O Que Relações com Pessoas Comprometidas nos Ensinam

De repente você se vê envolvida com alguém já comprometido – quem nunca? Tá, homem é fácil para chuchu. Basta procurar direito que com certeza você encontrará alguém legal. Então, para que perder tempo com aqueles acompanhados, ou mesmo enrolados? Mas aí você descobre nos momentos mais improváveis. Às vezes, dias depois de que vocês transaram. É, alguns homens são descarados o suficiente, a ponto de fazer sexo com a garota e sequer informar que são enrolados. Então você descobre, por acaso. Ou o próprio diz “Ué, não sabia?” Como se fosse munida poderes paranormais para adivinhar que, apesar de não estar marcado no status do Facebook, ele tem uma namorada. E ela, além de tudo, é ciumenta.
Parece contraditório, mas mulheres que têm compromisso com homens caras-de-pau morrem de ciúmes. Devem gostar de sofrer, sei lá. É certo que o comportamento possessivo tipicamente masculino corrobora com essa atitude sem lógica ou coerência. A maioria dos homens não consegue sequer imaginar dividir sua mulher com outros, mas também não aguenta a tentação de jogar as asinhas para fora, quando há uma oportunidade em vista. O resultado é uma enganação. Sim, muitas pessoas preferem mesmo ser enganadas, porque não conseguem lidar com a realidade. Ciúmes é um sentimento muito irracional.

Causas

A infidelidade está cada vez mais presente nas relações conjugais. A psiquiatra Carmita Abdo, professora da Faculdade de Medicina da USP está acompanhando o comportamento sexual dos brasileiros ao longo dos anos, e já entrevistou 8.237 pessoas em 10 capitais do país. O estudo aponta que homens continuam traindo mais que as mulheres, mas o aumento da incidência de infidelidade, nos últimos anos, é maior no sexo feminino. Em 2008, 68% dos homens e 42% das mulheres confessaram já ter traído o parceiro, seja de namoro ou casamento. No ano de 2003, os infiéis eram 51% dos homens e 26% das mulheres.
Porém, o que motiva cada sexo a trair são fatores diferentes. O estudo mostra que as mulheres costumam trair mais quando o relacionamento está com problemas, enquanto os homens querem descarregar a tensão, e buscar variedade e satisfação física.
Além disso, culturas tipicamente machistas ainda tendem a reforçar a infidelidade masculina. Se aproveitando da teoria biológica instintiva humana, afirmam que a testosterona provoca o comportamento impulsivo dos homens na busca por prazer e na dificuldade de manter uma relação monogâmica, em prol da perpetuação da espécie. Por outro lado, a mulher, como responsável pela procriação, tenderia a se dedicar ao seu lar e ao seu amor. A teoria é antiga, mas os valores na sociedade se arrastam até hoje. Muito homem ainda acha natural trair – mas não aceita ser chifrado. O estranho é que se fossêmos nos deixar levar por nossos instintos animais, seria impossível viver em sociedade. No primeiro desaforo lançado pelo chefe, pularíamos no seu pescoço. Ou partiríamos pra briga quando alguém invadisse o nosso espaço de um metro de zona de conforto que nos rodeia. Ou seja: os instintos podem ser controlados em nome de uma vida sem caos, o que mostra que usar essa desculpa para justificar a traição, não passa de mero oportunismo.

Cotidiano

Longe de mim querer julgar o relacionamento dos outros, mas na minha opinião, homem comprometido não é nada atraente. Chega a ser broxante pensar que, para se envolver com a pessoa, haverá um tormento mental. Você fica se questionando se a garota dele vai ficar sabendo, ou se magoar – que tipo de problema pode causar. Resta um medo da esposa ou namorada descobrir e aquilo afetar a ordem das coisas. A crise de consciência é inevitável, mesmo se você não soubesse inicialmente da relação oficial do cara. Cria-se toda uma preocupação para abafar o ocorrido, principalmente quando você aceita a condição de “outra”. Muitas mulheres – pelos mais diversos motivos – não conseguem se desvencilhar e acabam assumindo o risco do relacionamento paralelo.
Manter relação afetiva com homem comprometido é um porre. Mesmo quando é algo eventual. Significa que, caso queiram se ver, vocês terão que arranjar um tempo no meio da semana para se encontrarem. No momento em que você quiser lhe enviar uma mensagem, surgirão receios: “Será que eles estão juntos? Será que ela vai ver?” O cara deve vir com umas restrições – não pode isso ou aquilo. Quanto mais aquilo durar, mais a sua cabeça vai se encher de preocupações atormentadoras. Por mais que o rapaz seja mesmo o máximo, vocês não poderão se curtir de verdade, além de fugazes encontros que fatalmente devem acabar com uma boa carga de culpa na consciência dos dois. Pois, no fim, há sempre um risco: barraco, confusão, crise, mágoas.
Como se não bastasse tudo isso, ainda existe a lei inquestionável do universo da ação e reação. Quando você conscientemente lança algo ruim no universo (nesse caso, mentira, falsidade, enganação), ele te devolve tudo em dobro, como um boomerang impiedoso que chega sem avisar – bem naquela hora em que você achava que estava se dando, ele volta, direto na sua cabeça. E depois não adianta reclamar, pois você fez as suas escolhas, por livre e espontânea vontade. Alan Wallace, em uma entrevista, foi questionado sobre qual era o segredo da felicidade – como viver com menos frustrações, instatisfações e ansiedade? Ele, respondeu da forma mais simples e, ao mesmo tempo, complexa que se poderia imaginar – o segredo para felicidade está em viver uma vida sem causar danos à qualquer outro ser, sem causar sofrimento. Quando entendemos isso, percebemos que o dano que causamos a outras pessoas, também nos causa sofrimento. A escolha está sempre em nossas mãos.