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7.19.2012

Como dizer adeus

Onze ideias para sobreviver ao fim, com alguma dignidade

Tem gente que acha simples, mas eu tenho problemas com rupturas e separações. Talvez as minhas tenham sido muito doloridas, talvez as de pessoas próximas tenham me afetado. Não sei. O fato é que basta eu ler nos jornais que Tom Cruise e Kate Holmes se separaram que uma voz dentro de mim lamenta: coitados...

Minha sensação é que nós – eu, você e o Tom Cruise – não estamos preparados para ouvir ou para dizer adeus. Sabemos começar e não sabemos acabar. Damos a partida num carro, mas não conseguimos parar. Saímos de viagem felizes, mas não conseguir chegar. Um paradoxo, uma incongruência, uma experiência que não fecha. Olhe em volta. Um namoro de meses, uma vez encerrado, pode nos causar enorme sofrimento. Basta que a pessoa nos rejeite para se converter na criatura mais importante no mundo. E na mais desejada. 
Nem é preciso que nos dêem o fora, na verdade. Pense na outra situação: você está namorando, ou casado, e não aguenta mais. Acontece. Como se faz para terminar? O primeiro estágio, dependendo do seu temperamento, pode levar meses ou anos de infelicidade paralisante. Você não suporta mais o som, a visão ou o tato da pessoa, mas não tem coragem de contar isso a ela, embora todos os seus amigos já saibam. Até para o cobrador de ônibus você já disse que aquilo acabou, mas a outra parte ainda não foi informada. Quando os amigos olham você com o seu par, é possível ler nos olhos deles a pergunta: “Ainda”? Dá vergonha. 
Quando, enfim, você resolve dar o ponto final, começa o outro problema. Culpa. Avassaladora e horrorosa culpa. As pessoas vêm contar que ela está sofrendo. Ele telefona. Sua mãe (eu já vi acontecer) recebe o abandonado na casa dela e liga para a sua casa, pedindo clemência: “Ele gosta tanto de você”. Não é fácil ser coerente. A gente não sabe se separar, e as nossas famílias não ajudam. 

Acima e além de toda a comédia, porém, o que existe nessas separações é dor. Olhe para a cara das pessoas: elas estão destruídas. Não dormem, não comem, mal conseguem trabalhar. Sofrem fisicamente. Perdem peso, ganham peso, adoecem. Se a gente extraísse da dor de cada separação alguma forma de energia limpa, os problemas ecológicos do planeta estariam praticamente resolvidos. Mas não. Essa é uma dor imensa, universal e inútil. 
Claro, os tipos mais psicanalíticos dirão – com alguma razão – que a dor da ruptura é necessária para a nossa formação emocional. Precisamos passar por ela para entender o amor e outras coisas essenciais sobre nós mesmos. 
Eu concordo com a tese, mas não entendo porque ela tem de ser estendida ao infinito. Eu, por exemplo, aprendi tudo o que tinha que aprender sobre sofrimento amoroso aos 13 anos, quando aquela garota de cabelos pretos e imensos olhos castanhos resolveu se apaixonar pelo meu melhor amigo. Desde então, toda perda, separação, rejeição ou pé na bunda tem sido uma mera repetição desnecessária. Até quando?
Como é impossível evitar os foras que nos darão – e aqueles que nós daremos – talvez seja melhor nos prepararmos para lidar apenas com as consequências das separações e rompimentos. Pensando nisso, usei a minha experiência, assim como a dos amigos (cuja colaboração nem sempre é voluntária), para compor um brevíssimo decálogo para uma ruptura menos dolorosa e talvez um pouco mais digna. O decálogo ficou com onze itens, e eu temo que essa não seja a sua única inconsistência. Pensem nele como postits para sair da vala. Talvez ajudem.

O decálogo

1. Diga adeus de verdade. Ou aceite o adeus que lhe deram. Pontos finais podem ser o começo de alguma coisa nova. Adiamentos e meias verdades não levam a lugar nenhum, e nos envenenam.

2. Não se coloque na situação de vítima. Isso destrói a sua autoestima e não faz ele ou ela voltar. Romance que acaba é uma fatalidade tão grande quanto romance que começa. Não tem culpados.

3. Assuma a responsabilidade. Não se abandone aos sentimentos negativos, como se você não fosse responsável pelo que faz ou sente. Em outras palavras, reaja.

4. Mantenha a dignidade. Ou rasteje com moderação. Quando você não tiver mais nada, o respeito por você mesmo – e pelo outro – pode ser de grande serventia.

5. Deixe o outro em paz, dê paz a si mesmo. Ficar correndo atrás da pessoa que a deixou, ou que você deixou, é tolice. Se procurou uma vez e não deu certo, fique na sua. Insistir piora tudo.

6. Procure os amigos. Os seus amigos, não os dela. Gente querida distrai e nos faz bem. Ah, sim: mesmo com os mais chegados, tente não reclamar 100% do tempo. Autocontrole ajuda a sair do poço.

7. Recolha-se ou exponha-se, mas seja fiel a si mesmo. Nunca invente um comportamento que nada tem a ver com você para agredir o ex ou para mostrar que você é foda. Só piora.

8. Faça arte ou consuma arte. Ver um show da Marisa Monte depois de um pé na bunda pode ser uma experiência transcendental. Assim como escrever poemas ruins, que você rasgará (ou não) depois de alguns meses.

9. Não perca pontos correndo atrás do ex anterior, a não ser que tenha virado amizade. Se ele ou ela ainda gostar de você, aproveitar-se para tentar se consolar é desprezível. E não funciona.

10. Lembre: da outra vez você sobreviveu. É importante ter isso em mente. As dores passam e a gente se apaixona de novo, mesmo que no momento isso pareça extremamente improvável.

11. Se a barra pesar demais, procure um analista. Ou mesmo um médico. Eles estão ai para nos socorrer quando o amor vira doença. Se você se assustar com você mesmo, é hora de pedir ajuda. Funciona.
(Ivan Martins- Revista Época)

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