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8.26.2012

Falta do Naldecon abre espaço para outros antigripais no mercado


Antigripal popular virou raridade nas farmácias há pelo menos seis meses.
Fabricantes de similares oferecem remédios com as mesmas substâncias.

Tadeu Meniconi Do G1, em São Paulo

O sumiço de um dos medicamentos antigripais mais populares do Brasil abriu espaço para a entrada de novos produtos no mercado. O Naldecon passa por problemas de distribuição e está em falta nas drogarias há pelo menos seis meses.
Enquanto isso, laboratórios especializados em genéricos e similares investem no formato que consolidou o Naldecon: uma fórmula diferente para a noite e outra para o dia -- a diurna não causa sonolência.
Em novembro de 2010, a Bristol-Myers Squibb, laboratório que fabrica o Naldecon, fechou sua fábrica no Brasil e transferiu a produção do medicamento para o México. Em 2012, passou a enfrentar o que chama de um “desabastecimento temporário”. A empresa afirma “que está empenhada em regularizar o fornecimento o quanto antes”.
Os antigripais são medicamentos vendidos sem necessidade de receita médica que agem contra os sintomas, mas não contra o agente causador da doença. Por isso, podem ser usados tanto contra a gripe quanto contra o resfriado, desde que não haja abusos. Na persistência dos sintomas, é preciso procurar um médico.
O Naldecon é composto por três substâncias. O paracetamol serve como analgésico e também combate a febre. O cloridrato de fenilefrina atua como descongestionante nasal. Já a carbinoxamina é um antialérgico e, por causar sonolência, é usada apenas na versão noturna.
Naldecon está em falta nas prateleiras (Foto: Divulgação)Naldecon está em falta nas prateleiras (Foto: Divulgação)
‘Foi uma surpresa’
As mesmas substâncias estão sendo utilizadas em novos medicamentos antigripais, lançadas após o fechamento da produção nacional do Naldecon. Em março de 2011, a Cimed começou a produzir o Cimegripe Dia, uma versão que não causa sonolência do Cimegripe, antigripal que já era um dos principais produtos do laboratório.
Inicialmente, o lançamento não foi um sucesso de vendas. Porém, na ausência do Naldecon, ele vem ganhando espaço no mercado. Segundo João Adibe, presidente do grupo Cimed, as vendas aumentaram 450% nos meses de junho e julho.
Com a falta deles [do Naldecon], abriu espaço para a gente"
João Adibe, presidente do grupo Cimed
“Foi uma surpresa”, admitiu Adibe. “Com a falta deles, abriu espaço para a gente”, completou. Como o laboratório fabrica os medicamentos no Brasil, conseguiu adaptar a produção para a nova demanda, e hoje vende cerca de 150 mil unidades por mês, segundo o empresário.
“Se eles voltarem, vai ser uma briga boa”, afirmou o presidente, referindo-se à disputa no mercado.
Outros laboratórios especializados em genéricos e similares também participam dessa “briga boa”. Em 2012, a EMS lançou as versões dia e noite do Gripen, e a Legrand fez o mesmo com o Corizz. Como os lançamentos são recentes, as empresas ainda não passaram dados sobre as vendas dos medicamentos.
Segundo o farmacêutico Rogerio Veloso, que trabalha em uma drogaria na região central de São Paulo, a estratégia desses laboratórios funciona na prática. “Quem chega procurando o Naldecon acaba levando os similares. Eles saíam muito pouco, agora aumentou bastante”, garantiu.
Além do Naldecon, ele apontou Apracur, Coristina e Benegrip como os antigripais mais procurados pelos consumidores. Esses medicamentos possuem substâncias diferentes das do Naldecon e são produzidos por outros laboratórios, continuam sendo encontrados normalmente nas farmácias.
Venda do Cimegripe Dia cresceu 450% em dois meses, segundo o presidente da Cimed (Foto: Divulgação)Venda do Cimegripe Dia cresceu 450% em dois meses, segundo o presidente da Cimed (Foto: Divulgação)
Automedicação
“Se houvesse um medicamento contra o vírus da gripe, teríamos como eliminar a causa. Mas não há”, afirmou Carolina Restini, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp) que já conduziu estudos sobre os riscos da automedicação.
Restini explicou que é preciso ter cuidado para não exagerar nas doses desses antigripais, e que o consumo deles é contraindicado para quem já tem alguma outra doença prévia.
O cloridrato de fenilefrina, usado para reduzir a coriza, provoca a constrição dos vasos sanguíneos. “Pode causar problemas cardiovasculares. Hipertensos e cardiopatas não devem usar, ou devem usar com cautela”, destacou a médica.
Já o excesso do paracetamol, segundo a especialista, pode causar complicações nos rins, no fígado, no estômago e no intestino, além de alterar a pressão sanguínea. Como é um analgésico relativamente fraco, não tem grande risco de mascarar dores que indicassem algum problema mais complexo que um resfriado ou uma gripe.

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