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1.04.2013

Anorexia aos 50 anos

Antes considerada uma doença de adolescentes, a enfermidade começa a atingir mulheres maduras, vítimas também da pressão por um corpo perfeito

Tâmara Menezes

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Estresse, preocupações com a família, com o trabalho e a pressão para continuar linda e magra. É quase impossível para as mulheres maduras escaparem dessa atmosfera atualmente. Agora, esses fatores estão criando uma geração de mulheres de 40, 50 anos, com anorexia. Trata-se de um fenômeno novo, que começa a provocar preocupações em todo o mundo. Caracterizada por um distúrbio que leva o portador a ter uma imagem distorcida do corpo – mesmo magro, acha-se gordo – e pela recusa em se alimentar, a doença costumava ser associada apenas a adolescentes e jovens adultos. “Mas ela começa a aparecer em idades que não tinham registro, como mulheres com mais de 45 anos”, diz o psiquiatra Táki Cordás, coordenador do Ambulatório de Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. “Nessa faixa, elas estão começando a se cuidar mais, muitas vezes depois de uma separação. O corpo volta a ser foco de atenção, e elas fazem mais exercícios e dietas. Isso é maravilhoso, mas é preciso ter preparo psicológico.”
Recentemente, uma pesquisa da Universidade da Carolina do Norte (EUA) deu uma ideia da dimensão do problema. Publicado no “International Journal of Eating Disorders”, o estudo registrou que 70% das mulheres de meia-idade estavam insatisfeitas com seu peso e 3,5% mostraram sintomas da doença. Pela internet, 1.849 americanas com idade média de 59 anos responderam a um questionário sobre autoimagem: 84% se disseram insatisfeitas com a barriga e dois terços consideraram que o peso atrapalha sua vida. Para lidar com isso, optam por restrições alimentares constantes. A insatisfação, em alguns países, é chamada de “Síndrome da Dona de Casa Desesperada”, em referência à série de tevê a cabo “Desperate Housewives”, na qual as personagens eram donas de casa com aparência jovial e vidas supostamente perfeitas. “A pesquisa mostra que distúrbios alimentares e preocupação com a aparência do corpo não podem ser considerados com base na idade”, disse Cynthia Bulik, líder do trabalho. “As autoridades de saúde devem estar alertas de que são questões que podem influenciar o bem-estar físico e psicológico na maturidade também.”
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Nos consultórios, os especialistas se deparam com situações recorrentes. “Há mulheres que tentam competir com as filhas, saem juntas, querem se vestir igual. Têm vergonha da idade real e, para parecerem mais novas, abusam de restrições alimentares radicais e moderadores de apetite e mantêm uma relação compulsiva com a academia”, explica o psiquiatra Cordás. Também falam demais de comida e do próprio peso. “Elas deixam de se alimentar e, quando comem, preferem salada sem carboidrato e proteína”, conta o endocrinologista João Nunes Salles, de São Paulo.
As consequências da enfermidade para a mulher mais velha são graves. “Elas sofrem as mesmas pressões sobre o corpo numa idade em que perder peso é mais difícil”, pondera Salles. No fim das contas, a imagem jovem almejada dá lugar a um envelhecimento ainda mais veloz, impulsionado pela piora na alimentação. A atrofia muscular e o enfraquecimento ósseo se agravam, assim como a perda de massa muscular. A desnutrição também reduz a imunidade contra doenças. Quem sofre com desordens alimentares ainda pode ter a função cognitiva reduzida. Também há mais risco de ter distúrbios metabólicos (como a carência de potássio e de cálcio) e arritmias cardíacas. Já as irregularidades na menstruação, que na adolescência soam como alerta, deixam de ser referência, já que, dos 50 anos em diante, as oscilações no ciclo menstrual são normais.
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Para quem passou dos 50, o prognóstico também é complicado. Os casos costumam estar relacionados a doenças que ocorrem simultaneamente (como depressão e abuso de álcool) e a problemas familiares. A terapia pode ser mais difícil, uma vez que a mulher tem a personalidade já constituída e crenças arraigadas. Com ajuda médica, a solução é tentar mudar a autoimagem, além de oferecer acompanhamento nutricional e, em casos graves, alimentação via sonda.
Fotos: Dimitrios Kambouris; Mark Davis/Getty Images/AFP

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