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4.07.2012

Revista Veja discrimina as mulheres

Roubos e furtos praticados por mulheres crescem 400%

Casos como o da 'Gangues das Loiras' ainda chamam atenção. Mas não são fenômenos isolados. O total de mulheres condenadas pelos chamados 'crimes contra o patrimônio' aumentou 402% entre 2005 e 2011

Renato Jakitas
As vovós punguistas em ação numa padaria de São Paulo As vovós punguistas em ação numa padaria de São Paulo (Reprodução)
"Sempre teve mulher fazendo coisa errada. O que muda é que, antes, elas ingressavam no crime porque eram namoradas ou casadas com bandidos. Agora, não. São chefes de quadrilha e agem por conta própria"
Paul Henry Bozon Verduraz, delegado da Polícia Civil
Nas últimas semanas, o noticiário foi pródigo em histórias de mulheres criminosas. Da "gangue das loiras" à "gangue das vovós", foram casos de roubo, furto, extorsão e estelionato. Dados do Ministério da Justiça mostram que o fenômeno não é pontual. Esses crimes refletem uma tendência. Entre 2005 e 2011, o total de mulheres condenadas por envolvimento com os chamados "crimes contra o patrimônio" registrou um salto de 402%.
Os números mostram dois momentos distintos do sistema penitenciário nacional: dezembro de 2005 e junho de 2011. Enquanto há sete anos existiam 2.006 mulheres encarceradas por infrações que vão de furto e roubo simples até extorsão mediante sequestro, no ano passado 6.072 mulheres foram condenadas pelos mesmos motivos. No mesmo período, houve aumento de 97% nas condenações de homens em casos similares.
Para especialistas, isso não surpreende. "Sempre teve mulher fazendo coisa errada", afirma o delegado Paul Henry Bozon Verduraz, titular de uma delegacia no bairro do Itaim Bibi, região nobre de São Paulo. "O que muda é que, antes, elas ingressavam no crime porque eram namoradas ou casadas com bandidos. Agora, não. São chefes de quadrilha e agem por conta própria".
Verduraz, que antes de ser policial foi diretor de uma cadeia feminina, entre 2000 e 2001, afirma: "Nós temos nesta região cem bancos e é grande o número de mulheres envolvidas com golpes e casos de estelionato".
Amor bandido - A percepção do delegado encontra fundamento nos levantamentos da pesquisadora Patrícia Constantino, que atua no Centro Latino-americano de Estudos de Violência e Saúde da Fundação Osvaldo Cruz, no Rio de Janeiro. Segundo ela, o que ocorre no mundo do crime é uma espécie de reflexo distorcido do processo de emancipação socioeconômica experimentado pelas mulheres nas últimas décadas.
Patrícia lançou um livro sobre o tema, no qual analisa sobretudo envolvimento de mulheres com o tráfico no Rio de Janeiro. "Há mulheres ocupando cargos de chefia dentro dos morros, coisa que não se via no passado", diz a pesquisadora. “O amor bandido ainda é um fato. Mas também é verdade que agora elas se movem com maior independência e desenvoltura nesse universo."
Christiane Nicolau, especialista em estudo da criminalidade e segurança pública pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), tem a mesma opinião. Sua tese acadêmica, voltada às jovens infratoras, concluiu que as mulheres que ingressam no crime o fazem por escolha própria. "As mulheres que entrevistei afirmaram ter entrado no crime por opção, por entenderem que é rentável e até divertido", afirma.
O ex-comandante da Policia Militar de São Paulo e ex-secretário nacional de segurança José Vicente da Silva concorda que o potencial criminal feminino tende a crescer na proporção em que a mulher amplia sua participação social. “Elas estão mais expostas e mais suscetíveis à bandidagem hoje do que duas décadas atrás”, observa. “Não é uma regra, mas grande parte das mulheres criminosas são jovens e solteiras. Quando casam e têm filhos, elas passam a assumir um papel mais conservador e buscam evitar atitudes que impactem na segurança do lar”.
Mundo - As gangues de mulheres assaltantes ou dedicadas a golpes e furtos não são um fenômeno exclusivamente nacional. Num de seus trabalhos acadêmicos, Patrícia Constantino analisou a propensão feminina para o delito em países estrangeiros e concluiu que a disseminação de quadrilhas formadas por mulheres aumentou na América Latina, mas também em países ricos do hemisfério norte. “Nos Estados Unidos, existem diversas gangues compostas exclusivamente por meninas adolescentes”, diz. Embora a quantidade de mulheres criminosas na Inglaterra ainda seja pequena, ela cresce com mais velocidade que a de homens. Normalmente, elas são jovens, sem antecedentes criminais e foram presas por roubo em lojas.
Segundo levantamento da pesquisadora Simone Brandão Souza, mestre em estudos populacionais e pesquisas sociais, o Brasil ocupa uma posição intermediário quanto à proporção de mulheres encarceradas. Enquanto na Irlanda do Norte elas representavam 1,9% dos presos em junho de 2011 – pouco mais de 464.000 detentas (o menor índice entre os países estudados), na China, que tem a maior proporção, elas são 21,9%. Por aqui, 6,35% da população carcerária é formada por mulheres.
Sedução – Para a polícia, o fator surpresa contribuiu para o sucesso feminino nesse tipo de empreitada. “Elas parecem menos ameaçadoras, despertam maior confiança. Quem suspeita de uma mulher?”, indaga o delegado Paul Verduraz.
Joaquim Dias Alves, delegado do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) acrescenta outro ingrediente que ajuda a entender o modus operandi das mulheres que decidem entrar para o crime. “O homem demora a perceber que está sendo alvo de um golpe ou mesmo de roubo quando ele é praticado por uma mulher”, afirmou na semana em que anunciou a prisão de Carina Geremias Vendramini, de 25 anos, a primeira integrante da “Gangue das Loiras” a ser localizada.

O crime de salto alto

Gangue das loiras

Loiras, bonitas, bem vestidas e, sobretudo, sedutoras. A “Gangue das Loiras” atuou livremente – e por anos –, até ser desmascarada em março pela polícia depois da prisão de Carina Geremias Vendramini, de 25 anos. Casada, mãe e com emprego fixo, Carina vivia uma vida dupla até ser localizada pela polícia em Curitiba, onde morava. Presa pelos policiais da delegacia anti-sequestro do Departamento Estadual de Homicídios e Proteção a Pessoa (DHPP), de São Paulo.
O alvo do grupo eram mulheres, também loiras, de preferência parecidas com as assaltantes. As vítimas eram abordadas dentro de estacionamentos, principalmente de shoppings, e sequestradas. Nesse momento, uma segunda loira entrava em cena para fazer compras com os cartões roubados. No interior das lojas, esbanjava charme e simpatia, procurando atendentes do sexo masculino como estratégia. “Os homens ficavam babando", conta o delegado Joaquim Dias Alves. "Dessa forma o bando realizou cerca de 50 crimes apenas em São Paulo. Parece filme de Hollywood”.
Outros três membros da quadrilha foram localizados e também estão presos: Vanessa, irmã de Carina, e o casal apontado como chefe da organização, Wagner de Oliveira Gonçalves e sua mulher, Monique Awoki Scasiota, a única morena do grupo.
REVISTA VEJA

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