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12.14.2012

Cleo Pires


 
Sempre me perguntei se divas já acordam divas – se, ao bocejar, esfregar os olhos, vestir o robe, escovar os dentes, aparar a cutícula, sei lá, se elas, ao se confrontarem com o espelho das manhãs preguiçosas, se aí, no momento mais plebeu do dia, as divas já estarão investidas daquela nobreza peculiar que as distinguem das demais mortais. Sempre me perguntei se divas são divas de tempo integral ou se, ao contrário, elas preferem saborear a magia ritmada e muito ensaiada da transformação, aquele interlúdio que conduz da banalidade da vida a um patamar superior de iluminação, mistura de transe com atitude (Nelson Rodrigues observou que há quem caminhe pela vida como que envergando o manto invisível de sua própria majestade).
Agora, à frente de Cleo Pires, eu me convenço de que não preciso mais me perguntar. Ser diva é manipular o dom da surpresa e o poder da revelação. Cleo sabe o que vem a ser isso. Percebo nela o fascínio meio moleque da manipulação. Ela está no camarim de um estúdio fotográfico para o cabelo e a maquiagem. Veste jeans preto e camiseta também preta. Tem a expressão jovial de quem podia ser junior num college da Filadélfia. Parece ter bem menos do que os 30 anos que ela, em vez de despistar, anuncia com orgulho. Brinca, ironiza, dissimula, filosofa, saboreando meticulosamente as palavras. A diva que dormita dentro dela vai se impondo. Os spots em torno do espelho explodem no rosto dela, mas, à medida que ela fala, uma coisa fica clara, claríssima: Cleo Pires tem luz própria. “My own person”, diz ela. Assumir, não importa em que linguagem, a propriedade plena de seu próprio carisma; quem sabe não comece aí a excepcionalidade das autênticas divas.
 Nirlando Beirão
Foto Fernando Louza/ ABÁ MGT
Edição de moda Heleno Manoel
Beleza Lavoisier (CAPA MGT)

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