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9.25.2012

Sistemas de saúde em transformação: As principais transições


Sistemas de saúde são estruturas dinâmicas e hipercomplexas.  Não é possível pensar a saúde em nosso país sem considerar as profundas transformações estruturais pelas quais nossa sociedade está passando em vários campos e dimensões, e que impactam de modo complexo nosso sistema de saúde. Para fins didáticos podemos chamar esses processos de transições no campo da saúde pública, embora nem sempre se trate exatamente de passagem de um estado para outro podendo ocorrer múltiplas expressões heterogêneas presentes em um mesmo contexto determinado pela dinâmica econômica e social.
Neste primeiro artigo de uma série, vamos tratar da transição demográfica.
Nosso país ainda é predominantemente composto por uma população de jovens, mas, com uma velocidade crescente, estamos passando por um contínuo e sustentado processo de envelhecimento. Para ficar em um bom exemplo, o que os países da Europa levaram um Século para fazer, o Brasil está fazendo na metade do tempo. Inúmeros fatores estão envolvidos nesse processo. A taxa de fecundidade está caindo drasticamente. A mulher brasileira em idade fértiltinha em média mais de seis filhos no começo dos anos 60 do século passado e atualmente tem menos de dois. A taxa geral de mortalidade também apresenta queda significativa, assim como aumenta de modo expressivo a expectativa de vida ao nascer que era de 70,4 anos em 1990 e em 2010 aumentou para 73,5 anos.  
Segundo o IBGE, em 1991, havia 21 indivíduos com mais 60 anos, para cada 100 menores de 15 anos. O efeito combinado da diminuição da fecundidade e da mortalidade na composição populacional foi tão extraordinário que fez com que em 2010, este índice se elevasse para 44,8. Segundo a publicação da FIOCRUZ, “A saúde no Brasil em 2030”, em 2030 teremos mais pessoas acima de 60 anos (40 milhões) do que jovens até 14 anos (36 milhões)!
De acordo com projeções do mesmo IBGE, em 2050, a participação relativa da população de 80 anos e mais na população brasileira ultrapassará aquela observada na França em 2010. 
Essas mudanças provocarão um profundo impacto sobre nosso sistema de saúde que, na prática, precisará ser repensado em profundidade. 
O modelo assistencial hegemônico hojeestá organizado sob uma lógicaonde predomina o atendimento a quadros de urgência eemergência. Ele não está preparado para atender a crescente prevalência de doenças crônicas, de pacientes portadores de múltiplas patologias, com síndrome metabólica, de idosos que necessitam de cuidados diferenciados e muitas vezes complexos, distintos, não necessariamente de cuidados médicos, mas também de apoiadores, acompanhantes, de cuidados de enfermagem, de atenção domiciliar.  Ou seja, se as instituições de saúde são produto do trabalho humano, as novas instituições que surgirão para atender a essa nova realidade dependerão de uma nova geração de profissionais e especialistas com uma nova visão e uma nova formação que ainda não está claramente concebida.
Sofreremos também de modo crescente o impacto das demências senis, Alzheimer, depressões, quadros neuropsíquicos entre outras patologias.As políticas de promoção e prevenção deverão estar pautadas no esforço da sociedade para que esse processo de envelhecimento se dê garantindo a autonomia dos idosos em um contexto de envelhecimento saudável. Para isso abordagens intersetoriais e transdisciplinares na formulação de políticas públicas deverão predominar. E novamente se colocará a questão da equidade. Porque teremos que falar de uma população de idosos demandando por atenção em um país ainda injusto e desigual. E capacidade futura das famílias em um país tão desigual, de prover cuidado e atenção para nossos idosos, possivelmente ampliará a demanda por cuidados extrafamiliares em um futuro próximo.  
E, evidentemente, os custos para o sistema de saúde sofrerão impacto considerável agudizando a vertente da sustentabilidade econômico-financeira.
A estrutura conceitual, física, organizacional e tecnológica necessária para atender a esse novo desafio está longe de sequer ter iniciado seu processo de concepção.
Alguém consegue vislumbrar desafio maior?


 Prof. José G. Temporão

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