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12.04.2012

Megaoperação prende 55 ligados ao tráfico de drogas, sendo 41 policiais militares


Rio -  A megaoperação realizada na manhã desta terça-feira na Baixada Fluminense e em outros pontos do Rio já prendeu 55 pessoas, sendo 41 policiais militares. A Operação Purificação visa cumprir 83 mandados de prisão, sendo 65 de PMs e 18 de traficantes e integrantes da quadrilha. Os policiais – à época lotados no 15º BPM (Duque de Caxias), de acordo com investigações, recebiam propina dos bandidos para não coibir atividades criminosas em 13 favelas de Caxias dominadas por facção criminosa. Os mandados de busca e apreensão são cumpridos na casa dos denunciados e em batalhões da PM.
A ação foi desencadeada após um ano de investigações de uma força-tarefa formada pela Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública (SSINTE), pela Polícia Federal, pela Coordenadoria de Inteligência da Polícia Militar (CI/PMERJ) e pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO) do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro. Os acusados foram denunciados pelos crimes de formação de quadrilha armada, tráfico de drogas, associação para o tráfico, corrupção ativa, corrupção passiva e extorsão mediante seqüestro.
Batalhão de Caxias está entre os envolvidos | Foto: Osvaldo Praddo / Agência O Dia
Policiais do batalhão de Caxias são acusados de envolvimento com tráfico | Foto: Osvaldo Praddo / Agência O Dia
De acordo com a denúncia, os PMs não se limitavam apenas em receber “arrego” para deixar de reprimir o tráfico, segundo a força-tarefa. As apurações revelaram que os PMs também seqüestravam bandidos e seus familiares, apreendiam veículos do tráfico exigindo dinheiro para devolução, negociavam armas e realizavam operações oficiais quando o pagamento da propina atrasava.
O principal alvo dos policiais era a favela Vai Quem Quer, mas eles agiam também nas comunidades Beira-Mar; Santuário; Santa Clara; Centenário; Parada Angélica; Jardim Gramacho; Jardim Primavera; Corte Oito; Vila Real; Vila Operário; Parque das Missões e Complexo da Mangueirinha. De acordo com investigações da SSINTE, PF e CI/PMERJ, os policiais militares não tinham um comando único e dividiam-se em 11 células autônomas.
No núcleo do tráfico, Carlos Braz Vitor da Silva, o “Paizão” ou “Fiote”, é chefe do Comando Vermelho nas favelas de Caxias e, de acordo com investigações, mesmo preso na Penitenciária Vicente Piragibe, no Complexo de Bangu, mantém frequentes contatos telefônicos com seus subordinados e continua dando ordens e recebendo informações detalhadas sobre a rotina do tráfico nas favelas, decidindo inclusive sobre os valores a serem pagos no “arrego”.
A denúncia relata que um dos seus homens de confiança é Willian da Silva, “Pit” ou “Cabeça”, elemento de ligação entre a quadrilha e os policiais militares da região, sendo o responsável pelo pagamento das propinas e também da negociação do resgate de homens do bando seqüestrados por policiais, assim como a liberação dos carros apreendidos ilegalmente.
A quadrilha de “Fiote”, segundo a SSINTE, PF e CI/PMERJ e GAECO, além de manter parceria com o tráfico de drogas no Complexo do Lins, Parque União e Favela Nova Holanda, que também estão sendo alvo da Operação Purificação, estendeu seus domínios para fora do Estado do Rio, estabelecendo relações com traficantes do Mato Grosso do Sul, de onde vem parte das drogas vendidas nas favelas de Duque de Caxias.
Outras peças importantes no bando de “Fiote”, de acordo com investigações, são Valdirene Faria Barros, vulgo “Val”, que atua intermediando pagamentos a equipes de policiais em extorsões sofridas por integrantes dos bandos, e Lemuel Santos de Santana, vulgo “Doutor”, que tem a função de contratar advogados para defender traficantes presos e orientar a quadrilha na relação com PMs corruptos. As investigações da SSINTE, PF e CI/PMERJ apontam que o preço da propina flutuava de acordo com a capacidade de venda de drogas pelos bandidos.
Durante as investigações da força-tarefa, foi possível contatar que os policiais militares conheciam bem os bandidos. Foragido da Justiça, Jeferson Ferreira Abrantes, o “Nando” ou “Sorriso”, que atuava no abastecimento das bocas de fumo da comunidade Vai Quem Quer, era alvo constante de extorsões dos PMs, que exigiam pagamento de valores em dinheiro para a manutenção da sua liberdade.
Foi descoberto ainda que, na tentativa de ocultar os seus nomes, os policiais militares criaram apelidos coletivos para as equipes. “Martelo”; “Rio do Ouro”; “Bonde do Chininha”; “Bonde do King Kong”; “Macumba” e “Munição” eram alguns dos codinomes. Para facilitar a comunicação traficantes e PMs também montaram um “dicionário próprio”: “Sintonia” (expressão usada pelos traficantes e policiais para definir o acordo de não interferência nas atividades ilícitas), barcas (Patamos); guerra (repressão ao tráfico de drogas e entorpecentes); “pequenos” (viaturas da marca Logan), entre outros.
Os policiais militares também demonstravam ousadia na hora de negociar armas. Segundo investigações da SSINTE, PF e CI/PMERJ e GAECO, em junho deste ano, o mesmo PM Vagner esconde dentro de uma geladeira de um barraco uma carabina calibre 12, para ser pega por um traficante. Além disso, deixou R$ 300 dentro do congelador como parte de um pagamento. Os policiais também usavam as dependências de Destacamento de Policiamento Ostensivo para cometer crimes, apontaram as investigações.
Os mandados de prisão e de busca e apreensão foram expedidos pela Juíza Daniela Barbosa Assumpção de Souza, da 2ª Vara Criminal de Duque de Caxias. O GAECO também requereu à Justiça o bloqueio integral do dinheiro nas contas correntes de dois denunciados.
A operação conta com a participação da Subsecretaria de Inteligência (Ssinte) da Secretaria de Estado de Segurança (Seseg), Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio de Janeiro, a Coordenadoria de Inteligência da Polícia Militar e a Polícia Federal.
Em 2007, mais de 50 PMs do 15º BPM (Caxias) foram presos durante operação. Eles alertavam traficantes com antecedência sobre operações e negociavam prisões e libertações de bandidos. As investigações foram promovidas pela Corregedoria da PM.

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