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9.20.2012

Regeneração de tecidos


Técnica faz o corpo virar uma fábrica de regeneração de tecidos

Matrizes extracelulares estimulam o crescimento de músculos em pessoas mutiladas

Henry Fountain
PITTSBURGH, EUA - Nos meses depois que uma bomba na beira de uma estrada no Afeganistão dilacerou parte de sua coxa esquerda, o sargento Ron Strang imaginou se algum dia poderia voltar a andar normalmente. A explosão e as cirurgias subsequentes deixaram Strang, um fuzileiro naval de 28 anos, com um enorme buraco na coxa onde seu músculo quadríceps ficava. Ele podia mover a perna para trás, mas com tanto de seu músculo perdido ele não podia lançá-la para a frente. Ele conseguia andar, mas de forma estranha.
- Tornei-me muito bom em quedas – disse Strang, um homem alto e atlético, sobre seus esforços.
Mas isso foi há dois anos. Agora ele anda facilmente, pode correr em uma esteira e está pensando em uma nova carreira como oficial de polícia.
- Se você me conhece, ou sabe como procurar, pode notar que manco um pouco, mas quase todo mundo diz que nunca adivinharia (que perdi parte do músculo) – contou.
E há ainda outra coisa que quase ninguém adivinharia: o sargento Strang regenerou seu músculo graças a uma fina folha de material retirado de um porco. O material, chamado matriz extracelular, é uma estrutura natural que reveste todos tecidos e órgãos, tanto em pessoas quanto em animais. Ele é produzido pelas células, e durante anos os cientistas acreditaram que seu papel principal era mantê-los no lugar certo.
Agora, no entanto, os pesquisadores sabem que essa estrutura também sinaliza para o corpo que é preciso regenerar estes tecidos e órgãos. Armados com este conhecimento, os novos “fabricantes de corpos” estão usando o material de porcos e outros animais para estimular o crescimento de tecidos em humanos. A técnica usada na sargento Strang, ainda em desenvolvimento, traz uma promessa de cura para milhares de veteranos das guerras do Iraque e Afeganistão que foram mutilados por explosões e perderam tanto músculo dos braços ou das pernas que em alguns casos a amputação é a melhor alternativa.
Strang é um dos primeiros casos do que eventualmente será um teste clínico com 80 pacientes que visa regenerar músculos de membros. Apesar de financiado pelo Escritório de Transição Tecnológica do Departamento de Defesa dos EUA, o teste também vai incluir civis. Peter Rubin, cirurgião plástico da Escola de Medicina da Universidade de Pittsburgh que lidera o estudo, afirma que os resultados preliminares com Strang e outros pouco pacientes já demonstram que a matriz animal está estimulando o crescimento dos músculos.
- Estamos vendo evidências de uma remodelagem dos tecidos – disse.
No ano passado, Rubin removeu o tecido cicatrizado da perna de Strang e costurou ao músculo restante na coxa dele uma folha que lembra papel vegetal – a matriz extracelular da bexiga de um porco, que teve excelentes resultados em pesquisas no laboratório. O corpo do sargento reagiu imediatamente começando a quebrar a matriz, que consiste basicamente de colágeno e outras proteínas. Mas o que os médicos esperavam, e queriam, que isso acontecesse. Ao se degradar, a matriz também começou um processo de sinalização, convocando células-tronco para o local onde se transformariam em novas células musculares.
- Estamos tentando trabalhar com a natureza ao invés de brigar com ela – contou outro líder o estudo, Stephen Badylak, vice-diretor o Instituto McGowan de Medicina Regenerativa, também da Universidade de Pittsburgh.
Badylak é um dos pioneiros no uso de matrizes extracelulares, tendo descoberto muitas de suas propriedades há mais de duas décadas quando fazia pesquisas na área de engenharia biomédica na Universidade de Purdue. Como parte de seu trabalho em um coração mecânico, ele estava procurando uma maneira de fazer o sangue circular de uma parte para outra do corpo mas queria evitar usar materiais sintéticos, que podem provocar o surgimento de coágulos.
- Pensei: “o que se parece com um tubo?” - lembrou. - E conclui: um pedaço de intestino.
Usando como cobaia um cachorro batizado Rocky, Badylak substituiu a principal artéria próxima ao seu coração com uma parte de seu intestino delgado (“hoje teria dificuldades em conseguir aprovação para esse estudo”, comentou). Quando chegou no laboratório no dia seguinte, ele esperava encontrar todo tipo de problemas:
- Mas Rocky estava em pé na sua gaiola, pedindo o café da manhã e abanando o rabo – contou. - Pensei: isso é bem legal.
Experimentos posteriores mostraram que com o tempo o tudo perdeu as células internas específicas dos intestinos e ganhou células características de vasos sanguíneos.
- Ele tinha se transformado em uma estrutura parecida com um vaso sanguíneo, o que consideramos incrível – disse. - Eventualmente, descobrimos que a responsável por isso não foi o intestino como um todo, mas apenas a matriz extracelular.
Matrizes extracelulares de porcos, ovelhas e outros animais passaram a ser usadas na última década como um reforço na reparação de danos em ombros, hérnias e outros ferimentos.
- Os cirurgiões as veem como colas para manter as coisas juntas – disse Badylak, lamentando que eles não entendem o papel das matrizes na regeneração. - Eles ainda não sacaram isso, assim como nós a princípio não.

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