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12.25.2012

Heldy, surdocega que se comunica pelo tato

Quando tinha pouco mais de um ano de idade, tudo que Heldyeine sabia fazer era chorar e se arrastar de costas no chão, o que lhe deixava com falhas no couro cabeludo. Surdocega congênita por causa da rubéola contraída pela mãe na gravidez, a criança parecia isolada. Pouco a pouco, Heldy foi aprendendo a pegar objetos, andar, alimentar-se, tomar banho, reconhecer pessoas e emoções, expressar desejos e interagir com o mundo, tudo por meio do toque. Hoje, aos 21, Heldyeine Soares se comunica por Libras (Língua Brasileira de Sinais) tátil --os sinais são feitos nas mãos, que ficam em forma de concha, para que ela os sinta e os interprete. Seu mundo, feito de gestos que identificavam coisas e pessoas, foi sendo traduzido para a Libras tátil, o que ampliou suas possibilidades de interação e abstração. A história da menina acaba de ser publicada no livro "Heldy Meu Nome -- Rompendo as barreiras da surdocegueira", escrito pela pedagoga Ana Maria de Barros Silva, impressionada com o desempenho de Heldyeine. "Essa é uma história de sucesso que não poderia ficar apagada. Surdocegos congênitos como ela tendem a ficar isolados, não têm esse desenvolvimento", diz a autora, que trabalha há 40 anos com a educação de surdocegos. Grande parte desse sucesso é mérito da professora aposentada Marly Cavalcanti Soares, do Instituto dos Cegos de Fortaleza, que encarou o desafio de ensinar a menina, apesar de ter poucos recursos e de seu desconhecimento sobre a surdocegueira. O livro só pôde ser escrito graças aos seus detalhados relatórios do progresso de Heldy. Anotava cada conquista, tirava fotos e fazia vídeos, batizados de "Renascer". Os textos dão uma ideia de como o progresso foi alcançado e comemorado e mostram como Heldy aprendia rápido e dava sinais de que queria mais. Depois de aprender a andar, já recusava a ajuda da professora para subir escadas, como se pedisse mais autonomia. Ela logo conseguiu identificar as pessoas --reconhecia a professora pelas blusas com botões e tinha um gesto para cada membro da família. De origem simples, a família de Maracanaú (a 15 km de Fortaleza, CE) levava quase duas horas para chegar ao Instituto dos Cegos de Fortaleza de ônibus. A mãe, Jane, abandonada pelo ex-marido, cuidava sozinha de Heldy e das duas filhas mais velhas. Apesar das dificuldades, insistia na atenção especial à caçula. "A Heldy é quem ela é hoje graças a Deus, à minha mãe e à tia Marly, que provou que, por amor, é possível tornar uma pessoa capaz como ela fez", conta Heldijane Cidrao, 26, irmã de Heldy. Heldijane cuida da irmã desde os cinco anos --era chamada pela professora de "pequena grande mãe". Envolveu-se tanto que se casou com o professor de Libras de Heldy, que é surdo, e se tornou intérprete de surdos e surdocegos. "Esse livro me emociona porque ler é como viver tudo de novo. Quando eu tinha seis anos, a tia Marly me colocou no colo e me disse que, quando eu tivesse sede, Heldy também teria e que eu deveria dar água a ela. Quando estivesse com fome, deveria dar algo de comer a Heldy. Hoje tenho uma filha de seis anos e me imagino fazendo tudo que fiz na idade dela." Agora, Heldy tem bastante autonomia --a família só não deixa que saia na rua sozinha ou cozinhe. Frequenta o Instituto de Surdos de Fortaleza para aprimorar seu conhecimento de Libras e faz bijuterias no tempo livre. Algumas das anotações da professora Marly que estão no livro são dirigidas diretamente a Heldy. Seu sonho era que um dia a menina pudesse ler sua própria história. Os primeiros capítulos foram enviados à jovem em braile --ela lê, mas não fluentemente --e o livro todo deve ser lançado nesse formato. HELDY MEU NOME MARIANA VERSOLATO DE SÃO PAULO

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