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11.08.2012

Preço de cigarro é o principal fator de redução do número de fumantes

Pesquisadores do Brasil e dos EUA usaram um modelo matemático para estimar, pela primeira vez, as causas da queda de 50% no número de fumantes do país nas últimas duas décadas.
De 1989 a 2010, a proporção de fumantes na população adulta brasileira foi de 35,4% para 16,8%. O estudo, publicado na revista científica "PLOS Medicine", conclui que quase metade dessa queda se deveu ao aumento dos preços de cigarros, ligado à maior taxação do setor.
"Isso era esperado. O aumento do preço é a medida mais efetiva no controle do tabagismo, o que se vê também em outros países", explica Liz Maria de Almeida, coordenadora de pesquisa populacional do Inca (Instituto Nacional de Câncer) e coautora da nova análise.

Editoria de Arte/Folhapress
"O preço faz com que mais pessoas, principalmente jovens, não se tornem fumantes. E leva outros a diminuírem o consumo de cigarros e até deixarem de fumar", afirma a pesquisadora.
Com o estudo, foi possível também estimar o número de mortes devido ao cigarro que foram evitadas entre 1989 e 2010: cerca de 420 mil.
O grupo usou o modelo matemático "SimSmoke", desenvolvido pelo americano David Levy (coautor do estudo, da Universidade Georgetown) e testado em vários países e Estados americanos.
O modelo utiliza cinco parâmetros: política de taxação do tabaco, medidas de banimento do cigarro em lugares fechados e públicos, campanhas em veículos de mídia, restrição de propaganda, tratamentos para parar de fumar e proibição de compra para jovens (veja quadro à dir.).
PESOS E MEDIDAS
Cada um dos parâmetros recebeu um peso, de acordo com a força de implementação de cada medida no país, e o modelo foi calibrado para a realidade brasileira. "Demoramos um ano obter os resultados", diz a médica.
"O David Levy, que já tinha trabalhado conosco em outros estudos, ficou impressionado com a redução no número de fumantes no Brasil e propôs que estudássemos as causas dessa queda espetacular", afirma Liz.
O modelo foi testado com os dados do IBGE de 2008 e apresentou uma correlação expressiva, mostrando aos pesquisadores que os parâmetros estavam acertados. A partir disso, eles puderam fazer estimativas para o futuro.
Um dado preocupante obtido com o modelo é a pequena participação da proibição de venda de cigarros aos jovens na redução de fumantes brasileiros, apenas 0,3%.
"É preciso reforçar e fazer cumprir melhor essa lei. Pesquisas com jovens já mostraram que é muito fácil para eles comprar cigarros."
FUTURO
O Brasil ratificou em 2005 a CQCT (Convenção-Quadro para o Controle de Tabaco), o primeiro tratado internacional de saúde pública da história, realizado sob os auspícios da OMS (Organização Mundial da Saúde).
Ele obriga os países signatários a adotar ações como o completo banimento de propaganda de cigarros e o reforço de outras medidas já seguidas no Brasil, como o apoio à diversificação agrícola nas plantações de tabaco e a proteção contra a exposição à fumaça do cigarro.
Na estimativa dos pesquisadores para 2050, eles simularam o cenário levando em conta as medidas restritivas atuais e as que valeriam se o Brasil seguisse todas as recomendações do CQCT.
Se as políticas de controle de tabaco não mudassem, o modelo estima que a porcentagem dos fumantes em 2050 será de 10,3% dos adultos. Em comparação, se adotadas as medidas da convenção, esse número será de 6,3%. A diferença entre os dois cenários evitaria cerca de 1.3 milhão de mortes prematuras em decorrência do tabagismo.
Liz de Almeida mostra-se otimista com o futuro."Os últimos ministros da Saúde têm apoiado medidas antitabagistas. Isso tornou-se uma política de Estado", diz.
FERNANDO MORAES
FOLHA

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