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5.20.2012

Sutiã geladinho

Sem centrais nucleares, indústria inova para refrescar o Japão

País enfrenta racionamento de energia e vê novos negócios contra o calor florescerem



Modelos japonesas apresentam sutiã especial para refrescar o corpo
Foto: AFP

Modelos japonesas apresentam sutiã especial para refrescar o corpo AFP
TÓQUIO — Ainda sob o impacto do acidente de Fukushima, em 2011, os japoneses se preparam para um verão tórrido, enfrentando mais um racionamento de energia.
Pela primeira vez desde que aderiu às usinas nucleares, o país está com todas as centrais desligadas para manutenção, e a população que vive em torno delas não quer ver os reatores funcionando novamente. Como a crise energética não tem solução a curto prazo, os japoneses vêm buscando saídas temporárias para sobreviver ao calor. De spray para esfriar a cabeça a sutiã geladinho, o Japão sua a camisa sem perder sua capacidade de reinvenção.
Diante da ameaça de um colapso no abastecimento, a população vai ter que economizar, limitando o uso de ar-condicionado. Nos escritórios e prédios públicos, a ordem oficial é deixar a temperatura em torno dos 28 graus. As empresas farmacêuticas, de cosméticos e de roupas já aumentaram a produção de itens que refrescam e ampliaram suas ofertas em relação ao ano passado, investindo em novas tecnologias. Todas as grandes farmácias de Tóquio, por exemplo, têm prateleiras exclusivas para os produtos “super-cool biz” — o nome oficial da campanha por um verão menos escaldante.
Um dos mais procurados é o “shirt cool”, um spray para gelar as roupas. Se não for suficiente, tem o adesivo de gel para ser usado na testa, aliviando o calor. Para as noites mais quentes, os japoneses podem comprar o “ice-non”, um filtro que esfria o travesseiro. Há ainda várias marcas de loção para o corpo que prometem a sensação de arrepio de frio por pelo menos uma hora. Gigantes como a Shiseido criaram lenços umedecidos feitos exclusivamente para absorver o suor masculino.
Já a grife de lingeries Triumph botou modelos seminuas desfilando na capital japonesa para anunciar o “super-cool bra”, um sutiã com enchimento de gel congelado. A peça deve ser guardada na geladeira.
Apesar dos golpes de marketing, a crise provocada pelo desligamento das usinas — responsáveis por 30% da energia do Japão — não é brincadeira. Desde o início do mês , o Ministério do Meio Ambiente vem incentivando as empresas a aderirem à campanha para economizar energia, liberando o uso de roupas informais para os funcionários. No verão de 2011, a mesma medida foi adotada, mas este ano os japoneses — famosos pelo excesso de formalidade — parecem mais relaxados. Os tradicionais ternos escuros com gravata preta podem ser substituídos por camisas de manga curta, calças de algodão ou bermuda e chinelos. As camisas kariushi — de estampas bem coloridas, vindas da ilha de Okinawa — são o novo uniforme dos salarymen, como os trabalhadores de nível médio das empresas japonesas são conhecidos.
Roupas e cremes que ajudam a refrescar
Maior rede de roupas do país, a Uniqlo lançou peças de fibra ultrafina, que regula a circulação do ar. Elas sumiram rapidamente das prateleiras.
— A nossa linha mais vendida é a “Airism”, para ser usada diretamente sobre a pele, sob as roupas. Sua leveza dá sensação de conforto — explica Eriko Muteki, responsável pela campanha “super-cool biz” na Uniqlo.
A demanda das grifes levou o grupo Teijin, fabricante de fibras têxteis, a pesquisar materiais especiais para os japoneses encalorados.
— Desenvolvemos fibras que se expandem quando absorvem o suor e secam cinco vezes mais rápido que o algodão, além de um tecido que se transforma numa estrutura tridimensional em contato com a umidade — informa Rie Mashiba, porta-voz do grupo.
Mas toda essa tecnologia digna da Nasa não teria sentido se os japoneses não estivessem dispostos a aderir ao racionamento, trocando elevadores por escadas, aceitando turnos de trabalho nos fins de semana, quando o consumo de energia é menor, e reduzindo drasticamente o uso de aparelhos domésticos como máquinas de lavar roupa. Como consolo, podem se sentir mais livres, com a suspensão dos, em geral, rígidos códigos de vestimentas no ambiente de trabalho.
— É bom. Eu me sinto menos japonês — resume Hiro, funcionário de uma multinacional de Tóquio, sobre a chance rara de poder trabalhar de bermuda e sandália.

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