,8%), os distúrbios de conduta (5,6%) e o TDAH (5%).
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ATENÇÃO
Várias crianças atendidas pelo psiquiatra Guilherme Polanczyk
apresentam estresse como sintoma de um transtorno mais grave
Ainda há poucas ações voltadas para a saúde mental infantil, mas algumas já demonstram bons resultados. Edmara de Lima, coordenadora pedagógica da Prima Escola Montessori, em São Paulo, orienta uma dessas. “Observamos as crianças sob três ângulos: primeiro analisamos o corpo, se ela enxerga e fala bem e se está com os hormônios em níveis adequados. Depois analisamos a inteligência, se está adequada à idade. Por último vemos as questões emocionais.” No Rio, o neurologista do comportamento Alexandre Ghelman ajusta os últimos detalhes para iniciar, no próximo semestre, um trabalho com alunos do terceiro ano do ensino médio para evitar a tensão, em especial a gerada pelo vestibular. “Vamos ensinar-lhes técnicas para que lidem melhor com as situações estressantes”, diz Ghelman. Entre as lições, os jovens vão aprender como identificar o que os tira do sério, quais são os sentimentos que os dominam nessa hora e como relaxar diante dos fatores estressores. A escola tem mesmo muito que contribuir. Foi graças ao alerta de uma professora que a editora gráfica Liliana Franco, 48 anos, levou o filho Rafael, então com sete anos, ao médico. “Ela me disse que ele estava lendo só a primeira linha dos enunciados das perguntas antes de responder às questões”, afirma Liliana. No psiquiatra, se descobriu que Rafael tem TDAH e ansiedade. Com o treino cognitivo-comportamental e o tratamento medicamentoso, porém, o garoto, hoje com 15 anos, conseguiu reverter vários sintomas e se prepara para prestar vestibular.

Nem todos, porém, têm a sorte de receber um diagnóstico precoce. Daí advêm as complicações. “Podemos fazer um paralelo entre os transtornos mentais e a diabete. Em ambos, você não vai curar a pessoa, mas quanto mais cedo é a intervenção, maiores as chances de reduzir seus impactos”, avalia o psiquiatra Christian Kieling. “A lacuna entre quem tem algum transtorno mental e aqueles que recebem o atendimento especializado é muito grande”, avalia Dévora Kestel, assessora regional de Saúde Mental da Organização Panamericana de Saúde (Opas). No Brasil, o governo federal planeja os primeiros passos. “Estamos começando a pensar uma política integrada entre os ministérios para cuidar da saúde mental na infância”, informou Paulo Bonilho, coordenador nacional de Saúde da Criança do Ministério da Saúde. Medida mais que necessária para desarmar a bomba-relógio do estresse infantil.
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INCOMPREENSÃO
Sem um diagnóstico, o psiquiatra Jorge Simeão cresceu sob a tensão de
não conseguir ser “normal” como os outros. A dificuldade em se lembrar
de coisas e o esforço para se concentrar eram constantes fontes de estresse
Massacre traumático
Até um ano atrás, um estudante armado invadir um colégio e atirar contra seus colegas era algo distante do imaginário brasileiro. A cena era usualmente associada a alguma tragédia americana – país que concentra 70% de ataques desse tipo. Desde 7 de abril de 2011, porém, o Brasil passou a integrar essa estatística. Wellington de Oliveira, ex-aluno da Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, invadiu o colégio e disparou contra alunos e funcionários, deixando 12 mortos. “É preciso atenção após tragédias, pois elas são importantes gatilhos para os transtornos mentais, em especial o do estresse pós-traumático”, avalia Fábio Barbirato, chefe do setor de psiquiatria da infância e adolescência da Santa Casa do Rio. Por isso, desde o massacre há um esforço coletivo para apagar essas marcas. No atendimento psicológico, que se iniciou no dia seguinte ao incidente, já passaram 90 crianças e 100 adultos. Cerca de metade deles segue em tratamento. Caíque, um menino de 3 anos que perdeu a tia Jéssika Guedes no massacre, ficou durante muito tempo perguntando quando a jovem voltaria para a casa. “Ele perguntava para quem ia à escola se Jéssika estava lá.” Com apoio psicológico, está aos poucos assimilando que a tia não voltará mais. Como ele, várias crianças e famílias ainda sofrem com a tragédia. “Pode demorar anos para esses efeitos negativos serem contornados”, disse à ISTOÉ o psiquiatra Timothy Brewerton, um dos responsáveis pelo atendimento às vítimas do massacre de Columbine, ocorrido em uma escola americana em 1999. Para ele, à medida que se aproxima o marco de um ano da tragédia, é preciso mais cuidado. “A efeméride é uma espécie de gatilho para novas reações emocionais.”
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    gisele ventura

    EM 24/03/2012 16:47:53
    Excelente matéria, de utilidade pública. As vezes os pais encontram se perdidos e confusos com o comportamento e sintomas que os filhos podem estar desevolvendo sem se dar conta que podem ser decorrentes de alguns detalhes da sua rotina. Parabéns Isto É!

    SAIBA MAIS:
    Os pais podem prevenir o ESTRESSE de seus filhos?
    É uma avalanche de informações diárias (via fax, Internet etc.), de todos os cantos do planeta, entrando em nossas casas, em nossos escritórios, em nossa vida. São tantas as novidades, os avanços tecnológicos e o desenvolvimento do conhecimento humano, como dar conta de tudo isso? Como orientar os nossos filhos para que tirem o melhor de suas capacidades e sejam felizes? Como ajudá-los a não se tornarem crianças, adolescentes ou adultos estressados?
    A modernidade trouxe consigo aspectos positivos, contudo, também trouxe mais pressão, cobranças, agitação, competitividade e menos cooperação e solidariedade.
    Como não se deixar engolir por tudo isso e levar uma vida saudável sem exageros de ansiedade e estresse?
    Acredito ser essa uma tarefa um tanto difícil, mas não impossível.
    Chegou a hora de organizarmos o nosso dia a dia, assim como o de nossos filhos. São tantas as possibilidades de atividades que podemos programar.
    "Não é bom começar o inglês desde já? E a natação, o judô, as aulas de violão?", perguntam os pais mais aflitos.
    "Quanto mais tempo fora de casa, menos contato com a TV e aqueles filmes violentos", dizem os outros.
    Como dosar a atividade física e intelectual e não esquecer que existe também o lazer, o brincar, atividades fundamentais para o desenvolvimento emocional e social da criança.
    Às vezes, é com as melhores das intenções que os pais preenchem integralmente o dia de seu filho. São tantas as tarefas e horários a cumprir, que não sobra tempo para ele respirar ou para não fazer nada, ou ainda para ficar sozinho com seus brinquedos e fantasias. Afinal, a criatividade, a produção de novas idéias e os pensamentos brilhantes necessitam de espaços vazios para se manifestarem.

    A realidade atual
    A estrutura familiar moderna tem levado a uma diminuição do tempo de interação entre pais e filhos, empurrando os pais para um sistema de auto cobrança e culpas sem fim, ao mesmo tempo que fazem cada vez mais exigências às crianças, podendo gerar maior ansiedade e estresse.
    Com relação a esse aspecto, tenho ficado bastante preocupada ao verificar que algumas escolas, visando é claro, a excelência de seus alunos, vêm programando "vestibulares" para crianças a partir de 4 ou 5 anos, e que, infelizmente, em decorrência disso, pais cada vez mais aflitos estão correndo atrás de escolas preparatórias e aulas particulares.
    Sinal dos tempos? Calma lá!!!
    Observamos que muitas crianças acabam pagando um preço muito alto, pois se sentem pressionadas a dar apenas resultados positivos para não frustrarem os pais.
    É muito importante que os pais estejam atentos às situações de estresse a que seus filhos ficam expostos. Tais situações devem ser necessariamente proporcionais à habilidade, à maturidade, ao estágio de desenvolvimento e à resistência da criança.
    Se por um lado não podemos e não devemos proteger os nossos filhos dos problemas e conflitos com os quais vivenciam no dia a dia, por outro não temos o direito de "jogá-los aos leões", sem que antes adquiram estratégias de enfrentamento de uma forma gradual e lógica.
    O que é o estresse infantil?
    O estresse em geral é uma reação do organismo diante de situações ou muito difíceis ou muito excitantes, que podem ocorrer em qualquer pessoa, independentemente de idade, raça, sexo ou situação sócio-econômica.
    Em períodos de estresse, a harmonia do organismo fica afetada e cada órgão passa a trabalhar em ritmo diferente dos demais. Se esse estado se prolongar por muito tempo, há uma quebra do equilíbrio interior e um enfraquecimento do organismo e, consequentemente, a manifestação de sintomas e doenças. O estresse infantil é pouquíssimo conhecido, sendo bastante difícil encontrar pesquisas sobre o assunto, tanto no Brasil como no exterior.
    A maior parte dos trabalhos sobre o estresse em crianças brasileiras foi desenvolvida na Universidade Católica, em Campinas. Nessas pesquisas verificou-se que toda criança, inevitavelmente, enfrentará inúmeras situações de estresse ainda nos primeiros anos de vida, tais como acidentes, doenças, hospitalizações, nascimento de irmãos, mudanças de casa, escola ou de empregada, além das tensões geradas pela necessidade sempre maior de autocontrole.
    Fontes de estresse infantil
    Pesquisas revelam que o estresse na criança pode estar relacionado a fatores internos e externos, da mesma forma que ocorre com o adulto.
    Os fatores internos referem-se às características de personalidade, pensamentos e atitudes da criança, diante de várias situações que ela precisa enfrentar na vida. Assim sendo, o estresse pode ser criado por ela própria, de acordo com sua maneira de perceber a si e o mundo ao seu redor.
    As fontes internas de estresse na criança são: ansiedade, depressão, timidez, desejo de agradar, medo do fracasso e de punição divina, preocupação com mudanças físicas, dúvidas quanto à própria inteligência, interpretações amedrontadoras de eventos simples ou mesmo medo de ser ridicularizada por amigos.
    Já as fontes externas de estresse na criança são devidas às mudanças significativas ou constantes, responsabilidades e atividades (o miniexecutivo) em demasia, brigas ou separação dos pais, algumas escolas, morte na família - principalmente de pais ou irmãos -exigência ou rejeição por parte dos colegas, disciplina confusa por parte dos pais, nascimento de irmão, doença e hospitalização, troca de professora ou de escola, pais ou professores estressados, medo de pai alcoólatra e até doença mental dos pais.
    Atitudes dos pais que podem prevenir o estresse infantil.
    Primeiramente, os pais precisam cuidar do seu próprio estresse, para servirem de modelo para os filhos. Se diante de "situações problema", os pais agirem com muita ansiedade, os filhos terão a tendência de repetir os mesmos padrões de comportamento.
    Atitudes positivas que envolvam a paciência, o prazer, a alegria de estar
    com a criança, a aceitação e a forma simples e realista de encarar os desafios do dia a dia, podem incentivar a criança a resolver os problemas e desenvolver a sua auto-estima.
    É preciso ouvir a criança, não sobrecarregando-a com atividades extracurriculares; escutar com seriedade o que ela tem para dizer sobre o assunto e procurar oferecer atividades que sejam do seu agrado.
    Respeitar o ritmo da criança e não fazer comparações - os irmãos são diferentes quanto ao seu ritmo de dormir, comer, aprender, socializar-se e até de caminhar - mesmo que os pais tenham outro modo de agir, também é uma ação indispensável, assim como a escolha cuidadosa da escola em que irá frequentar. É preciso ouvir com atenção as queixas da criança, pois ela pode estar vivendo um problema de fato.
    Em caso de conflitos conjugais, é fundamental evitar o envolvimento das crianças, pois muitas vezes elas acabam por se sentirem responsáveis pela situação.
    Contudo, é muito importante que não se poupe a criança em demasia; uma criança excessivamente poupada não tem chances de se preparar para o mundo de hoje.
    Estimular sua independência é algo fundamental, contanto que se respeite sua etapa de desenvolvimento natural.
    Os pais devem evitar que seus filhos acreditem que só são valorizados e amados se tiverem um desempenho perfeito em tudo que fazem. Quanto a esse aspecto, o que tenho observado na clínica é que um dos principais causadores de estresse em crianças é a grande preocupação delas em corresponder às expectativas de sucesso dos seus pais. Desse modo, não atribuem valor à pessoa que são, mas por aquilo que fazem.
    Por fim, acredito que os cuidados dos pais com o controle do estresse infantil, juntamente com todos os profissionais que estão envolvidos com a educação das crianças, possa levar a uma sociedade mais produtiva, mais feliz e mais bem adaptada.
    Portanto, caros pais, mãos à obra e boa sorte!
    Dra. Monica Mlynarz




    339237 Saiba como superar o estresse infantil 2 Saiba como superar o estresse infantil
    Ultimamente, não são apenas os adultos que sofrem de estresse por causa do trabalho, do trânsito e dos milhares de compromissos diários. As crianças têm apresentado com  mais frequência quadros de estresse, porém, por motivos um pouco diferentes: carência dos pais, mudança de casa, separação ou brigas dos pais, mudança de escola e os inúmeros cursos que elas têm de fazer diariamente. Para que o seu filho não sofra desse mal, saiba como superar o estresse infantil.
    Em primeiro lugar, é preciso identificar o quadro de estresse. A criança estressada apresenta irritabilidade, pesadelos, medos excessivos, choro além do normal, dificuldades na fala, mudanças no apetite, carência afetiva e retorno aos comportamentos infantis já superados, como urinar na cama e chupar chupeta.
    Então, se a sua criança apresenta esses sintomas, você precisa mudar o seu ritmo de vida, pois na maioria das vezes, é ele o grande causador do estresse infantil. Como os pais trabalham cada vez mais para sustentarem os seus filhos, têm menos tempo para ficar com eles, gerando insegurança e tristeza nos pequenos. Portanto, trabalhe um pouco menos ou, ao invés de chegar em casa cansada e sem fôlego, retome-o e brinque mais com o seu filho, porque ele é uma vida que depende completamente de você.
    As crianças se acostumam com uma rotina e, por isso, quando acontece alguma mudança em suas vidas, elas tendem a ficar estressadas. Sendo assim, as mudanças de casa ou a de escola causam muito estresse nelas. Nessas situações, a criança precisa se sentir  segura, sabendo que você sempre estará ao seu lado. Converse seria e calmamente com ela, dizendo-lhe que no novo ambiente, ela poderá conhecer novos amiguinhos e novos lugares e que, por isso, será muito divertido. E complete que ela ainda poderá manter contato com os seus antigos colegas através da internet.
    Há pais que acham que, quanto mais cursos  a criança fizer, mais inteligente ela será ou apenas a colocam em vários cursos para que ela ocupe o seu dia, deixando-os em paz. No entanto, assim como ficamos estressados com várias tarefas a cumprir durante o dia, as crianças também ficam, e em maior intensidade. Por isso, não exija demais dos seus filhos, deixe-os serem crianças, pois essa é a melhor fase da vida deles, apesar de ser curta demais.
    Quanto às brigas ou separação do casal, não há outro remédio senão conversar calmamente com a criança e tentar fazer com que ela entenda que os seus pais não podem mais continuar juntos, por causa das diferenças que há entre eles. Porém, o mais importante é dizer que ela não tem culpa de nada. Explique-lhe que, após a separação, ela terá duas casas e que isso pode ser muito divertido e diferente. Com o tempo, ela acaba se acostumando com a nova rotina, porém, nesses casos, um acompanhamento profissional é o ideal para que ela não fique estressada.
    339237 Saiba como superar o estresse infantil 1 Saiba como superar o estresse infantil
    Contudo, se todas essas medidas forem tomadas e o seu filho ainda apresentar sintomas de estresse, procure por ajuda especializada imediatamente, pois se ele não for tratado a tempo, pode gerar problemas mais graves como uma depressão.

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