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5.07.2012

Profilaxia contra infecções.

Própolis, para que te quero

Estudo em abelhas revela que a coleta de resinas funciona como automedicação para colmeias infectadas por fungos.
Por: Catarina Chagas

Própolis, para que te quero
Abelhas revestem a colmeia com própolis tanto para proteger quanto para defender sua “cidade” de infecções, o que caracteriza automedicação entre esse grupo de animais. (foto: Michael Simone-Finstrom)
“Menino, toma esse xarope de própolis para melhorar a garganta!” O leitor já pode ter ouvido essa frase da avó ou tê-la dito aos próprios filhos. Entre tantos remédios recomendados pela sabedoria popular, o própolis é famoso por sua ação antibiótica e fungicida.
Se tanta gente acredita que a substância faz bem ao homem, uma pesquisa desenvolvida nos Estados Unidos resolveu pesquisar também se ela traz algum benefício para as abelhas, que a coletam na natureza. Os resultados indicam que esses insetos também se beneficiam das propriedades do própolis e tratam de usá-lo para combater infecções por fungos nas colmeias.
“Já que tanta gente está tentando usar própolis em benefício da saúde humana, pensei que deveríamos saber como a substância funciona para as abelhas, que a usam ativamente”, conta o biólogo Michael Simone-Finstrom, da Universidade do Estado da Carolina do Norte, que desenvolveu a pesquisa durante seu doutorado na Universidade de Minnesota.
“Já que tanta gente está tentando usar própolis em benefício da saúde humana, pensei que deveríamos saber como a substância funciona para as abelhas, que a usam ativamente”
“Procuramos, então, saber se as abelhas respondiam de forma diferente em relação à coleta e ao uso de resina quando infectadas por parasitas e confirmar se o própolis teria efeitos diretos na colmeia contra esses patógenos. Isso nunca havia sido estudado antes.”
As abelhas coletam resinas de várias espécies de plantas, e o produto dessa coleta recebe o nome genérico de própolis, cuja origem é grega – pro significa “em defesa de” e polis, “cidade”. É normal que colônias de abelhas, especialmente as que vivem em cavidades nas árvores, apliquem uma fina camada de resina e cera nas colmeias. Esse comportamento, já observado em estudos anteriores, funciona como uma profilaxia contra infecções.
Porém, o estudo de Simone-Finstrom, publicado na revista PLoS One, aponta que o própolis pode ser usado também como medicamento para tratar infecções em curso, o que caracteriza automedicação. Para que determinado comportamento seja classificado assim, ele deve aparecer ou ser intensificado quando o animal é parasitado – o que, segundo a pesquisa, é justamente o caso das abelhas.

Dando uma de enfermeiras

O experimento consistiu em monitorar a coleta de própolis por abelhas de várias colônias diferentes: um grupo delas foi exposto ao fungo Ascophaera apis; o segundo, à bactéria Paneabacillus larvae; e o terceiro, ao fungo Metarhizium anisopliae, não patogênico para as abelhas e que, por isso, serviu como controle.
De uma maneira geral, a exposição ao A. apis fez aumentar a coleta de resina na colônia. O resultado é surpreendente se considerarmos que o fungo afeta apenas as larvas, mas são as abelhas adultas que modificam seu comportamento para combatê-lo – o que, à primeira vista, pode parecer pouco vantajoso. A explicação encontrada pelos pesquisadores é que a colmeia como um todo é o indivíduo afetado e, por isso, seus membros se envolvem no combate à infecção.
Abelhas
A exposição ao 'A. apis' fez abelhas adultas aumentarem a coleta de resina na colônia, apesar de o fungo só afetar as larvas. Para os pesquisadores, essa espécie de altruísmo se justifica pelo fato de a colmeia inteira ser vista como o indivíduo afetado. (foto: Michael Simone-Finstrom)
Por fim, a pesquisa concluiu que o própolis pode ter um papel direto na defesa contra o fungo. Uma parte das colônias estudadas teve o interior revestido com a resina e, três semanas após a exposição ao A. apis, as colmeias sem revestimento de própolis apresentaram uma infecção significativamente maior se comparadas às colmeias que foram protegidas com a resina.
A automedicação já foi observada em outras espécies animais e pode assumir duas formas: o uso externo de determinada substância, como no caso das abelhas, ou a ingestão de alimentos que não fazem parte da dieta normal da espécie – há, por exemplo, primatas que ingerem folhas especiais para se livrar de infecções por nematódeos.
Segundo Simone-Finstrom, os próximos passos da pesquisa incluem investigar se as abelhas respondem também à infecção por outros microrganismos. “É possível que as colmeias também respondam a infecções por bactérias, mas não tivemos resultados conclusivos quanto a isso neste estudo; é algo que queremos explorar num futuro próximo”, adianta.

Catarina ChagasCHC On-line

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