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10.09.2012

Amil é vendida para gigante americana UnitedHealth


Grupo pode pagar até R$ 9,9 bi por 90% das ações

SÃO PAULO, RIO e BRASÍLIA — Depois de três anos de conversas, a americana UnitedHealth acertou na madrugada de ontem a compra de 90% do capital da Amil, a maior operadora de planos de saúde do Brasil, ao preço de US$ 4,9 bilhões, o equivalente a R$ 9,89 bilhões pelo câmbio de ontem. O anúncio foi feito pelo fundador e principal executivo da Amil, Edson Bueno, que ficará com 10% das ações remanescentes da empresa pelos próximos cinco anos. Em contrapartida, terá de investir US$ 470 milhões em ações da americana.
Ainda pelo acordo, Bueno permanecerá no comando da Amil e terá assento em uma das dez cadeiras do Conselho de Administração da UnitedHealth, a maior empresa de planos de saúde do mercado americano, com faturamento de US$ 102 bilhões em 2011. Além dos Estados Unidos, o grupo está em 17 países — 18 agora com o Brasil — e tem mais de 70 milhões de clientes, contra pouco mais de cinco milhões da Amil.
— Se você não anda, fica no meio do caminho — disse Bueno, contando que no início das conversas não se entusiasmava com a ideia de vender o controle da Amil, fundada por ele em 1972, aos 28 anos.
A aquisição da Amil se dará em duas etapas. A americana vai desembolsar R$ 6,5 bilhões por 56,8% do capital da Amil Participações, que pertencem a Bueno e à sua ex-mulher, Dulce Pugliese de Godoy Bueno. Outros R$ 3,4 bilhões deverão ser desembolsados para a aquisição de 30% das ações ordinárias da Amil que estão nas mãos de acionistas minoritários na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), além de 1,8% dos papéis em poder dos administradores da companhia. Não à toa, as ações ordinárias (ON, com direito a voto) da Amil dispararam depois do anúncio da venda e fecharam com 15,26% de alta na Bovespa, a R$ 29,16. Até sexta-feira, as ações da Amil Participações já acumulavam alta de 55,10% no ano. No mercado americano, a ação da United Health Group subiu 0,8%, para R$ 57,60, a maior alta do índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York.
— A expectativa é que a Amil possa crescer no mercado de saúde privada, um segmento que vem se expandindo no país com mais brasileiros emergindo para a classe média — afirmou Luiz Roberto Monteiro, analista da corretora Renascença.
Empresa brasileira sairá da bolsa
Para os clientes da Amil, que são 9% dos usuários de planos de saúde do país, o negócio não deve acarretar mudanças imediatas, garantiu Bueno. Os atuais planos continuam a valer.
— Em três anos teremos outra cara, seremos muito melhores — disse o empresário, lembrando que os projetos no setor de saúde são de longo prazo — Essa empresa vai nos ajudar a atender melhor nossos clientes e nossos médicos. É um ganha-ganha extraordinário, vamos trazer muita tecnologia.
A transação ainda depende da aprovação dos órgãos reguladores do governo: da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Procurada, a ANS informou que soube da venda pela imprensa e que “aguarda que a negociação seja submetida à sua aprovação”.
Embora a legislação atual não exija que a venda passe pelo crivo do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), a Amil informou que notificará o caso ao órgão antitruste. De acordo com a portaria 994, publicada em maio pelos ministérios da Justiça e da Fazenda, a análise e aprovação do Cade é obrigatória apenas quando uma das partes envolvidas na operação tem faturamento anual bruto, no Brasil, de R$ 750 milhões e a outra, de R$ 75 milhões. A Amil não divulgou o faturamento bruto, mas a sua receita líquida foi de R$ 9 bilhões em 2011. De acordo com a empresa, a companhia americana não tem faturamento no Brasil suficiente para se enquadrar na regra.
Na avaliação de Olavo Chinaglia, advogado e ex-presidente do Cade, a compra anunciada ontem, sozinha, não causa preocupação do ponto de vista da concorrência, pois não aumentará a concentração no setor de saúde no Brasil. No entanto, a seu ver, caso o órgão considere necessário, poderá pedir informações aos envolvidos para analisar o setor:
— O Cade pode encontrar subsídios para fazer um estudo, pois esse setor é objeto de reestruturação ampla.
De acordo com o diretor de relações com investidores da Amil, Erwim Kleuser, a expectativa é que as “liberações” estejam publicadas até o primeiro trimestre do próximo ano. Também será no início de 2013 que a UnitedHealth fará a oferta pública de aquisição (OPA) das ações dos minoritários, para em seguida fechar o capital da Amil. Assim, passará a incorporar as cifras da Amil aos balanços apresentados aos detentores de suas ações, que são negociadas na Bolsa de Nova York”.
Lei proíbe estrangeiros no setor
A proposta da UnitedHealth prevê o pagamento de R$ 30,75 por papel da Amilpar em poder dos minoritários, o que significa um prêmio de 21,54% frente ao fechamento da ação na sexta-feira, de R$ 25,30. O negócio também influenciou as ações da DASA, que tem entre seus acionistas Edson Bueno, com participação de 12,03%, e Dulce Pugliese, com fatia de 11,56%. A ação ON da DASA subiu 7,69%, a R$ 14, a maior alta do Ibovespa, índice de referência da Bolsa, que subiu 1,27%, aos 59.317 pontos.
Perguntado sobre se há risco de a operação ser vetada, já que a Constituição brasileira proíbe a participação de capital estrangeiro em empresas de serviços de saúde, Kleuser disse não temer que haja veto, já que os “hospitais são nosso centro de custos e não de receita, somos uma operadora de serviços”.
Em teleconferência com analistas, o presidente da UnitedHealth, Stephen J. Hemsley, disse estar certo de ter encontrado “o melhor parceiro” para ingressar no mercado brasileiro.
— Para nós, o potencial (do mercado brasileiro) parece ser o mesmo que o mercado dos Estados Unidos tinha 20 anos atrás, ou mais — disse Hemsley.
A compra da Amil é a quarta aquisição da UnitedHealth neste ano. Trata-se, porém, da primeira entre 140 compras já feitas pelo grupo desde sua fundação em que ficará com menos de 100% da empresa adquirida. Esta também é a maior operação, em termos de valores, já feita pela UnitedHealth fora dos Estados Unidos. A receita da Amil este ano deve chegar a US$ 5 bilhões, crescimento de 15% sobre o ano passado. A brasileira tem quase cinco milhões de clientes em seus planos de saúde e odontológicos.

Atendimento e coberturas da Amil têm que ser mantidos após compra por grupo americano

No Rio, Amil é alvo de 724 ações. Especialista quer ‘estudo profundo’ da ANS

RIO — Com cerca de cinco milhões de usuários, a Amil, adquirida pela americana UnionHealth, é a maior operadora brasileira de planos de saúde e um dos principais alvos de queixas dos consumidores na área de saúde suplementar. A nova operadora terá que manter o mesmo atendimento e coberturas previstas nos atuais contratos.
Na lista das 30 empresas mais reclamadas na Justiça do Rio, a Amil ocupa o 25º lugar, com 724 ações cíveis em 12 meses. Entre janeiro e agosto deste ano, as queixas contra a Amil representaram 14% das 537 cartas reclamações sobre o setor de saúde no banco de dados da seção Defesa do Consumidor do GLOBO. São problemas como dificuldade para marcar consultas ou negativa para exames ou cirurgias.
O advogado Ulisses César Martins de Sousa, conselheiro federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), não vê problema no fato de empresas ou capitais estrangeiros atuarem na assistência à saúde, em um mundo globalizado:
— A princípio nada há de ilícito ou irregular na aquisição da Amil, e de sua rede própria de hospitais, por empresa estrangeira. Até porque, ao assumir a Amil, uma das obrigações imposta pela ANS, é a manutenção da rede para propiciar atendimento aos usuários.

EUA e Brasil: são muito diferentes
O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) lembra que, havendo alteração na rede credenciada, deve ser respeitada a Lei 9.656/98, que regulamenta os planos de saúde. A empresa deverá “enviar carta aos consumidores com 30 dias de antecedência e substituir o prestador por outro equivalente; não interromper a prestação do serviço de assistência médica hospitalar, principalmente para os casos de internação e tratamento continuado”, informa o Idec.
Para o advogado Armênio Clóvis Jouvin Neto, do escritório Vilhena Silva Advogados, especializado em Direito à Saúde, a ANS precisa “fazer um estudo profundo” da negociação antes de aprová-la:
— Não vemos ainda problemas para o consumidor. Mas, os sistemas de saúde privados nos EUA e no Brasil são muito diferentes. Espero que não haja piora no atendimento.


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