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4.11.2012

Guerra às Drogas no Rio e as Cracolândias



  Policiais patrulham as ruas da Mangueira, cujas lojas fecharam por ordem do tráfico Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo 
  Parte do comércio na favela, que tem uma Unidade de Polícia Pacificadora, fica fechada devido a morte de bandido

Polícia faz megaoperação para reprimir o tráfico de drogas no Rio

Até o momento, 13 pessoas foram presas e dois menores apreendidos



Policiais militares durante operação no Morro do Dezoito, em Aguá Santa, na Zona Norte do Rio, na manhã desta quarta-feira
Foto: Fernando Quevedo / O Globo

Policiais militares durante operação no Morro do Dezoito, em Aguá Santa, na Zona Norte do Rio, na manhã desta quarta-feira Fernando Quevedo / O Globo
RIO - As polícias Civil e Militar realizam uma megaoperação na manhã desta quarta-feira para reprimir o tráfico de drogas em vários pontos do Estado do Rio. Batizada como Conexão Mandela, a ação foi deflagrada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Estado do Rio e da Coordenadoria de Inteligência da PM, e visa a cumprir 19 mandados de prisão preventiva e 20 de busca e apreensão na cidade do Rio; e nos municípios de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense; Teresópolis, na Região Serrana; Rio das Ostras, na Região dos Lagos; e em São Paulo. Até o momento, 13 pessoas foram presas e dois menores apreendidos. De acordo com a polícia, os denunciados são acusados de associação para o tráfico de entorpecentes e corrupção ativa.
A ação conta com apoio de cerca de 500 policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope), do Batalhão de Polícia de Choque (BPChoq), da CI, do Grupamento Aéreo e Marítimo (GAM), do Batalhão de Ações com Cães (BAC), do Grupo de Apoio aos Promotores (GAP), do 30º BPM (Teresópolis) e do Gaeco/SP, de quatro Promotores de Justiça do Gaeco do MPRJ; além de dois helicópteros, um blindado, uma retroescavadeira, uma pá mecânica e um caminhão munk da PM.
As investigações começaram em novembro do ano passado em Teresópolis, após traficantes tentarem subornar policiais militares para que o tráfico na região não fosse reprimido. Os PMs levaram o caso ao MPRJ, que apontou a Favela Mandela como um dos principais pontos de distribuição de drogas para diferentes bairros e municípios do Rio. De acordo com a denúncia, foi constatado que por causa da implementação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), e a prisão de muitos integrantes de uma facção criminosa, traficantes fizeram uma aliança com uma facção criminosa de São Paulo, de onde passaram a importar grande parte do material entorpecente. Segundo o Ministério Público, a Favela Mandela, recebe as substâncias ilícitas de São Paulo e distribui para as regiões Serrana e dos Lagos, além de Niterói, São Gonçalo, Duque de Caxias, Campo Grande e demais favelas do Rio dominadas pela mesma facção criminosa.
Na Região Serrana, policiais do 30º BPM (Teresópolis) com o apoio de cães do canil da PM e do (Gaeco) estão na comunidade da Coreia, a quatro quilômetros de Centro de Teresópolis. Eles buscam traficantes que migraram da Favela Mandela. O coronel Mário Fernandes, comandante do 30º BPM, lidera a operação, que conta com cerca de 50 homens. Uma grande quantidade de maconha e cocaína já foi apreendida na região.
Na Zona Norte do Rio, policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e do Batalhão de Choque (BPChoque) estão nas favelas de Jacarezinho, Manguinhos e Mandela. A ação conta com o apoio de um helicóptero e de um veículo blindado. Há registro de tiroteio na chegada dos PMs às favelas. Ainda não há informações sobre feridos, presos ou apreensões. Em Madureira, a ação acontece no Morro da Serrinha e conta com cerca de 40 agentes da Delegacia de Combate às Drogas (DCOD); da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core); dois blindados e um helicóptero. A polícia informou que dois homens morreram durante operação nas favelas do Jacarezinho e de Manguinhos. Eles estavam armados com um fuzil calibre 556 e uma pistola nove milímetros. Uma grande quantidade de drogas - ainda não contabilizada - foi apreendida e uma prensa industrial encontrada dentro de um caminhão no Jacarezinho.
No Morro do Dezoito, em Água Santa, também na Zona Norte, cerca de 30 policiais do 3º BPM (Méier) também foram recebidos a tiros na manhã desta quarta-feira. A operação, que começou às 5h45m, conta com o apoio do 4º BPM (São Cristóvão), 6º BPM (Tijuca) e 17º BPM (Ilha do Governador). Moradores que deixam a favela estão sendo revistados. Segundo o comandante do 3º BPM, tenente-coronel Ivanir Linhares, além de reprimir o tráfico de drogas na comunidade, o objetivo é combater o roubo de veículos na área. Ainda não há informações de prisões nem de apreensões.
O 9º BPM (Rocha Miranda) também está em Água Santa, no Morro do Saçu, com apoio de outros batalhões. A polícia tenta capturar o traficante conhecido como Piolho, que comanda a comunidade e o Morro do Dezoito. Ele já esteve preso, mas fugiu do Instituto Penal Sirieiro, em Niterói, em setembro de 2010. Lá, ele cumpria pena em regime semi-aberto. Na época, o Dezoito estava sob o domínio de uma milícia, que foi expulsa pelo traficante. Piolho já havia chefiado a venda de drogas na localidade anteriormente.
Na Zona Oeste da cidade, um homem suspeito de tráfico de drogas foi preso e uma submetralhadora apreendida na Favela da Coreia, em Senador Camará. Os policiais contam com o apoio de um helicóptero. Também já houve confronto, mas ainda não há informações sobre feridos.

Mapeamento mostra que Rio tem 11 cracolândias e 3 mil usuários da droga

Eduardo Paes vai assinar convênio com os governos federal e estadual, em mais uma tentativa de frear o avanço da droga



Agentes da secretaria de assistencia social em uma operação no Campo de Santana para recolher moradores de rua que seriam usuários de crack
Foto: Pablo Jacob / O Globo

Agentes da secretaria de assistencia social em uma operação no Campo de Santana para recolher moradores de rua que seriam usuários de crack Pablo Jacob / O Globo
RIO - Um quadro preocupante: o Rio tem hoje pelo menos 11 cracolândias e outros seis pontos itinerantes de consumo de crack, segundo mapeamento informal, feito pela Secretaria municipal de Assistência Social, a pedido do GLOBO. Nessas áreas circulam cerca de três mil usuários (20% deles menores), o que leva o município a gastar, mensalmente, R$ 2 milhões no acolhimento e tratamento de viciados. A prefeitura, na verdade, até hoje não fez um mapeamento completo da geografia do crack na cidade.
Diante dessa realidade, o prefeito Eduardo Paes vai assinar, na sexta-feira, um convênio com os governos federal e estadual, em mais uma tentativa de frear o avanço da droga. O programa "Crack, é possível vencer" faz parte do Plano Nacional de Enfrentamento do Crack. Com isso, o Rio receberá R$ 40 milhões por ano. As ações do município se concentrarão nas maiores cracolândias cariocas: Jacarezinho, Manguinhos e Morro do Cajueiro (Madureira).
Segundo o secretário de Assistência Social, Rodrigo Bethlem, a verba será usada na ampliação de consultórios de rua, de abrigos-modelo e de leitos em hospitais públicos para o tratamento de viciados. Será desenvolvido também, adiantou ele, um trabalho de acompanhamento de menores após o tratamento do vício. As equipes serão monitoradas e treinadas pela professora de psiquiatria da Uerj e ex-diretora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Atenção ao Uso de Drogas (Nepad/Uerj) Maria Thereza de Aquino.
— Precisamos ter um acompanhamento desses menores até a maior idade — diz Bethlem.
Especialistas: opiniões divididas
Há um ano em funcionamento, o programa de recolhimento de viciados da prefeitura fez 3.671 acolhimentos nas 77 operações realizadas, desde março do ano passado. Desse total, 552 são menores. Atualmente, há 119 menores abrigados compulsoriamente. A secretaria oferece quatro Centros Especializados de Atendimento à Dependência Química, que contam com 194 vagas para menores.
Apenas os menores são internados compulsoriamente. Os maiores são convidados a ir ao um centro de acolhimento e só fazem o tratamento de desintoxicação de forma espontânea. Muitos aceitam a ir aos centros, onde recebem alimentação, tomam banho, mas, quando chega a crise de abstinência, voltam às ruas.
— Defendo a internação compulsória do usuário. Os maiores recolhidos, sem tratamento, voltam para o vício após uma crise de abstinência. Recolher maiores é como enxugar gelo — admite Bethlem.
Favorável à política de internação compulsória de menores adotada pela prefeitura, Maria Thereza defende estender o atendimento aos familiares dos dependentes da droga:
— O pedido de socorro é também da família.
Com a experiência de quem dirigiu o Nepad por 25 anos, ela considera ainda fundamental que, após a internação, o ex-viciado seja acompanhado:
— O apelo do crack é imenso. Um paciente meu me disse: "o crack é a estação final; quem fuma não é mais dono de nada". É difícil se manter sem a droga, que tem seus atrativos. A pessoa precisa aprender a lidar com a frustração; a entender que nem tudo o que quer, ela pode. Ou seja, perceber que, a longo prazo, vai ter prazer, ganhar auto-estima, saúde.
O acolhimento compulsório divide os especialistas. O psiquiatra Marcelo Santos Cruz, que coordena o Programa de Estudos e Assistência ao Uso indevido de Drogas do Instituto de Psiquiatria da UFRJ, por exemplo, é contrário ao método:
— Não podemos agir como perseguidores. Defendo ações de aproximação, a oferta de serviços de saúde e sociais para motivar os usuários. A pessoa tem que querer se tratar, para que o tratamento dê resultados. Algumas ações, realizadas por ONGs nas ruas, têm dado resultados.
Já a advogada Margarida Pressburger, presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ, não questiona a internação compulsória, mas o tratamento atual:
— As pessoas estão sendo acolhidas em casas que não têm estrutura para tratamento. Além disso, após a internação, o ex-viciado precisa de acompanhamento.
Membro do movimento Respeito é bom e eu gosto (Rebomeg), que defende políticas para pessoas com distúrbios psicossociais, Paulo Silveira também critica o tratamento oferecido:
— As casas da prefeitura teriam que oferecer ensino e educação continuados, o que não acontece. Além disso, o tratamento é feito por profissionais não qualificados. Há até casos de famílias que entraram na Justiça alegando que os filhos sofreram maus-tratos.
Já o comandante do 3º BPM (Méier), tenente-coronel Ivanir Linhares, sustenta a importância de campanhas:
— Deveria haver campanhas preventivas para mostrar às famílias o mal que o crack ocasiona.

Rio tem hoje 11 áreas tomadas por usuários de crack e outros seis pontos itinerantes de consumo, segundo mapeamento feito a pedido do GLOBO. São três mil usuários, sendo 20% menores. O combate ao problema consome R$ 2 milhões por mês

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