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1.10.2013

Fábrica de perfumes


A máxima "em casa de ferreiro, o espeto é de pau", não poderia ser mais verdadeira do que para quem trabalha em uma casa de fragrâncias (base dos perfumes). "Eu não posso usar perfume, nem desodorante que tenha cheiro. E preciso fazer a barba na noite anterior por causa da loção pós-barba", conta Diogo Medeiros de Freitas, avaliador de fragrâncias da IFF. A falta de cheiro também chama atenção nos corredores da empresa. Estranho passar por um local com mais de 5 mil frascos de fragrâncias e sentir cheiro de nada (a não ser o seu próprio perfume).
A coisa muda quando caixinhas de papelão entram na sala recheadas de pequenos frascos. Dentro de cada uma estão cheiros incríveis e estranhos, que remetem do frescor de um caule partido de planta, no caso do gálbano, até o cheiro de madeira, meio animalesco, da patchouli.
"Temos mais de cinco mil fragrâncias em nossa biblioteca, mas apenas um quinto delas são realmente usadas no cotidiano", diz Rafael Marano, perfumista que herdou a profissão do pai --responsável pela linha de perfumes da marca "Quem Disse, Berenice?" e o perfume Beyoncé, da Coty, entre outros.
Para se diferenciar, as casas de fragrâncias possuem "ingredientes" exclusivos, guardados a sete chaves, que funcionam como uma trava antipirataria. Por ser a única a produzir determinada substância, os perfumes dessa empresa nunca conseguirão ser copiados totalmente.
No caso da Natura, esses ingredientes são chamados de óleos essenciais. Ao todo são 14, descobertos na flora brasileira. "Cada uma delas levou até dois anos para ser desenvolvida", diz Danielle Barbizan, avaliadora olfativa da Natura. O trabalho que começou no final dos anos 90, com a reunião bibliográfica das plantas, passou pelo desenvolvimento de maneiras para "retirar"o cheiro delas, até chegar aos óleos, que, misturados entre si e com outras substâncias, dão origem aos perfumes da marca.
QUERO SER PERFUMISTA
Não existe faculdade de perfumista, as próprias casas formam os seus profissionais, muitas vezes químicos ou engenheiros químicos. Mas os profissionais juram que é importante ter um dom: o nariz.
O treinamento consiste em educar o nariz a reconhecer cheiros. E com o tempo saber misturar as melhores fragrâncias, que resultarão em bons perfumes. Engenheiro químico, Marano, da IFF, passou cinco anos em treinamento (no Brasil e exterior) até ser consagrado perfumista --mesmo sendo filho de um.
Ao lado dos perfumistas trabalham os avaliadores, que testam os produtos criados pelos primeiros.
E nem tudo são (ou tem cheiro) de flores. Freitas conta que sentiu dores de cabeça até o corpo se acostumar com o cheira-cheira de fragrâncias.
Além disso, os avaliadores também trabalham na área de desodorantes e precisam testar não apenas o aroma, mas a sua performance. E, sim, ele cheira a axila alheia depois de um dia inteiro de trabalho (do dono da axila).
Esses profissionais também fazem a ponte entre as criações dos perfumistas e os desejos dos clientes. Ele traduz o conceito que as marcas pedem em notas olfativas e passa isso ao criador.
Curiosidades perfumadas:
TRÊS EM UM
Dentro de um perfume há três cheiros: saída, corpo e fundo, que mudam conforme o passar do tempo do produto em contato com a pele
PODEROSAS
Quatro casas de fragrância comandam a perfumaria mundial: Givaudan, Firmenich, IFF e Symrise
ENCICLOPÉDIA
O site OSMOZ lançou sua versão em português há menos de um ano. Funciona como um enciclopédia de perfumes. É legal para encontrar produtos da mesma família olfativa, uma boa maneira de descobrir novidades a partir de frascos já conhecidos.
ESTRANHOS
As flores sempre vem a mente quando se fala em perfume, mas matérias-primas estranhas também são usadas, como o âmbar (originário do regurgito de uma substância secretada no estômago da baleia cachalote), o óleo de castor (proveniente da secreção de glândulas prepuciais do animal) e o Civete (secreção glandular odorífera do gato selvagem).
PIRATAS
Um aparelho chamado cromatógrafo "cheira" determinada substância e, a partir de um software que contém a fórmula milhares de substâncias, ele mostra a receita de determinado perfume. Assim é que muitos deles são copiados e, muitas vezes, falsificados. "As grandes casas possuem óleos essenciais exclusivos que não estão disponíveis nesses softwares e funcionam como "travas" antipirataria, mas, para o público leigo, muitas vezes o cheiro deles é imperceptível", conta Diogo Medeiros de Freitas, da IFF.
Heloísa Negrão Heloísa Negrão

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