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7.22.2012

VÓ É VÓ

Eu, minha avó e a graça de ver graça em tudo


Hoje, na Visita de Domingo, a atriz Tatá Lopes fala sobre sua opção pela risada.

A primeira risada que dei foi no dia do meu nascimento, quando levei do médico aquela palmadinha no bumbum. Naquele momento em que os bebês costumam gritar ou chorar – que seria, em sua língua, uma espécie de primeiro palavrão -, dizem que eu ri. Não me lembro mais se foi de prazer ou de constrangimento, afinal, eu estava nua e levando palmadas de um homem que não conhecia.
Talvez eu tenha rido por achar uma grande ironia da vida o fato de o primeiro contato com um ser humano ser uma palmada. Naquele momento, provavelmente me ficou a certeza de duas coisas. A primeira é que Deus é um irônico incurável. A segunda é que aquela paulada seria a primeira de muitas. Da vida.
A consequência: rir, pra mim, virou um grande prazer e o maior refúgio das minhas tristezas. E rir de mim mesma meu maior dom.
Agora mesmo escrevo esse texto no dia do falecimento da minha avó. Minha vózinha, uma das pessoas mais bem humoradas que conheci. O nome dela era Conceição, mas todo mundo chamava de Santinha. Há algum meses ela estava cheia de problemas – coração, pulmão – mas sem um diagnóstico muito preciso. Eu acho que o problema dela era saudade, pois há pouco tempo perdera o marido, com quem viveu 60 anos, e um dos cinco filhos.
Nos 45 do segundo tempo, ela ainda lúcida, era certeira na hora de tirar sarro:
- Pô, Vó, tu não vale nada, heim… – falei, no CTI, onde ela respirava com ajuda de aparelhos.
- E Tatá, presta?
Ela morreu sem reclamar de absolutamente nada. Nem de dor. Quando chegávamos para vê-la, sempre sorria. Demorou pra largar o osso da vida. Me despedi dela umas quatro vezes, achando que tinha chegado a hora. Agora ela foi mesmo. Mas me deixou a lição do sorriso e do riso.
Acho que esta foi uma qualidade que fui ganhando com o tempo: no início, sentir vergonha ainda era maior que a minha vontade de rir do meu próprio ridículo. Mas isso começou a mudar quando conheci a “vergonha alheia” e percebi que, sim, eu era estranha, mas o outro não era menos que eu. Então, porque não rir de mim também?
Daí, meio que “sem querer querendo”, comecei a ganhar a vida fazendo rir. Teve gente que duvidou. Disse que eu não levava o menor jeito pra coisa. Eu, debochada que sou…ri, é claro. Fiz um espetáculo de humor que está há dez anos em cartaz e que já fez rir mais de um milhão de pessoas. Faço um vídeo na internet, o “Minutos de Sabedoria”, que também diverte um bocado de gente. Isso me faz muito feliz. Nessa estrada engraçada, fiz muitos amigos, aprendi e aprendo muito com os colegas de mesmo propósito.
Mas, estranhamente, de uns tempos pra cá, eles andam de muito mau humor. Eu não sei ao certo quando a coisa desandou. Ou, quem falou mal de quem, ou quem achou a piada do outro sem graça. Ou quem comeu quem e não gostou. Não sei se é falta de sexo, se é excesso de trabalho…Ou de dinheiro. Ou quem sabe de seguidores no twitter. Não sei quando o Ego de todo mundo passou a falar mais alto que a própria piada, que anda gritando, tentando ter voz nesse monte de disse-me-disse.
O que eu sei é que tudo fica muito sem graça quando a piada é deixada de lado e quem aparece mais é o humorista. Aliás, não me considero humorista. Talvez seja até mesmo uma comediante ruim. (Inclusive já espero os comentários de “com certeza” abaixo desse texto). Ou uma piada que não deu certo. Ou só uma atriz carente que acha que fazer rir alimenta a alma.
De qualquer forma, gostaria de fazer um apelo aos meus colegas, à la Dercy Gonçalves: bora deixar de p* e vão dar meia hora d c* na esquina, faz favor! E achem graça. Eu acharia.

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