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10.14.2012

Maluf está com o PT; o malufismo, com o PSDB


O senador Aloysio Nunes (PSDB) e o Cel. Paulo Telhada, vereador recém-eleito em São Paulo, durante caminhada de José Serra na capital. Eleito pelo PSDB, Telhada espelha parte dos ideiais do malufismo. Foto:
Paulo Maluf dispensa apresentação. Carisma à parte, representa uma das maiores aberrações da história da política brasileira e, em particular, de São Paulo. Faltou pouco para ser presidente. Segundo o então general Newton Cruz, cogitou até matar seu rival Tancredo Neves para isso à época (disse isso em entrevista à Folha de S. Paulo em 2000). Sua musculatura eleitoral teve fôlego até quase 20 anos depois do fim da ditadura que o expeliu.
Paulo Maluf apoia Fernando Haddad, do PT, à prefeitura de São Paulo. Dono de uma filosofia de vida resistente na capital paulista (e também no interior), simbolicamente ele mais atrapalha que ajuda o petista. Devem ter sido poucos os malufistas históricos que toparam votar no ex-professor da USP neste 1º turno.
Haddad estava interessado em outra coisa: o tempo de TV que o PP, partido de Maluf, acrescentou à coligação. Exposição na mídia é essencial para uma campanha vitoriosa. E o sistema de coalizão pede resultados: dane-se quem você é, eu quero o quanto você pode me dar.
Posto isso, é necessário dizer: a herança malufista não está com o PT e nem está morta. Está com o PSDB, em sua maioria, mesmo que Celso Russomanno (PRB) também tenha beliscado parte deste público. Esta parece ser uma das confirmações das eleições municipais em 2012.
O declínio acentuado de Paulo Maluf desde as eleições de 1998 dá a entender que as mentalidades rudimentares o apoiaram eram parte do passado. Me refiro ao sujeito que prefere um mandatário “que rouba, mas que faça” (Maluf não diz isso, mas seu eleitor diz), que entenda que os problemas da cidade são resolvidos com  o dueto (I) construção de viadutos, pontes e avenidas (priorizando o transporte pessoal sempre) e (II) manutenção da ordem à base da força, com uma polícia que apela para a força bruta ao primeiro sinal de conflito, e da “Rota na Rua”, mesmo que a Rota tenha que atropelar absolutamente qualquer diretriz de direitos humanos (“bandido bom é bandido morto”). Embora o “rouba, mas faz” não faça parte do beabá tucano, o dueto de pensamentos aproximou o ideário de Maluf ao PSDB atual.
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Até 2004, o oposto do malufismo era o petismo. Ao mesmo tempo, a antítese pessoal de Paulo Maluf era Mario Covas. Desde a primeira eleição, porém, em que o PT e o PSDB polarizaram a disputa, em 2004, as viúvas eleitorais de Maluf parecem tem migrado para os tucanos aos poucos.
Alguns fatos expressivos da gestão tucana no governo do estado, especialmente de 2010 para cá, são atitudes que orgulhariam Paulo Maluf: a invasão da PM ao assentamento do Pinheirinho, em São José dos Campos (SP), a truculência da PM no caso da invasão da reitoria na USP e o aumento de 45% das mortes causadas pelas Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar, a Rota, em 2012. Esta última,  inclusive, era desde 2011 comandada por Salvador Modesto Madia, réu na invasão do Carandiru há 20 anos — Madia foi escolhido a dedo pelo governador e depois caiu.
Na capital, a dobradinha José Serra (PSDB)/Gilberto Kassab (PSD) não deixou por menos: 30 das 31 subprefeituras são comandadas por oficiais da PM. A cereja do bolo: o PSDB deu guarita à candidatura do Coronel Paulo Telhada, ex-chefe da Rota, famoso por incitar a violência em redes sociais, criticar organizações em prol dos direitos humanos e, mais recentemente, constranger um repórter da Folha de S.Paulo devido a reportagens que não lhe agradavam. As declarações mobilizaram outros agentes, que passaram a ameaçar o jornalista e o forçaram a fugir do País com sua família. Fugiu para se proteger da polícia. Enquanto isso, Telhada, que matou 36 suspeitos de crimes na carreira – todas as mortes foram em confronto e “dentro da lei” garante – era eleito o quinto vereador mais votado de São Paulo e declarou ter-se filiado ao PSDB por “lealdade a José Serra”.
Lealdade prontamente reconhecida pelo candidato tucano à prefeitura. “(Telhada) Foi um homem muito competente, seguindo as orientações do governo: uma política firme que respeita os direitos humanos”, disse José Serra sobre ele após uma caminhada na zona oeste da capital, na quarta-feira 10, na companhia do Coronel.
É triste constatar que o malufismo segue vivo, embora disfarçado com outras vestimentas e discursos oficiais. Isso certamente não estava nos planos de Mario Covas, um dos mais respeitáveis nomes que já governou a cidade e o estado de São Paulo.

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