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11.23.2012

Personalidade define paladar, diz estudo

Nova pesquisa sugere que pessoas que gostam de comidas apimentadas são aventureiras

RAFAEL CISCATI
O professor americano John Hayes é um apaixonado por comidas picantes. “Gosto de tudo – de comida mexicana até os pratos apimentados da culinária creole de Luisiana”. O hábito causa estranheza na casa dos pais, que preferem sabores mais amenos: “Eles reclamam até da pimenta no molho da macarronada. Definitivamente, não aprendi isso em casa”, diz.
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Nova pesquisa sugere que preferência por comida apimentada é comum entre pessoas aventureiras (Foto: Jovenshado/SXC )
Graças a seu novo estudo, Hayes descobriu por que não compartilha das mesmas preferência à mesa. “O paladar é uma questão de personalidade”, diz Hayes, diretor do Centro de Avaliação Sensorial da Universidade Estadual da Pensilvânia, nos Estados Unidos.
Hayes dedica-se a desvendar um velho mistério da culinária – por que algumas pessoas gostam de certos pratos e outras não? Ele e a pesquisadora Nadya Byrnes conduziram um trabalho com 97 voluntários. O objetivo era descobrir se existe alguma relação entre traços de personalidade e a paixão de alguns por comida apimentada – um gosto que costuma causar aversão inicial na maioria das pessoas. A cada um dos voluntários, foi servida água misturada ao princípio ativo que dá a sensação de ardência, chamado capsaicina. Os voluntários também tiveram de responder um questionário sobre hábitos alimentares e outro sobre características de sua personalidade.
Os resultados, publicados na última edição da revista científica Food Quality and Preference, sugerem que a preferência por pratos picantes é definida pela disposição para viver experiências novas. Os voluntários que relataram consumir pratos apimentados receberam pontuação alta no questionário que avaliava sua necessidade por buscar novas sensações. "Pessoas assim são, geralmente, desenvoltas. Gostam de viajar, dirigir carros em alta velocidade ou fazer apostas”, diz Hayes.
O pesquisador americano John Hayes (Foto: Divulgação)John Hayes (Foto: Divulgação)
Não é só a personalidade que afeta o paladar. Características fisiológicas e hábitos culturais também desempenham papel importante nas escolhas individuais de alimentos. O que você aprende a comer quando criança influencia suas escolhas quando adulto. Daí, a importância de os pais incentivarem os filhos a comer verduras e legumes desde pequenos. Os valores da sociedade também interferem: “Estudos de colegas meus descobriram que, no México, pessoas que não gostam de pimenta continuam a consumi-la porque isso os ajuda a provar sua masculinidade”, diz Hayes.
Apesar de as descobertas de Hayes soarem como uma curiosidade científica, ele espera usar os resultados da sua pesquisa no futuro, para descobrir como estimular a adoção de dietas mais saudáveis. Pesquisas sugerem que o consumo de capsaicina traz benefícios ao sistema cardiovascular. A substância atua também no balanço energético – sua digestão consome mais calorias do que a quantidade fornecida pela pimenta. “Todo conhecimento que nos ajude a entender por que as pessoas escolhem esse ou aquele alimento pode ter impacto sobre a saúde e o bem estar das pessoas”, afirma.
Nesse meio tempo, Hayes, como um bom amante de pimentas, concentra-se em suas próprias aventuras. Culinárias, é preciso dizer. A busca por novas experiências o levou a cozinhas de todo o mundo: “Conheci primeiro a culinária mexicana. Agora, gosto mais da tailandesa”. Seu mais novo favorito é um prato coreano, uma espécie de sopa picante com macarrão e carne: “Sei que tomei uma bem feita quando começo a suar e meu nariz descongestiona”, diz. Seus pais, ele diz, continuam sem entender seu apreço pelas comidas ardidas.

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