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5.18.2012

Doença mental em Portugal

Psiquiatras alertam para dificuldade de doentes comprarem medicamentos

18.05.2012 - 15:01 Por Catarina Gomes

Situação económica dos doentes tem vindo a agravar-se, denunciam médicos  
Situação económica dos doentes tem vindo a agravar-se, denunciam médicos (Foto: Paulo Pimenta)
Há cada vez mais doentes psiquiátricos que não conseguem comprar a medicação de que precisam por razões financeiras, um fenómeno que tem aumentado nos últimos meses.

A informação é dada pela psiquiatra Célia Franco, do Hospital Sobral Cid, do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Coimbra. Também o presidente da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria, António Palha, alertou esta sexta-feira, na Antena 1 para o caso de alguns doentes não estarem a tomar os medicamentos necessários.

A psiquiatra Célia Franco afirma que, no hospital, já estão a prescrever a medicação mais barata, nomeadamente os genéricos, mas mesmo assim “estão a aumentar os doentes que não conseguem tomar a medicação”, quer porque fazem parte de agregados familiares onde há desempregados, quer porque são pessoas com pensões sociais muito baixas. As consequências da interrupção podem passar por reinternamentos de doentes que estariam estabilizados sob a terapêutica. “Se as pessoas estiverem estabilizadas há poupança a longo prazo”, sublinha.

A médica afirma que, nestas situações, tentam arranjar soluções junto das assistentes sociais mas esse apoio nem sempre é possível. Célia Franco afirma também que se há fármacos cuja comparticipação baixou um pouco, também há medicamentos que até ficaram mais baratos mas há doentes que nem sequer vão à farmácia com medo de que sejam caros. “Há o medo de que o medicamento vá ser caro”, por isso seria interessante que na receita que o doente leva do médico já constasse o valor que vai pagar pelos fármacos, defende.

Falta de dinheiro

O presidente da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria, António Palha, disse numa entrevista à Antena 1, que há casos de doentes mentais que não estão a tomar todos os medicamentos necessários para o seu tratamento, por falta de dinheiro. O médico pediu a criação de uma política que proteja estes casos particulares.

“Tenho alguns casos, não posso generalizar, mas já tenho doentes, ou famílias, que apontam que a situação é difícil e que durante os últimos tempos não tomou este e tomou aquele… Isso pode vir a generalizar-se”, alerta. “É de pressupor que, se a crise continuar e aumentar, que isso possa suceder, o que é uma coisa dramática”, acrescenta.

“[Os doentes] dizem que cada vez é mais complicado. E, se por azar, tiverem em casa mais do que uma pessoa, que não é vulgar, não só da área da psiquiatria, mas das outras áreas, começa a ser difícil”.

Pedro Macedo, psiquiatra do Hospital Júlio de Matos, pertencente ao Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa, concorda que “a situação tem-se vindo a agravar. Há doentes que começam a sentir que é difícil comprar porque é impossível organizarem os seus orçamentos nesse sentido”, revela ao PÚBLICO.

O médico afirma que há doentes reformados, que já tinham dificuldades, e que chegam, actualmente, a ter que “suportar casas”, por exemplo, com filhos desempregados. O que acontece é que há doentes que “fazem escolhas e optam pelos medicamentos que, de forma subjectiva, acham que são os mais importantes”.

Mas o médico realça que “o tratamento de um doente psiquiátrico é mais que a medicação. Às vezes há investimentos em medicamentos [em casos] que podiam ser resolvidos com outras intervenções”. Pedro Macedo julga que se põe o ênfase do tratamento apenas nos medicamentos, negligenciando outras intervenções tão ou mais importantes, como o acompanhamento do doente na comunidade e o apoio familiar. “Há uma má gestão dos serviços”, conclui.

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