“Trolls”, os monstros da internet
Os trolls ofendem quem participa de discussões e disparam palavras de ordem racistas. São sabichões, reclamam, provocam, espezinham. Alguns se consideram especialistas, dão sua opiniões indiscutíveis. Outros só querem destruir, como uma criança que pula em cima de uma escultura de areia construída com todo o cuidado na praia. Alguns incomodam de propósito, para provocar, outros agem de forma passional, por não conseguirem conter as emoções quando excitados sobre algum tema.
Não é preciso procurá-los por muito tempo. Uma espécie peculiar deles faz parte das páginas de curtidores de clubes esportivos no Facebook. Esses hooligans da internet se dizem torcedores, mas não escondem a decepção com o desempenho dos próprios times. Quando começam a desfiar seu repertório de injúrias, também os outros usuários logo se espantam com a rapidez com que o nível dos comentários pode baixar, sobretudo em seguida a uma derrota.
Pior ainda é o que se encontra na página hatr.org, que lista comentários realmente nocivos encontrados em páginas de conteúdo sociopolítico. As principais metas neste caso são os blogs antirracistas, feministas ou homossexuais. Nesses contextos, os trolls usam termos que na vida “normal” fariam com que a pessoa que dissesse aquilo fosse processada de imediato.
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Há de tudo: de palavrões de conteúdo sexual e degradante, passando por um vocabulário extremamente violento e fantasias de violência, até idolatria de Auschwitz – uma coleção de atrocidades. O hatr.org alerta antes que o usuário abra a página: “O conteúdo deste site pode desencadear lembranças traumáticas e medo. É difícil de engolir… Favor pensar bem se você quer mesmo se confrontar com isso”.
Mas o hatr.org não quer apenas apresentar as obras completas dos freaks perturbados e com déficit de atenção. “Queremos capitalizar os trolls, com todo o sangue-frio”, diz o site. “O dinheiro recolhido, queremos disponibilizar para projetos legais”. Em uma de suas páginas, o site promete investir o dinheiro por uma boa causa.
O designer de comunicação Stefan Krappitz escreveu sua tese de doutorado sobre os trolls de internet. Ele acredita que eles não possam mais ser eliminados da rede. “São também mais velhos que a própria internet”, diz Krappitz à edição online do semanário Die Zeit. E dispõem hoje de um potencial artístico ou político. Mas suas ações podem ser vistas como arte? Possivelmente, acredita Krappitz. “Um bom troll não proporciona diversão somente a si mesmo, mas a muita gente”, completa.
Fato é que os trolls fazem parte da cultura de rede como todo o resto. A internet é livre e não conhece a diferença entre o bem e o mal – saber discernir fica a cargo do usuário. O que determina a cultura própria desses trolls é o fato de eles terem criado uma linguagem própria, um código para uma determinada rede, que está sempre se renovando.
E assim vão surgindo diversas subculturas. A chamada trollface surgiu primeiramente em páginas obscuras como a 4Chan – um palco para aficionados da rede de todos os tipos. Hoje já é até possível obter um aplicativo deformador de rostos. Há as histórias em quadrinhos com ragefaces, tirinhas que nunca acabam bem e desembocam num sonoro “FFFFFFUUUUUU-”.
Os trolls menos engraçados, que causam danos e dor às outras pessoas, tampouco poderão ser expulsos da rede. Por sorte, a maioria dos fóruns e blogs com muito movimento conta com medidas de segurança. Os posts são controlados por redações antes de serem publicados e só aí são liberados. No Facebook, certos termos são censurados. E se, vez por outra, alguma frase imbecil escapa, trata-se, decerto, de obra dos trolls de plantão.
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