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12.04.2012

O fim da infidelidade masculina




Éramos quatro amigos bebendo doses predatórias de cerveja enquanto assistíamos ao futebol. Nesse clima, histórias de conquistas extraconjugais rolavam soltas, narradas com o orgulho sincero da criança que anda de ônibus pela primeira vez sem a companhia dos pais. Mas, de repente, com a voz embargada e feição de eterna expiração, Nicolau, nosso líder, fazia uma confissão. Certa feita uma amante, motivada por um desgosto qualquer, tinha pego o telefone e denunciado o caso para a esposa de Nicolau. Datas. Endereços. Escusas. Tudo concentrado em torpedos de menos de 160 caracteres. Depois do episódio, Nicolau rebolara por meses, piano como um policial na iminência da aposentadoria, até salvar o casamento. E seu conselho – mais cruel que o gol adversário – taxava: a forma mais segura de não ser pego era não trair.
Esse episódio me retornou à mente há um tempo, na saída do cinema. O filme era Argo. Ben Affleck, que fazia um zé ruela qualquer da CIA, consegue retirar de um Irã psicótico e quase anárquico seis diplomatas com a desculpa de que seriam uma equipe de filmagem de um Flash Gordon genérico. Vejam bem. Eram milhares de milicianos xiitas matando pessoas com uma aleatoriedade capaz de fazer o carnaval da Bahia parecer uma sucessão de encontros afetivos absolutamente criteriosos. E o Ben Affleck consegue tirar pela porta da frente um time de vôlei inteiro aludindo a um filme de estética abertamente homoerótica, num país que costuma apedrejar até a morte homens que dão pinta. Daí você pensa: BASEADO EM FATOS REAIS! TÁ NO CARTAZ! ESSE CARA É FODA!
E evoluo: Será que faltava um pouco de Ben Affleck pro Nicolau retornar a nos liderar? Enquanto escrevia o SMS clássico “vc precisa ver esse filme”, minha senhora emenda, num timing tão perfeito que Al Pacino celebraria com um “U-HAAA’”!!! (ou que o Pedro Cardoso pontuaria com uma interjeição maluca com sua boca mole)
“Seria uma boa propaganda se o tal comandante da CIA não tivesse sido pego pulando a cerca outro dia, NÃO ACHA?”. E sorriu, pouco antes de sugerir jantarmos temakis.
Foi aí que a ficha caiu, num impacto ao estilo daquelas bigornas gigantes do Looney Tunes. Foi aí que ultrapassei a consciência do fato para adquirir a sensação em si dos filisteus ao ver Golias tombar. Ou a dos troianos ao verem Heitor esculachado por Aquiles às portas de casa. Ou a do Zagallo lançando um impotente Edmundo aos 30 do 2o tempo na final da Copa de 98. Nós, homens, no sentido de classe, havíamos perdido a guerra dos sexos junto com a cabeça de David Petraeus.
Explico: numa rápida pesquisa no Google, vemos que o treinamento dos agentes da CIA envolve resistência a interrogatórios, técnicas de atuação em diferentes línguas, técnicas de raciocínio rápido e criativo, tudo isso extremado por condições como privação de sono, fome e exaustão física total. São milhares de agentes treinados até o limite, sendo que o maior  deles, o maluco que comandou invasões ao Iraque e ao Afeganistão, o ninja que há décadas dá tapas na cara de qualquer um e sai despercebido, FOI PEGO PULANDO A CERCA.
Se ele foi pego, que chance eu, você ou o coitado do Nicolau temos? Mas não descambe ainda para o escárnio numa típica negação machista. Dilmas, Merkels e Kirchners não estão pra brincadeira. Os sinais do matriarcado são claros. Em 2008, Hilary Clinton disputava a candidatura democrata celebrada por ser uma mulher que soube administrar com elegância os escândalos sexuais do marido. Ela era admirada por ter tomado chifre dentro de uma fina noção de etiqueta. Mas já em 2012, Obama – o mais poderoso de nós – se dirigia ao mundo em pleno discurso de posse para reprovar energicamente as atitudes de Petraeus, dizendo que aquela despretensiosa molhadinha de pé na piscina punha em risco a segurança do país com o maior exército do mundo. Em 2009, Flávia Alessandra usava a novela das oito pra levar milhares de brasileiras a adotar o pole dance como esporte. Mas, em 2012, Dana White anuncia um UFC de mulheres, só pra jogar na nossa cara uma vez por mês que há uma dúzia de lutadoras por aí que pode quebrar no braço 90% da nossa gente.
Nós perdemos. Fato. E elas sabem disso, apontando sempre para as provas da derrocada do nosso Petraeus, tal qual a coroa portuguesa fez ao espalhar um Tiradentes esquartejado por todas as Minas Gerais. O que fazer? Não sei. Talvez seus comentários ajudem. Deve haver alguns, já que vejo mulheres replicando a rodo esse aviso imperativo a seus incautos parceiros. Mas de uma coisa eu sei: nossa chance de impunidade é tão provável quanto a de uma interpretação decente do Ben Affleck.

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